Em algum país a eutanásia é permitida por lei? Veja casos
Um dos países mais liberais do mundo, a Holanda foi a primeira nação a autorizar a prática da eutanásia, com uma lei aprovada em abril de 2002. Dez anos depois, apenas Bélgica e Luxemburgo criaram legislações para impedir a condenação dos médicos responsáveis por garantir a "prática da boa morte" a pacientes em estado terminal ou vítimas de doenças incuráveis. Na Suíça, uma prática semelhante é permitida - o suicídio assistido, que atrai centenas de pessoas de outros países no que passou a ser chamado de "turismo da morte".
"A diferença entre as duas definições é que no suicídio assistido o médico ou profissional da saúde disponibiliza uma dose letal de medicamento ao paciente, que executa a própria morte. Já na eutanásia, o médico é responsável pelo procedimento, que pode ser feito por meio de um remédio de via oral, uma injeção, entre outras formas de acelerar a morte", afirma a professora de biodireito e membro da Comissão de Bioética da OAB-SP, Adriana Freitas Dabos Maluf. Segundo ela, as legislações dos países que permitem a eutanásia apresentam algumas restrições: a morte só pode ser provocada em pacientes maiores de 18 anos, que estejam em estágio terminal ou sofram de um mal sem possibilidade de recuperação.
No Brasil, a polêmica da eutanásia ganhou força este ano com o trabalho de uma comissão de juristas nomeada pelo Senado para apresentar um anteprojeto do novo Código Penal. Embora a lei de 1940 não trate especificamente da eutanásia, a prática atualmente é enquadrada como homicídio comum, com penas que poderiam chegar a 20 anos de prisão. A ideia dos juristas é atualizar a lei, incluindo penas mais brandas para a prática e regularizando a ortotanásia, que, embora não conste em nenhuma lei especifica, é aceita no País.
De acordo com o professor de bioética na Faculdade de Medicina da USP, Reinaldo Ayer, a ortotanásia é definida como uma ajuda dada pelo médico ao processo natural da morte. "São casos que acontecem diariamente na rotina de um hospital, quando o paciente já chegou ao limite da capacidade de tratamento. Consiste em deixar de fazer uma cirurgia, uma nova seção de quimioterapia, ou até de reanimar em caso de uma parada cardíaca para não prolongar o sofrimento nesses casos terminais", explica.
Segundo ele, o Código de Ética Médica no Brasil considera legal a prática da ortotanásia. "O código proíbe a eutanásia, que é classificada como uma forma de supressão da vida. No entanto, ele diz que em situações de enfermidade grave ou incurável, respeitada a vontade do paciente e da família, suspender o tratamento para seguir o processo natural da morte é uma atitude correta do médico".
De acordo com Adriana Maluf, o Código Médico é apenas um manual de conduta e que não tem valor de uma lei. "Vários criminalistas e magistrados entendem hoje que a ortotanásia não é classificada como omissão de socorro, portanto, não é crime. Embora seja uma prática cotidiana, precisamos ter uma lei que regulamente o tema para evitar conflitos", afirma ao destacar que esse tema é mais um exemplo do quanto os assuntos ligados à ciência médica estão mais avançados do que o Direito.
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Batalha judicial para garantir a morte
Embora no Brasil não tenha sido registrado oficialmente um caso de eutanásia, em diversos países onde a prática não é permitida por uma lei nacional, o direito de morrer tem causado batalhas judiciais. É o caso da americana Terry Schiavo, que entrou em coma profundo depois de sofrer um ataque cardíaco aos 26 anos, em 1990. Após uma longa disputa nos tribunais, seu marido conseguiu fazer com que ela fosse morta por supressão de comida e água. Após 13 dias sem receber hidratação e alimentação, ela morreu no dia 31 de março de 2005.
Outro caso polêmico aconteceu com a italiana Eluana Englaro, que passou 17 anos em estado vegetativo e morreu em fevereiro de 2009, aos 38 anos, após a Suprema Corte do país autorizar a eutanásia. Antes de suspender a alimentação de Eluana, vítima de um acidente de carro em 1992, a família teve de atravessar uma longa e ruidosa batalha na Justiça - e a oposição do então premiê Silvio Berlusconi e do Vaticano.
Apesar de toda controvérsia provocada nos últimos anos em relação à legalidade da eutanásia, o professor de bioética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), José Roberto Goldim, explica que era comum na Antiguidade os médicos interromperem o tratamento dos pacientes que não tinham cura. "A discussão sobre a eutanásia vem desde os gregos", afirma.
Segundo a professora de biodireito, Adriana Freitas Dabos Maluf, na Grécia Antiga se privilegiava a definição socrática da "vida com qualidade". "Isso significava que a vida deveria levar em conta a inserção cotidiana, incluindo a vida saudável do paciente, de sua família e da coletividade. Quando isso não era mais possível, a eutanásia era uma prática aceita", afirma. Segundo ela, esse pensamento também era praticado pelo Direito Romano. "A mudança nesse princípio veio com as práticas cristãs". Do ponto de vista da Igreja Católica, por exemplo, a eutanásia é vista como um "roubo" do direito à vida humana. Segundo a jurista, apesar de toda a polêmica, o que não pode acontecer atualmente é deixar de discutir e legislar sobre o tema.
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O Supremo Tribunal britânico rejeitou derrubar a lei da eutanásia para permitir que os médicos acabassem legalmente com a vida de um homem que sofre de síndrome de encarceramento. Tony Nicklinson sofreu um derrame em 2005 que o deixou incapaz de falar ou se mover do pescoço para baixo
Foto: AP
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Imagem mostra a americana Terri Schiavo em 2003. Após uma longa disputa nos tribunais, seu marido conseguiu fazer com que ela fosse morta por supressão de comida e água em 2005, tornando um dos casos mais conhecidos e polêmicos de eutanásia no mundo
Foto: Getty Images
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A família de Terri era contra a eutanásia. A americana entrou em coma profundo depois de sofrer um ataque cardíaco aos 26 anos, em 1990
Foto: Getty Images
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Após 13 dias sem receber hidratação e alimentação, ela morreu no dia 31 de março de 2005. Na eutanásia, o médico é responsável por garantir a morte do paciente, o que pode ser feito por drogas letais, com morte instantânea, ou até mesmo pela supressão de alimentos, como no caso de Terri
Foto: Getty Images
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Muitas pessoas criticaram o procedimento de retirar os alimentos e a comida. Em países em que a legislação permite a eutanásia (Holanda, Bélgica e Luxemburgo), a prática é feita a partir de drogas letais
Foto: Getty Images
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Enquanto nos Estados Unidos a prática da eutanásia em Terri Schiavo causou grande comoção, na Suíça clínicas especializadas praticam o suicídio assistido. Pessoas de diversas partes do mundo viajam até o país no que ficou chamado de turismo da morte
Foto: Getty Images
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Poucos dias antes da morte de Schiavo, manifestantes protestavam com um crucifixo em frente ao hospital em que ela estava internada, na Flórida. No Brasil, a polêmica da eutanásia ganhou força em 2012 com o trabalho de uma comissão de juristas nomeada pelo Senado para apresentar um anteprojeto do novo Código Penal, que prevê a regularização da ortotanásia
Foto: Getty Images
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De acordo com o professor de bioética na Faculdade de Medicina da USP, Reinaldo Ayer, a ortotanásia é definida como uma ajuda dada pelo médico ao processo natural da morte, como deixar de fazer uma cirurgia, uma nova seção de quimioterapia, ou até de reanimar em caso de uma parada cardíaca os pacientes em estágio terminal
Foto: Getty Images
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Apesar de toda controvérsia provocada pelo caso Schiavo, o professor de bioética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), José Roberto Goldim, explica que a prática da eutanásia existe há milhares de anos. Na Grécia Antiga os médicos interrompiam o tratamento dos pacientes acometidos por doenças incuráveis
Foto: Getty Images
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O drama de Terri Schiavo começou em 1990 após ela sofrer uma parada cardíaca, devido à perda de potássio associada à bulimia. Ela permaneceu, pelo menos, cinco minutos sem fluxo sanguíneo cerebral o que provocou o estado vegetativo. Na foto de março de 2012, jovem segura cartaz para protestar contra o 'homicídio'
Foto: Getty Images
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Apesar da contrariedade dos pais de Schiavo, o seu marido alegou várias vezes que a ela havia manifestado, quando ainda estava consciente, que não desejaria permanecer em um estado vegetativo e conseguiu convencer a Justiça americana. A foto de março de 2005 mostra um avião usado para criticar a decisão de permitir a morte
Foto: Getty Images
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No dia 25 de março de 2005, americana segurava cartaz em uma vigília em frente ao hospital em que Terri estava internada
Foto: Getty Images
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Poucos dias antes da morte de Terri, os pais da americana, Mary Schindler e Bob Schindler, agradeceram ao Papa Bento XVI pelo apoio do Vaticano à sua fracassada campanha para manter a filha viva. A família entergou um retrato emoldurado de Terri ao pontífice no dia 18 de março de 2005
Foto: Getty Images
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A irmã de Terri, Suzanne Vitadamo, falou à imprensa na companhia do pai, Bob Schindler, e do irmão, Bobby Schindler Jr, logo após ser confirmada a morte da americana, no dia 31 de março de 2005
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Imagem mostra a lápide de Terri em um cemitério de Clearwater, na Flórida. A frase 'eu mantive minha promessa' (em tradução livre) foi escrita por solicitação do marido Michael, que defendeu que havia prometido à mulher que não a manteria viva por meios artificiais
Foto: Getty Images
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Na França, o caso de uma ex-professora de 52 anos causou polêmica e comoção em 2008. Chantal Sébire, sofria de um tumor degenerativo na cavidade nasal, uma doença rara e sem cura, que provocava 'dores atrozes', segundo ela relatou ao pedir autorização do governo para ser submetida a uma injeção letal, prática proibida na França
Foto: AFP
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Após ter seu pedido para morrer com a ajuda de um médico negado pela Justiça da França, Chantal se suicidou em março de 2008
Foto: AFP
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Uma investigação foi aberta logo após a morte para tentar determinar se alguém havia ajudado a francesa se matar, mas as investigações não deram nenhum resultado. Chantal foi encontrada sem vida em sua residência no dia 19 de março de 2008
Foto: AFP
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O caso da ex-professora causou muita polêmica na França. Uma comissão foi formada pelo governo para analisar a possibilidade de se permitir a eutanásia no País, mas a prática continua sendo crime atualmente
Foto: AFP
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Imagem divulgada em 2008 mostra a ex-professora antes do tumor maligno que deformou seu rosto e que lhe causava muita dor
Foto: AFP
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Página de jornal italiano mostra a foto de Piergiogio Welby seguida da palavra 'excomungado' durante seu funeral em 24 de dezembro de 2006. Tetraplégico desde 1997 devido a uma distrofia muscular progressiva, Welby chegou a pedir na Justiça o direito à eutanásia, o que foi negado
Foto: AFP
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Após o pedido ser negado, o médico do italiano desligou os aparelhos que lhe mantinham vivo. Mario Riccio foi processado por homicídio, mas posteriormente inocentado pela Justiça. O caso teve grande repercussão no país e a Igreja Católica chegou a recusar fazer o enterro religioso de Welby com a justificativa de que ele havia se afastado da doutrina católica ao querer a eutanásia
Foto: AFP
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O nome de Eluana Englaro, que sofreu um acidente de trânsito em 1992 após sair de uma festa, também virou centro de um grande debate na Itália sobre eutanásia e expôs divergências entre a Suprema Corte, que permitiu sua morte, e o governo do País, que tentou impedir o avanço do processo
Foto: AFP
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Foto de arquivo mostra Eluana antes do acidente que a deixou em estado vegetativo. A italiana morreu aos 38 anos em fevereiro de 2009 após ter a alimentação e a hidratação artificial cortadas, como tinha sido autorizado pela Suprema Corte da Itália a pedido da família
Foto: AFP
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Após anos de disputa, o pai da italiana, Beppino Englaro, conseguiu a autorização da Justiça para interromper a alimentação que a mantinha viva. A decisão causou indignação de religiosos e até do então primeiro-minsitro, Silvio Berlusconi
Foto: AFP
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Após a morte, o pai de Eluana foi investigado sob a hipótese de homicídio voluntário. Outras 13 pessoas eram acusadas, entre elas o anestesista Amato De Monte. Pouco tempo depois, o caso foi encerrado e ninguém foi punido
Foto: AFP
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Antes da morte da jovem, o Vaticano ameaçou de excomunhão da Igreja Católica quem apoiasse a eutanásia da italiana