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REVISÃO: Como está a Guerra na Ucrânia hoje?

Entenda as consequências do conflito para o mundo - e o papel delicado que o Brasil está tentando assumir para mediar negociações de paz

6 out 2023 - 13h58

Devido à distância geográfica - e aos muitos problemas particulares que assolam o nosso próprio país - às vezes passamos semanas sem olhar para notícias da Guerra da Ucrânia. Mas a verdade é que o conflito segue com toda força. Desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022, houve avanços e recuos dos dois lados. O fato é que, infelizmente até agora, não há final à vista, e os combates podem se prolongar.

Lula encontra o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para uma reunião bilateral, em Nova York (20/9/2023): poucos pontos em comum
Lula encontra o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para uma reunião bilateral, em Nova York (20/9/2023): poucos pontos em comum
Foto: Ricardo Stuckert/ Presidência da República/Agência Brasil / Guia do Estudante

Veja a seguir um breve resumo do que vem se passando nesse país europeu, e entenda as consequências que a Guerra da Ucrânia seguem acarretando para o resto do mundo

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A Guerra até aqui

Os primeiros dias de guerra foram de bombardeio intenso da Rússia contra a Ucrânia e avanço por terra das tropas russas em uma frente ampla, com foco na capital do país, Kiev. O objetivo russo era tomar a capital. O mundo começou a tomar contato com as imagens terríveis de um sem número de pessoas mortas, destruição em larga escala de edifícios, residências, escolas e ruas e longas correntes de seres humanos em fuga desesperada, muitas vezes gravemente feridos.

A resistência ucraniana impediu a tomada da capital nos primeiros dias, até a chegada de ajuda militar maciça dos Estados Unidos e dos países da União Europeia.

Passadas algumas semanas, os russos desistiram de tomar Kiev, e a guerra se concentrou no leste e sul da Ucrânia, próximo à fronteira russa. No final de setembro de 2022, a Rússia controlava quatro regiões do leste e sul da Ucrânia, e anunciou a anexação delas ao seu território ( tal como ocorreu com a Crimeia em 2014): o total é uma área equivalente a cerca de 20% da Ucrânia. Avaliando ter menos soldados do que o necessário para ganhar a guerra, a Rússia decidiu também convocar 320 mil reservistas, o que ampliou as tensões internas no país - houve protestos contra a guerra na Rússia, sobretudo de jovens, com forte repressão e prisões.

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Moradores em frente a prédio residencial parcialmente destruído, em Izium, no leste da Ucrânia, em 25 de dezembro de 2022: cenário catastrófico
Foto: Kaniuka Ruslan/ Ukrinform/ Future Publishing/Getty Images / Guia do Estudante

De seu lado, a Ucrânia ampliava o seu poder bélico. Havia recebido mísseis de longo alcance, com os quais passou a atingir áreas sob controle russo. Em outubro de 2022, ucranianos explodiram parte da longa ponte que une o território russo à Crimeia. A resposta russa foram ataques contra a infraestrutura de energia ucraniana, afetando seriamente o cotidiano do país. A Ucrânia passou a usar drones para atingir até o território russo, mas os meses se estenderam acumulando mortes e destruição, sem mudanças significativas no equilíbrio de forças.

Enquanto a permanência da guerra destrói parte importante da Ucrânia, o esforço bélico enfraquece a Rússia. Um sintoma foi o motim do grupo Wagner, composto por milhares de mercenários, que entraram na guerra a serviço da Rússia. Mas, no final de junho de 2023, decidiram marchar na direção da capital russa, para confrontar o governo. A rebelião foi controlada, mas demonstrou uma fragilidade inesperada do regime de Putin.

Em discurso na ONU, em setembro de 2023, com Putin ausente (com mandato de prisão do Tribunal Penal Internacional, desde março), Zelenski insistiu em uma maior ajuda militar e humanitária para o seu país. Acabou saindo dos EUA com muito menos do que esperava, pois o alto custo da guerra começa a incomodar a opinião pública em diversos países.

Impacto global

O prolongamento da guerra na Ucrânia provoca diversas consequências em escala mundial. A mais preocupante é a ameaça de um conflito nuclear. Putin faz ameaças veladas de uso de seu arsenal atômico desde antes do início da guerra. Zelenski, por sua vez, lamentou publicamente que seu país tenha aberto mão das ogivas nucleares quando a URSS se desfez, e declara que a extensão do conflito pode reabrir a questão sobre a possibilidade de a Ucrânia se dotar de armas atômicas. Espera-se que tudo não passe de retórica, mas a cresce o nervosismo nas relações internacionais.

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A indústria de armamentos, por seu lado, está em alta no mundo, com um expressivo aumento de produção e vendas pelas empresas do setor . A Ucrânia recebeu, diretamente, dezenas de bilhões de dólares de ajuda em armamentos desde o início da guerra, e há um movimento geral de elevação dos investimentos bélicos nos países europeus e asiáticos, além dos EUA.

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A elevação dos investimentos nos orçamentos militares, por seu lado, provoca a compressão dos gastos públicos nas demais áreas, causando impacto nas áreas sociais.

Por suas características, o conflito provoca uma grande alteração no mercado de energia. A Rússia é uma das maiores produtoras mundiais de petróleo e gás natural, e a principal fornecedora para a Europa até o início dos combates. Em 2023, os Estados Unidos desbancaram a Rússia e passaram a ser os maiores fornecedores de petróleo para a Europa, enquanto os russos ampliam suas vendas de petróleo e gás para a China e a Índia. Na economia europeia, a Ucrânia é importante produtora de cereais, e sua ausência amplia a escassez nos mercados.

Como provoca impacto nos setores de energia e produção agrícola, a guerra leva a um aumento nos preços de produtos básicos no mercado mundial e é uma das fontes de inflação em escala global.

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E o papel do Brasil?

Enquanto a Otan - os EUA e os países europeus - adota uma posição de apoio incondicional ao governo ucraniano, o Brasil busca uma posição de equidistância entre Ucrânia e Rússia, tentando se colocar como possível mediador numa negociação de paz.

Nos fóruns internacionais, a posição do governo Lula foi, desde sua posse, condenar a guerra, sem criticar diretamente a Rússia, que iniciou o conflito, e sem concordar em enviar qualquer ajuda à Ucrânia. O presidente equiparou as responsabilidades dos dois lados pela deflagração da guerra, e criticou os EUA, a Otan e a União Europeia por "estimularem" o conflito. Por várias vezes, Lula sofreu forte pressão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para se somar ao pacote de apoio aos ucranianos, mas recusou.

Em abril de 2023, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, veio à América Latina e ao Brasil para buscar uma aproximação. Em maio, em reunião internacional do G-7 (grupo dos países mais ricos do mundo), no Japão, Zelenski acabou não aparecendo numa reunião com Lula. As relações estavam estremecidas.

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Após bastante trabalho diplomático, Lula e Zelenski reuniram-se em Nova York, onde estavam para a Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2023. O objetivo da reunião, a princípio, era apenas o de conversar em busca de pontos de convergência. Ambos concordam, por exemplo, com a ideia de uma reforma do Conselho de Segurança da ONU .

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Lula reforçou a posição brasileira de participar de qualquer iniciativa que leve a um acordo de paz. O Brasil defende um cessar-fogo imediato para abrir negociações, mas Zelenski exige a retirada prévia das tropas russas da Ucrânia antes de qualquer conversação. De qualquer forma, os líderes posaram para uma foto e abriram um canal de contato. Ao que parece, as negociações de paz ainda estão longe.

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