MANAUS - A adoção de medidas preventivas e o receio de estudantes marcaram o primeiro dia de retorno às aulas presenciais nas escolas da rede estadual de ensino em Manaus nesta segunda-feira, 10. Ao todo, 123 escolas do Ensino Médio retomaram as aulas seguindo protocolo da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) com lotação das salas limitada a 50% da capacidade. Segundo a Secretaria de Educação e Desporto do Estado (Seduc-Am), 110 mil alunos retornaram às salas de aulas de forma gradativa.
As turmas foram divididas em blocos A e B, frequentando as escolas de maneira intercalada. Às segundas e quartas-feiras, o bloco A assiste às aulas presenciais e, às terças e quintas-feiras, será a vez do bloco B. Às sextas-feiras serão destinadas a professores para planejamento de conteúdo.
De acordo com a Seduc-Am, foram realizadas aferição de temperatura, higienização dos sapatos e das mãos, além da distribuição de máscaras nas unidades de ensino. Nas salas de aulas, os estudantes sentam em carteiras sinalizadas com distância de um metro de meio. O protocolo de distanciamento é obrigatório em todas as dependências da escola, inclusive nos banheiros.
Apesar dos cuidados prometidos pelo governo estadual, o retorno ainda é visto com desconfiança por alunos, professores e especialistas.
O estudante do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Dom Pedro II - no Centro de Manaus -, Luís Felipe Pedrosa, de 19 anos, diz que preferia não ter voltado à sala de aula. "Acho que o momento ainda é delicado, mas tive que voltar à escola porque é obrigatório. Não parece uma aula normal, todo mundo distante e os professores orientavam os alunos a se afastar também", disse.
Estudante do 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Sólon de Lucena, na zona centro-sul de Manaus, Lanverly Nogueira dos Santos, de 17 anos, afirmou temer que a pandemia se alastre com o retorno das aulas. "Tenho medo deste convívio nas escolas. Podem ter novas contaminações. Por outro lado, eu também queria voltar logo porque eu já estava muito tempo em casa", ressaltou.
Pais de alunos também se mostraram preocupados com a volta às aulas. É o caso da comerciária Inês da Silva Gomes, de 44, que tem uma filha matriculada no 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Manuel Severiano Nunes, na zona centro-oeste da Capital. "Eu preferiria que as aulas voltassem apenas no próximo ano para maior segurança dos estudantes. Atualmente, está tendo aulas online e esta modalidade é muito boa. Mesmo com os cuidados, tem o risco de contaminação no transporte público. Tudo isto deveria ter sido avaliado", observou.
Para o professor aposentado do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Mena Barreto França, a atual situação da pandemia no Estado não garante o retorno seguro às salas de aulas. "Estou falando do ponto de visto científico. O próprio protocolo da Seduc é muito flexível e não inclui a testagem sistemática de alunos e profissionais de educação. Daí aparecem outras complicações, como alunos que moram em casas sem separação de compartimentos, fora o transporte coletivo. Por fim, não deveria haver possibilidade de retorno a curto e médio prazo. O ideal seria esperar até dezembro; as universidades estão fazendo isto", afirmou.
No dia 3 de agosto, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas (Sinteam) ingressou com uma ação na Justiça Estadual para tentar impedir o retorno das aulas presenciais, mas o pedido foi negado. A entidade promete recorrer da decisão.
Para a presidente do Sinteam, Ana Cristina Rodrigues, as escolas da rede estadual não têm estrutura para retorno seguro das atividades presenciais. "A única coisa que encontramos foram marcações com adesivo no chão. Quem garante que um adesivo colado vai fazer com que as pessoas mantenham o distanciamento necessário? Há unidades que não têm janelas nas salas de aula impedindo a ventilação, circulação e renovação do ar. Há turmas que, mesmo divididas por blocos, continuam lotadas com 28 alunos", disse.
Rodrigues enfatizou que os professores receberam apenas uma máscara e que, em alguns locais, ainda não chegaram termômetro, álcoolr tapete sanitizante. "Só há duas pias para atender, em média, 300 estudantes. Como vai ser feita a higienização das mãos na entrada das escolas mantendo o distanciamento de 1 metro entre as pessoas? Vão fazer filas do lado de fora?", questionou. "E os refeitórios? Os mesões utilizados não permitem distância. Sem falar que não tem teste para alunos e nem trabalhadores. Quem vai garantir nossa saúde e nossa vida caso haja contaminação? Temos uma série de preocupações e muitos colegas nos procuram com o mesmo receio".
A coordenadora do Programa de Aceleração de Desenvolvimento Educacional do Amazonas (Padeam), Kuka Chaves, garante que a Seduc do Amazonas adotou todos os cuidados para o devido retorno. "Somos a primeira rede pública estadual que retorna às suas atividades. A pasta esteve atenta aos reparos necessários nas instalações hidrossanitárias, aquisição de EPIs e revitalização da escola para que pudéssemos ter uma segurança no retorno dos estudantes do Ensino Médio", afirmou.
De acordo com a pasta, a volta às aulas está baseada no Plano de Retorno às Atividades Presenciais, que estipulou protocolos com orientações específicas a cada comunidade escolar.
Segundo a secretaria, o Governo do Amazonas investiu R$ 10 milhões em adequação de estruturas das escolas e aquisição de equipamentos para prevenção e combate ao novo coronavírus no ambiente escolar.
Casos no Amazonas
No domingo, 9, A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) divulgou boletim confirmando mais 522 casos da doença no Estado. Conforme o boletim, foram registrados mais quatro óbitos pela doença no domingo, elevando para 3.359 o total de mortes. Na Capital, de acordo com dados da Prefeitura de Manaus de sábado, 8, foram registrados 25 sepultamentos e três óbitos domiciliares.
Dos 106.950 casos confirmados no Amazonas até este domingo (9), 37.579 são de Manaus (35,14%) e 69.371 do interior do Estado (64,86%).