A jornada extensa está presente na rotina de grande parte das mães brasileiras. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 1,3 milhão de mães são universitárias no País.
Uma delas é a trancista Evellyn Azevedo, 26, que se desdobra para abraçar as várias atividades do seu dia a dia, sem ficar de fora da rotina das filhas Mariah, 6, e Olívia, 3.
"Eu morro de medo de ficar doente, porque, se eu ficar, atrapalha toda a organização da minha rotina e a delas também. Eu falo que tenho jornada tripla, porque é faculdade, é trabalho, as crianças e às vezes meus sentimentos", conta, em entrevista ao Terra.
Hoje trancista e estudante de psicologia, Evellyn descobriu a gravidez da primeira filha quando estava no quarto semestre do curso de fisioterapia, sua primeira graduação e profissão com que sonhava desde a infância. Ela tinha 20 anos, havia acabo de sair de um emprego estável, e tentava uma recolocação para não depender do limitado seguro-desemprego.
A notícia da gravidez disputou atenção - e comoção - com a oportunidade de emprego que tinha acabado de receber, numa grande empresa, onde poderia escolher o setor em que gostaria de trabalhar.
"Estava super feliz com a oportunidade de emprego que eu tive. No mesmo dia, eu fui fazer um teste de gravidez e foi uma decepção. Todos os planos que eu tinha foram por água abaixo", lembra.
Nasceu uma mãe, mas e a profissional?
Com a notícia, Evellyn decidiu trancar a faculdade e passou a morar com o parceiro e pai das filhas, prometendo a si mesma retomar os estudos quando a pequena Mariah fizesse um ano de idade. Dito e feito: assim que passou o primeiro aniversário da filha, ela começou a trabalhar como cuidadora de idosos.
O objetivo era retomar o curso de fisioterapia, mas o vínculo com a profissão já não existia mais. Evellyn. então, decidiu estudar enfermagem.
"Saí dessa empresa de cuidadora de idosos e fui trabalhar em uma loja de roupas como vendedora. Quando eu estava prestes a completar um ano, suspeitei de outra gravidez. Eu pedi as contas dessa loja, porque eu saía de casa de manhã, enquanto minha filha estava dormindo, então eu não via minha filha. Ficava com ela só no domingo, que era meu dia de folga. Quando vi que existia a possibilidade de ter outro filho e que iria conviver pouco, decidi pedir as contas", explica.
De volta à sala de aula
Hoje Evellyn Azevedo voltou a estudar, mas escolheu o curso de psicologia. De volta à vida acadêmica três anos após o nascimento da segunda filha, precisou abrir mão de algumas atividades para dar conta dessas prioridades. Os treinos na academia que ela amava, por exemplo, ficaram de lado.
"Antes de começar a fazer faculdade, já pensei em um horário em que eu pudesse estudar e que minhas filhas estivessem também estudando. Então, eu decidi estudar de manhã, porque nesse horário a mente está mais vazia", detalha.
Todos os dias ela acorda uma hora mais cedo para tomar banho e se arrumar, antes de mandar as filhas para escola. Só então Evellyn vai para a faculdade.
À tarde, mais uma correria. Como sua renda vem do trabalho no salão especializado em tranças afro, que mantém com a irmã, em São Paulo, suas mãos e cabeça não param.
"Volto da faculdade, vou trabalhar, aí chega uma da escola, mais tarde a outra. É bem corrido. Sempre estou preocupada com alguma coisa: ou é uma conta para pagar ou é almoço/janta para fazer. Quando você é mãe e tem muitos afazeres, é como se a mente não parasse nunca", desabafa.
Mesmo com o sentimento de que não consegue ser 100% em tudo, Evellyn diz que não se arrepende de maternar. Ela, inclusive, acredita que foi mãe no momento certo. "E tinha que ser elas", diz.
"Quando nós três chegamos em casa, eu faço todo esse momento que estamos juntos ser especial. Nesse pouco tempo, tento cultivar boas lembranças, para que elas lembrem quando crescer", acrescenta.