Para os estudantes brasileiros, a vida universitária nos Estados Unidos, com direito a líderes de torcida e fraternidades, está fadada a ficar apenas nos filmes de Hollywood. O que muitos não sabem é que qualquer pessoa pode prestar o ‘Enem americano’ e tentar uma vaga no país.
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No Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mobilizou milhões de estudantes entre os dias 3 e 10 de novembro. Na prova, os candidatos têm cerca de cinco horas em cada dia para responder questões de Linguagens, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Matemática, além da redação -- o tema, em 2024, foi "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil".
Nos Estados Unidos, uma prova similar ao Enem é o Scholastic Assessment Test (SAT). Como o objeto é avaliar os conhecimentos e habilidades de raciocínio dos vestibulandos, a prova tem apenas duas matérias: Inglês e Matemática.
Parece fácil, mas a professora Ana Claudia Gomes, do colégio bilíngue Brazilian International School (BIS), em São Paulo, garante que não é. Ao Terra, a educadora explicou as diferenças entre os dois exames.
São 'só' duas matérias
O Enem brasileiro é uma ‘maratona’. Os estudantes levam várias canetas, sacolas recheadas de lanche e garrafas d’água enormes para suportar a densa prova --realizada no final da primavera, quando as temperaturas estão mais altas.
O tempo para o candidato é de cerca de cinco horas para responder 90 questões em cada domingo de aplicação, totalizando 180 questões. Na prova nacional, as disciplinas cobradas são Ciências da Natureza (Biologia, Química e Física), Ciências Humanas (História, Geografia, Filosofia e Sociologia), Linguagens (Português, Literatura, Língua Estrangeira e Artes), Matemática e Redação.
Já no ‘Enem americano’, os candidatos precisam focar em algumas competências. “Você não vai sofrer como você sofre para o vestibular aqui, que tem tudo que é matéria. É bem puxado, você tem que saber tudo para poder competir no vestibular aqui, mas lá fora são só duas áreas do conhecimento”, explica a professora.
Sim, o SAT só exige duas disciplinas do candidato: inglês e matemática. Para a matéria de exatas, a prova ainda permite o uso de calculadora, ao contrário do Enem. A aplicação também é mais curta, dura pouco mais de duas horas, e é realizada em datas programadas, até seis vezes por ano, presencialmente.
Para inglês, o candidato tem 1 hora e 4 minutos para responder 54 questões que avaliam as capacidades de compreensão de textos, vocabulário, análise crítica e revisão. Já em Matemática, o estudante tem 1 hora e 10 minutos para responder 44 questões que abordam Álgebra, Geometria e Trigonometria, Matemática Avançada, resolução de problemas e análise de dados.
Para Ana Claudia, o exame é muito mais prático. "Essas duas matérias são a base de tudo. Todas as outras disciplinas vêm dessas duas áreas. Então, se você domina isso, na faculdade você vai aprender as outras e a prova fica mais fácil", destaca.
Cada parte do SAT é avaliada em uma escala de 200 a 800 pontos, resultando em uma pontuação final que varia de 400 a 1.600 pontos. Geralmente, a pontuação média dos alunos é de 1.050. Os que alcançam 1.350 pontos estão entre os 10% melhores, aumentando as chances de aprovação nas universidades mais prestigiadas.
Como estudar para o SAT?
Segundo a professora, uma boa estratégia para se preparar para o exame americano é por meio da resolução de provas anteriores. “É prática. É estudar não pelo conteúdo, mas estudar pelos testes anteriores. Tem muitos recursos na internet, como aplicativos que ajudam a pegar provas passadas. Vai resolvendo questão, vendo porque errou, cronometrando…”, diz Ana Claudia.
A estratégia da repetição é a melhor para quem quer ir bem no exame, já que a organização não muda os conteúdos abordados com frequência. "Só vão mexer um pouquinho nas perguntas, mas não tem novidade, não. Eles avisam quando vão mudar o formato", considera a professora.
Nas instituições mais competitivas
O estudante brasileiro se prepara o ano inteiro para uma das datas mais importantes de sua trajetória estudantil: os dois dias de Enem. Cursinhos preparatórios, aulas on-line e até ‘corujões’ em salas de pré-vestibular são estratégias usadas para otimizar os resultados do vestibulando no exame.
Isso porque é através da nota do Enem uma das formas que os candidatos conseguem participar de programas educacionais como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
No ‘Enem americano’ não é bem assim. O SAT não é obrigatório nos Estados Unidos, mas a apresentação da nota pode aumentar as chances de cavar uma vaga em universidades, inclusive com bolsas de estudos. “Tem faculdade que te aceita sem o SAT. Mas depois da pandemia, principalmente quando a escola é muito competitiva ou quando você está competindo por bolsa de estudo, eles pedem”, explica Ana Claudia.
O que a professora cita como "faculdades competitivas" que exigem o SAT são algumas das mais famosas e bem conceituadas do mundo, como Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT).
“Essas faculdades pedem o Sat principalmente para aluno estrangeiro, porque ela não consegue identificar que escola é boa ou não fora do país. Tem outras que pedem para todo mundo, porque elas são muito competitivas, com uma taxa de aceitação muito baixa, algumas que só 6% dos alunos que aplicam entram”, argumenta.
Mas também tem aquelas que não aceitam o exame. "Tem até as faculdades que não acreditam nesse tipo de teste, são as chamadas Test blind, ou seja, elas são ‘cegas’ para esse tipo de prova. Mesmo que você mande, ela não olha. Mas são poucas", destaca.
Estou no Brasil, como faço o 'Enem americano'?
Se deu vontade de tentar estudar nos Estados Unidos e quer fazer o SAT, mas não pode ir ao país estrangeiro para a aplicação, tem como fazer o teste no Brasil. Em território brasileiro, a instituição responsável pela prova é a ONG College Board.
São 40 centros de aplicação no Brasil e, para prestar o exame, só é necessário pagar uma taxa de inscrição em dólar e comprovar o domínio de inglês. O teste também vale por dois anos, contando o dia da aplicação da prova.
*Colaborou Marcela Coelho