A redação dissertativa argumentativa é aquela que apresenta argumentos e expõe ideias acerca de um tema. Esse tipo de texto é cobrado em diversos vestibulares, incluindo Fuvest (ligada à USP) e Enem 2024, assim como em concursos públicos e processos seletivos, para avaliar diferentes capacidades dos candidatos.
No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2024), também é necessário que a redação dissertativa-argumentativa apresente uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento do texto. Essa proposta deve respeitar os direitos humanos.
Como deve ser a redação dissertativa-argumentativa?
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), nessa redação, o candidato deve defender um ponto de vista – uma opinião a respeito do tema proposto –, apoiada em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão, formando uma unidade textual.
É importante que o candidato sempre faça o uso da norma-padrão da língua portuguesa no texto.
As principais características da redação dissertativa-argumentativa são:
• Presença do seu ponto de vista – em geral, no primeiro parágrafo do texto;
• Desenvolvimento do texto com argumentos que comprovem a tese levantada;
• Conclusão em forma de síntese ou com propostas de solução para os problemas apresentados;
• Por mais que o texto seja baseado em seu ponto de vista, deve ser escrito em terceira pessoa.
Como começar a redação
O começo da redação dissertativa-argumentativa deve conter a apresentação do tema e a explicitação da tese, ou seja, o posicionamento do candidato acerca do assunto proposto.
Como fazer o desenvolvimento
Nos parágrafos intermediários, o candidato deve aprofundar os argumentos apresentados na introdução, de forma a embasar seu ponto de vista. No desenvolvimento, o candidato pode utilizar dados relevantes, fatos históricos, repertório cultural e argumentação.
Como concluir uma redação dissertativa-argumentativa
A conclusão pode ser feita por síntese, na qual o candidato retoma resumidamente os argumentos e reforça a validade da tese apresentada. Outra possibilidade é a conclusão com propostas de solução, em que é necessário retomar os problemas apresentados na argumentação e propor intervenções para abordar a problemática discutida.
Neste caso, as soluções sugeridas precisam ser detalhadas, destacando pontos como: quem será o responsável por promover a solução, quais ações são necessárias para combater o problema, como as melhorias ou mudanças propostas serão implementadas e quais são os objetivos das intervenções apontadas.
Redação dissertativa-argumentativa pronta
Confira um exemplo de redação dissertativa-argumentativa nota mil no Enem, conforme divulgado pelo Inep:
Redação de Carolina Mendes Pereira
Em sua canção “Pela Internet”, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de informações disponibilizadas pelas plataformas digitais para seus usuários. No entanto, com o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos por empresas de aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura atual apta a moldar os hábitos e a informatividade dos usuários. Desse modo, tal manipulação do comportamento de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de enfrentamento.
Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado é capaz de limitar a própria cidadania do indivíduo. Acerca disso, é pertinente trazer o discurso do filósofo Jürgen Habermas, no qual ele conceitua a ação comunicativa: esta consiste na capacidade de uma pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha melhor para a comunidade, demandando ampla informatividade prévia. Assim, sabendo que a cidadania consiste na luta pelo bem-estar social, caso os sujeitos não possuam um pleno conhecimento da realidade na qual estão inseridos e de como seu próximo pode desfrutar do bem comum – já que suas fontes de informação estão direcionadas –, eles serão incapazes de assumir plena defesa pelo coletivo. Logo, a manipulação do comportamento não pode ser aceita em nome do combate, também, ao individualismo e do zelo pelo bem grupal.
Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet vai de encontro à concepção do indivíduo pós-moderno. Isso porque, de acordo com o filósofo pós-estruturalista Stuart-Hall, o sujeito inserido na pós-modernidade é dotado de múltiplas identidades. Sendo assim, as preferências e ideias das pessoas estão em constante interação, o que pode ser limitado pela prévia seleção de informações, comerciais, produtos, entre outros. Por fim, seria negligente não notar como a tentativa de tais algoritmos de criar universos culturais adequados a um gosto de seu usuário criam uma falsa sensação de livrearbítrio e tolhe os múltiplos interesses e identidades que um sujeito poderia assumir.
Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar essa problemática. Para tanto, as instituições escolares são responsáveis pela educação digital e emancipação de seus alunos, com o intuito de deixá-los cientes dos mecanismos utilizados pelas novas tecnologias de comunicação e informação e torná-los mais críticos. Isso pode ser feito pela abordagem da temática, desde o ensino fundamental – uma vez que as gerações estão, cada vez mais cedo, imersas na realidade das novas tecnologias – , de maneira lúdica e adaptada à faixa etária, contando com a capacitação prévia dos professores acerca dos novos meios comunicativos. Por meio, também, de palestras com profissionais das áreas da informática que expliquem como os alunos poderão ampliar seu meio de informações e demonstrem como lidar com tais seletividades, haverá um caminho traçado para uma sociedade emancipada.