“Meu filho terminou a faculdade de Administração antes dos 21. Ele ganhou de mim nessa. Nesse caso, ele foi meu grande exemplo”, diz Debbie Time, que tem 49 anos e terminou, em abril de 2014, após cinco anos, a graduação online e gratuita, também em Administração na Universidade do Povo (UoPeople, na sigla em inglês).
Debbie tentou cursar uma faculdade convencional, com aulas presenciais, em 1983, logo após concluir o ensino médio, nos Estados Unidos. Entretanto, após três meses de estudo, viu-se forçada a desistir porque não conseguiu adaptar sua rotina de trabalho em tempo integral ao cronograma da faculdade escolhida. “Apesar disso, eu sempre quis receber uma educação formal”, relembra Debbie.
Após 26 anos longe dos livros e da rotina acadêmica, ela começou a procurar por graduações online, mas percebeu que a questão financeira seria um grande entrave. “Eu pesquisei na internet e encontrei uma reportagem sobre a Universidade do Povo e, rapidamente, decidi que este era o caminho que eu tomaria”, contou em entrevista ao Terra por e-mail.
A instituição foi fundada em 2009 por Shai Reshef com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e oferece cursos nas áreas de Ciências da Computação, Administração e oferece aulas de reforço nas áreas de humanas e exatas durante a graduação. Reshef trabalhou por mais de 20 anos no setor de ensino com fins lucrativos e implantou na Europa a primeira universidade online.
“Ao fazer isso, eu testemunhei o quão poderoso esse tipo de aprendizagem pode ser. Tivemos estudantes de todo o mundo. Eles ficavam em casas, continuaram seus trabalhos e foram capazes de obter uma educação de alta qualidade.” Após anos de trabalho no lado lucrativo do ramo, o atual presidente da universidade decidiu que era o momento de retornar à sociedade parte do dinheiro conquistado ao longo da vida.
“Quando olhei em volta, percebi que todos os recursos que fizeram o programa online que eu tinha estabelecido na Europa estavam, agora, disponíveis gratuitamente: a tecnologia de código aberto e recursos gratuitos. Naquele momento, percebi que tudo o que eu realmente precisava fazer era agrupar todos esses recursos. A Universidade do Povo é o resultado disso”, afirma o presidente da instituição, em entrevista ao Terra.
Apesar de estar localizada em Pasadena, nos Estados Unidos, todas as aulas e serviços oferecidos, como biblioteca, por exemplo, são online. O próprio aluno organiza sua rotina de estudo, estudantes e professores participam de fóruns para discutir o conteúdo visto na semana e tirar dúvidas, as lições podem ser tomadas a qualquer momento, mas as tarefas devem ser entregues dentro do prazo.
Atualmente, mais de 2 mil estudantes de 148 países estão matriculados na universidade. O perfil dos alunos é diversificado: eles têm entre 18 e 66 anos, sendo a maioria, cerca de 33%, do continente africano. Segundo a assessoria de imprensa, até o momento, não há nenhum brasileiro matriculado na instituição, e os interessados precisam ter 18 anos ou mais, proficiência em inglês e comprovar conclusão do ensino médio para se candidatar a uma vaga. As cópias dos diplomas e dos históricos devem ser autenticadas e transcritas para o inglês, mais informações podem ser acessadas no site da instituição.
Para os brasileiros interessados, é importante pensar na revaliação do diploma após a conclusão do curso estrangeiro. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Educação (MEC), a revalidação de diplomas de graduação expedidos por instituições de ensino superior estrangeiras cabe a universidades públicas brasileiras que ministrem cursos de graduação reconhecidos na mesma área de conhecimento ou em área afim. O órgão informa que, no processo de revalidação, para conferir a equivalência do curso feito no exterior com o oferecido no Brasil, os candidatos podem ter que realizar exames de complementação de estudos.
A Universidade do Povo não cobra taxa de matrícula dos alunos, mas é requerido o pagamento de um valor que varia de US$ 10 a US$ 50, dependendo do Produto Interno Bruto (PIB) do país do estudante, para cobrir os custos de processamento de cada solicitação de matrícula, bem como para a iniciativa se manter sustentável, afirma o presidente do local.
“Como instituição acadêmica sem fins lucrativos dedicada à abertura do acesso ao ensino superior, conseguimos cortar quase todo o custo. Tudo o que pedimos aos nossos alunos para cobrir é o custo de processamento de exames em US$ 100 por semestre. Para os alunos que não são capazes de pagar esse valor, há ajuda financeira disponível”, diz Reshef.
Debbie faz parte dessa porcentagem de estudantes que não pagou as taxas acadêmicas durante o curso e ressalta a importância da experiência vivida. “Honestamente, foi a melhor educação que eu poderia desejar. A Universidade do Povo tornou possível estudar com flexibilidade de horários e ter contato com pessoas de outras partes do mundo”, diz a administradora que hoje trabalha em uma companhia de seguro de saúde em Nova York.
“De acordo com a UNESCO, em 2025, mais de 98 milhões de pessoas no mundo não serão capaz de cursar o ensino superior, porque não haverá vagas disponíveis. A Universidade do Povo é um modelo que mostra como servir todas essas pessoas e nossa missão é garantir que essas 98 milhões de pessoas sejam atendidas”, afirma Reshef.