Há 200 anos, em 7 de setembro de 1822, o país passava por uma série de mudanças que culminariam na separação de Portugal e, embora D.Pedro seja uma figura central para esse fato, é importante ter em mente que existia todo um contexto que favorecia a decisão.
Na segunda metade do século 18, boa parte das nações era impactada pelos ideais iluministas, que influenciariam eventos como a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e a independência dos Estados Unidos. A ideia de colônia e metrópole já não se encaixava no cenário.
Já em termos locais, a relação entre a elite brasileira e Portugal estava desgastada, as exportações do país estavam baixas e a crise econômica e a pobreza se espalhavam.
Foi nesse contexto que grupos começaram a se mobilizar em prol da independência que redundou nas chamadas revoltas emancipacionistas. Separamos algumas informações importantes sobre esses movimentos, que merecem a sua atenção. Confira:
Inconfidência Mineira (1789)
A elite socioeconômica de Minas Gerais estava insatisfeita com os impostos cobrados pela Coroa Portuguesa sobre o ouro e acreditava que a capitania conseguiria se autossustentar sem o apoio de Portugal, por conta da próspera atividade mineradora na região. Por isso, influenciados por ideais iluministas, grupos começaram a se organizar em prol do separatismo. Embora o movimento tenha sido liderado pela elite, pessoas das camadas médias urbanas também participaram, como militares, estudantes e comerciantes.
Mas a Inconfidência, ou Conjuração, Mineira não saiu da teoria. Um dos inconfidentes, Joaquim Silvério dos Reis, traiu o grupo e denunciou o movimento para o governador de Minas Gerais. Os envolvidos foram presos e um dos integrantes mais famosos se tornou um mártir: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Ele foi enforcado em praça pública e teve seu corpo esquartejado e espalhado pela estrada de Vila Rica para servir como um "recado" para quem desejasse se rebelar contra o domínio de Portugal.
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Conjuração Baiana (1798)
Enquanto a Inconfidência Mineira foi um movimento liderado principalmente pela elite, a Conjuração Baiana teve um caráter mais popular. O descontentamento das camadas mais pobres, como alfaiates, era intenso por conta da falta de alimentos e, consequentemente, da elevação dos preços e da fome. Apesar disso, o movimento também conhecido como Revolta dos Alfaiates, também contou com a participação da elite, que estava insatisfeita com o controle da metrópole que prejudicava suas atividades econômicas.
Além do Iluminismo, a revolta se inspirou na Revolução Francesa e na Revolução Haitiana. Diferentemente da Inconfidência Mineira, os integrantes do movimento chegaram a defender o fim da escravidão.
Eles começaram a distribuir panfletos por Salvador que incitavam a população contra o domínio de Portugal, o que acendeu um alerta para as autoridades da região. As investigações causaram a prisão de diversos integrantes do grupo, a revolta foi fortemente reprimida e, assim como o movimento mineiro, não saiu da parte conspiratória. Alguns integrantes foram decapitados e partes de seus corpos foram expostas em diferentes locais de Salvador.
A rigidez nas punições mostrou o quanto as autoridades temiam um movimento com o envolvimento da população negra e uma possível rebelião de escravos, como acontecia no Haiti.
+ Qual é a relação entre a Conjurações Baiana e a Inconfidência Mineira?
Revolução Pernambucana (1817)
Entre as revoltas, essa foi a única das três que conseguiu sair da teoria e os integrantes efetivamente tomaram o poder e instauraram um Governo Provisório.
A população de Pernambuco estava insatisfeita com o domínio de Portugal na região, mas a situação piorou com a chegada da família real. Em 1808, após invasões napoleônicas, a corte portuguesa se mudou para o Brasil. Além do aumento dos impostos para manter os luxos da realeza, muitos portugueses foram nomeados a cargos públicos importantes, o que prejudicou as elites locais.
O estopim foi a morte do militar português Manoel Joaquim Barbosa de Castro que recebeu ordens do governador local para prender o capitão José de Barros Lima por participar de uma conspiração. Mas Barros Lima reagiu à voz de prisão, resultando na morte de Castro.
Com isso, o movimento ganhou força em Recife e os revolucionários tomaram o poder. O governador da capitania se escondeu em um forte local, Forte do Brum, mas, depois, foi para o Rio de Janeiro. Os integrantes do movimento instalaram, então, um Governo Provisório que proclamou a República na Capitania de Pernambuco, decretou a liberdade de imprensa e credo, instituiu o princípio dos três poderes e aumentou o soldo (remuneração) dos soldados. Vale destacar que, por contar com a participação de grandes fazendeiros, a revolução optou por manter o sistema escravocrata.
A repressão ordenada por D, João VI, o então rei de Portugal, foi violenta e cerca de dois meses depois a revolução chegou ao fim.