Dentre os muitos e-mails que chegam do público do Calcule Mais com dúvidas sobre matemática, o professor Vandeir Vioti dos Santos, de São Paulo, guarda com carinho a mensagem de Débora Paiva da Costa que agradecia a ajuda oferecida. Deficiente visual, ela faz parte da audiência fiel dos vídeos publicados no site.
Débora faz faculdade de Direito e estuda para concursos públicos em casa. Apesar da limitação na visão, ela tem preferência pelas vídeo-aulas e encontrou uma vantagem no Calcule Mais: o simples fato de Vandeir descrever tudo o que está na tela. "A gente fica menos deficiente porque consegue acompanhar o vídeo como uma pessoa que não tem deficiência nenhuma", disse.
Para estudar na internet, Débora utiliza programas que fazem a leitura da tela do computador, mas nenhum deles consegue ler imagens. Na matemática, há outras dificuldades, como por exemplo, os cálculos com potenciação que o software não lê corretamente.
Débora conta que tem muitos amigos deficientes visuais que também estudam por vídeo-aula. Ela vê ainda outra vantagem no Calcule Mais, que é o retorno de Vandeir aos estudantes, o que nem sempre ocorre em outras páginas de vídeo-aulas, diz.
Vandeir é estudante de engenharia e começou, em 2011, a produzir vídeo-aulas. O site nasceu da vontade de ajudar pessoas que queriam estudar mas não tinham condições de pagar por um curso preparatório. A primeira versão de seu site, que leva o seu nome no endereço eletrônico, começou a ganhar audiência de concurseiros e estudantes que iam prestar vestibular ou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No ano passado, Vandeir firmou uma parceria com uma empresa de design e reformulou toda a página, que virou o Calcule Mais.
O site possui um arquivo de 30 mil provas e gabaritos e teve 110 mil visitas só em fevereiro de 2014. Vandeir é o único professor do Calcule Mais e faz todos os vídeos no mesmo formato desde o início, escrevendo na lousa enquanto explica. O acesso ao Calcule Mais é gratuito e não é necessário fazer nenhum cadastro para acessar o material disponibilizado.
Ajuda que parte de estudantes
O caso de Débora mostra que a internet pode ser parceira do aprendizado. Sites, blogs e canais de vídeo-aulas são cada vez mais comuns na rede. Criados por professores e estudantes, com conteúdos de revisão do ensino médio, idiomas ou matérias preparatórias para concursos e para o Enem, o universo de aulas online atende um número crescente de usuários, como é o caso também do Me Salva.net, que começou com vídeos publicados em um blog pelo estudante de engenharia Miguel Andorffy.
"Para ajudar os alunos do cursinho onde eu dava aula, fiz uns vídeos e coloquei no ar, sem projeto nenhum", conta. Mas foi durante o período em que coordenou o curso pré-vestibular do Centro dos Estudantes Universitários de Engenharia (Ceue), oferecido para jovens de baixa renda e todo ministrado pelos estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que Miguel resolveu formar uma sociedade e apostar nas vídeo-aulas.
Com a meta de ser aquele "amigo que te salva" quando bate uma dúvida na hora de estudar, o site oferece vídeo-aulas com o conteúdo do Ensino Médio e do começo do Ensino Superior. São oito professores, todos estudantes da graduação ou pós-graduação, que ensinam matemática, física, química, biologia, história, cálculo, bioquímica, engenharia e conteúdo específico para o Enem. Até agora, já foram mais de 12 milhões aulas vistas.
O site está em processo de atualização para uma nova versão que trará novidades para os estudantes em 2014. Além de mais aulas e da ampliação dos conteúdos para contemplar toda a matéria do Ensino Médio, a nova plataforma vai sugerir roteiros de estudos e analisar os pontos fracos e fortes do aluno. O site é de uso gratuito e não requer cadastro prévio para acesso aos vídeos. Até o fim do ano, devem ser lançados alguns cursos pagos, mas a maior parte dos conteúdos do site vai continuar aberto, garante Miguel.
Matemática embalada pelo funk
As ciências exatas são uma dificuldade para muitos estudantes. Rafael Procópio, professor de uma escola municipal do Rio de Janeiro, resolveu unir o gosto pela matemática que tem desde criança com o interesse pela produção audiovisual. Rafael leciona desde 2007 e disse que, antes de começar a fazer os vídeos, estava pensando em desistir da profissão, até que foi transferido para uma outra escola, onde encontrou nos novos alunos o incentivo que precisava para começar a fazer os vídeos.
Um ano depois da primeira postagem, as visualizações cresceram, mas, segundo o professor, foi no ano passado que o canal "bombou". Os acessos aumentaram quando ele começou a fazer vídeo-aulas com paródias, como aconteceu com o Bonde das Matemáticas, uma brincadeira para ensinar com humor a partir do hit Quadradinho de 8, do Bonde das Maravilhas.
O vídeo teve mais de 6,5 milhões de acessos. A visibilidade levou Rafael a ser um dos escolhidos para participar de um curso de aperfeiçoamento oferecido pelo YouTube, onde aprendeu novas técnicas para fazer suas aulas. As vídeo-aulas são produzidas com a participação dos alunos, que sempre pedem os conteúdos nesse formato em sala de aula. "Eles prestam mais atenção no vídeo do que na aula tradicional. Na aula normal, o aluno conversa, se dispersa, e com o vídeo, não", destaca Rafael, que, além do Matemática Rio, voltado para o conteúdo do ensino fundamental, ainda tem outros canais de vídeos como o Ciências Gerais e o Minuto Matemática, e os que são traduzidos por ele para o português, como o Minuto da Física, Minuto da Terra e o Minuto Ciência.
Apesar do tempo exigido para se dedicar a tantos projetos, o professor diz que, no momento, não pensa em abandonar a sala de aula. "Aprendo muito com meus alunos", justifica. As produções do professor podem ser acessadas gratuitamente no blog e no canal Matemática Rio, no YouTube, ou no site Educopédia, da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro.
Inglês de graça em vídeos de três minutos
O Você aprende agora.com oferece vídeo-aulas de inglês gratuitas. O professor Felipe Dib, de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, lecionava em uma universidade até que sofreu um acidente de carro em 2011."Eu sobrevivi e resolvi fazer alguma coisa pra agradecer, então comecei a fazer as vídeo-aulas e postar no YouTube", conta. Hoje, Felipe se dedica exclusivamente ao site, que tem 13 mil alunos inscritos e uma média de 8 mil acessos por dia.
O curso é baseado no conteúdo definido pela Universidade de Cambridge como o que é mais utilizado na conversação em língua inglesa. "Ensina o que é útil", resume Felipe. O tempo para conclusão do curso depende do aluno, mas, como as aulas são curtas - três minutos cada -, com 10 minutos todos os dias dá para ficar fluente em dois anos, garante o professor. Sua recomendação é que os alunos assistam cada vídeo três vezes para absorver melhor os conteúdos.
O estudante se cadastra e começa a obter pontos com as atividades realizadas no site, como assistir a vídeos e responder questões. Os pontos podem ser trocados por pacotes de exercícios e servem também para motivar o aluno a continuar seus estudos. As aulas são gratuitas, mas os pacotes de exercícios são pagos, com valores que vão de R$ 49 a R$ 389. Felipe explica que quem compra os pacotes recebe o certificado. "Se o aluno não pode pagar, ele pode acompanhar as aulas, mandar e-mails, mensagens, ligar… Eu respondo todas as dúvidas que me mandam”, explica.