O ministro da Educação Milton Ribeiro voltou a negar nesta quarta-feira, 17, que houve tentativa do governo federal de controlar ideologicamente as questões do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Ele defendeu que as mudanças na prova foram feitas "de forma colegiada" e afirmou que a presença de um perito da Polícia Federal na sala em que a avaliação é desenvolvida foi para "gestão de logística".
"Ora, se existe uma instituição que ajudou a sanear o Brasil em termos de ética, num passado recente, foi a Polícia Federal. Ela merece toda a nossa homenagem e respeito", afirmou o ministro durante o lançamento do Pacto Nacional Pela Educação na Câmara dos Deputados. "Quando aumentamos o espaço físico na sala que é reservada, o que fez o presidente para se assegurar que o lugar tinha todas as condições? Ele convidou sim, solicitou a Polícia Federal, que o perito tem a competência para examinar o local. Foi gestão de logística, ver se tinha algum equipamento ou câmera de segurança."
O Enem é realizado por cerca de 3,1 milhões de candidatos ao ingresso no ensino superior. É o principal meio de acesso às universidades do Brasil. As provas são realizados anualmente.
Ribeiro alegou também que não participa "diretamente da gestão das questões" e que elas são desenvolvidas "em uma sala secreta", onde "só algumas pessoas podem ter acesso". "O policial federal não foi lá olhar questão que devia ou não. A seleção das questões é feita por comissão e diretoria própria, de maneira colegiada. Toda questão é discutida para ser incluída ou não. Não veio ordem de cima", afirmou.
Segundo o ministro, a informação de que algumas questões teriam sido retiradas da prova "só saiu de lá porque talvez quebraram um pacto de sigilo entre eles". "Como vocês sabem? Porque alguém lá de dentro fez o comentário. Não gostei dessa questão interna do Inep ter 'saído pra fora'", disse.
O presidente Jair Bolsonaro, entretanto, afirmou há apenas dois dias que as questões do Enem começam a "ter a cara do governo" e não as "absurdas do passado". Nesta quarta-feira, ele voltou a afirmar que o exame era "ativismo político e comportamental" e com "temas esquisitos".
O Estadão revelou nesta quarta-feira que 24 questões foram retiradas após uma "leitura crítica", sob o argumento de serem "sensíveis". Depois, 13 delas voltaram a ser incluídas e 11 foram vetadas.
Milton Ribeiro também minimizou a exoneração coletiva de 37 servidores do Inep na última semana, que acusam a gestão atual do presidente Danilo Dupas - o quarto em três anos - de desmonte do órgão, assédio e desconsideração de aspectos técnicos na tomada de decisões. Segundo o ministro, o que pesou foi um "fator econômico" e os funcionários teriam saído por não concordarem com a nova "governança".
"A parte mais doída do ser humano é o bolso. Se estivessem só interessados na educação, após o Enem teriam me procurado e feito um movimento", alegou, afirmando também que os servidores "tentaram colocar em risco" a execução da prova.