“Sonho na gaveta”, diz estudante que não conseguiu o Fies

Jovens relataram ao Terra ter passado por dificuldades para tentar - sem sucesso - financiamento do governo para concluir os estudos

5 mai 2015 - 16h16
(atualizado às 16h51)

Em 2004, Sandra Oliveira foi obrigada a deixar a faculdade que cursava (e tinha uma bolsa de estudos) por problemas de saúde. Ela ficou alguns anos afastada e agora, no início de 2015, resolveu se matricular em outra instituição de ensino para concluir o tão sonhado curso de Administração. Como o salário de auxiliar administrativa não seria suficiente para todas as mensalidades de R$ 990, decidiu pagar as primeiras e recorrer ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) para quitar as próximas. Ela passou os últimos meses tentando se inscrever, até que na última semana recebeu a notícia: não existem mais vagas.

“Vou tentar de tudo para não parar de estudar, mas está difícil. Não estou nem conseguindo dormir. Estou vendo meu sonho de me formar ficar na gaveta para sempre. Eu estava contando com isso. O que mais me deixa triste é saber que gente que nem precisa do financiamento conseguiu”, disse ela - que estuda na Faculdade de Administração Milton Campos, em Nova Lima, Minas Gerais - ao Terra.

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A jovem contou que tentou se inscrever no site do programa desde o dia em que as inscrições foram abertas, em 23 de fevereiro deste ano. No início, o sistema demonstrava lentidão e não carregava as páginas. Em seguida, começou a apresentar diferentes erros.

Até 2014, praticamente todos que pleiteavam vagas conseguiam acesso ao financiamento. Neste ano, começaram a ser aplicados novos critérios - que, de acordo com os estudantes, criaram obstáculos no processo
Até 2014, praticamente todos que pleiteavam vagas conseguiam acesso ao financiamento. Neste ano, começaram a ser aplicados novos critérios - que, de acordo com os estudantes, criaram obstáculos no processo
Foto: Luiz Claudio Barbosa / Futura Press

“Eu tentava de manhã, à tarde, à noite, de madrugada e nada. Até meus familiares tentaram me ajudar. Quando consegui chegar a um dos últimos passos, apareceu uma mensagem de ‘limite esgotado’. Entrei em contato com a faculdade e me disseram que não havia limite, que era para eu continuar tentando. Liguei no Ministério da Educação e disseram a mesma coisa. Fiquei nessa até 28 de abril”, afirmou.

Nesta segunda-feira, o ministro Renato Janine Ribeiro confirmou que esgotou a verba de 2015 para novos contratos do fundo. Segundo ele, a abertura de uma segunda edição do programa no segundo semestre também não está garantida.

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“Estou em semana de provas. Assim que passar, vou entrar com um processo no Ministério Público. Tirei ‘print’ de várias telas do computador com os erros do site do Fies. Eu não tenho condições de pagar, já estou atrasando mensalidades. Contava com o Fies. Sempre vi no site da faculdade que eles tinham e em nenhum momento falaram que seria limitado. O que eu perdi de noites tentando não é brincadeira. No mês passado, para piorar, fui mandada embora do serviço. Não sei o que vou fazer. Se eu não conseguir mesmo, vou ter que parar”, finalizou.

Jovânia Nascimento é outra estudante que também enfrentou problemas parecidos. Ela conseguiu uma bolsa de 50% do Programa Universidade para Todos (Prouni) para entrar em Veterinária na Univiçosa, também em Minas Gerais, no início deste ano. Mesmo com a ajuda, não conseguiria pagar a mensalidade restante de R$ 643 e foi atrás do financiamento.

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“Meu pai gastou as únicas economias que tínhamos e paguei 3 meses na esperança de receber o dinheiro de volta pelo Fies. Acontece que, para fazer a inscrição, devia constar no site que tenho Prouni, e essa atualização demorou 2 meses para aparecer. Com essa demora, não consegui fazer a inscrição”, declarou. “Agora não tenho mais como pagar. Acho que até vou ter que pegar um empréstimo no banco, porque, se eu largar agora, ainda tenho que pagar multa à faculdade. Imagino quanta gente deve estar também em situação difícil”, completou. 

Sobre o Fies

De acordo com o site oficial, o Fundo de Financiamento Estudantil é um programa do Ministério da Educação destinado à concessão de financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores presenciais não gratuitos e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo MEC. Ele permite ao aluno cursar a graduação e, depois de formado, pagar as mensalidades a uma taxa de juros de 3,4% ao ano. 

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Para estudantes com renda familiar mensal bruta de até 10 salários mínimos, o percentual de financiamento pode ser de 50% a 100%. Para os com renda maior de 10 e menor ou igual a 15 salários mínimos, de 50% a 75%. Para os com renda maior de 15 e menor ou igual a 20 salários mínimos, de 50%. 

Caso a contratação do financiamento aconteça no decorrer do semestre, a instituição de ensino ainda deverá ressarcir ao estudante financiado o valor referente aos repasses recebidos de parcelas da semestralidade já pagas.

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Até 2014, praticamente todos que pleiteavam vagas em cursos com nota 3 ou mais em avaliação federal (que vai de 1 a 5) conseguiam acesso ao financiamento. Neste ano, com a crise orçamentária, começaram a ser aplicados novos critérios - que, de acordo com os estudantes, criaram uma série de obstáculos no processo. 

No primeiro semestre de 2015, o Fies teve 252.442 novos contratos com o processo concluído pelo site oficial. No total, o sistema recebeu 500 mil pedidos, demanda maior que no ano passado, quando foram 480 mil. Segundo o MEC, o montante destinado para novos contratos neste ano era de R$ 2,5 bilhões.

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Fonte: Terra
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