Para a maioria dos estudantes brasileiros, julho é sinônimo de férias escolares. Com exceção de algumas cidades, como Salvador e Natal, que tiveram seus recessos de inverno entre o final de junho e início de julho, o fim do mês representa a volta à rotina de estudos. Deixar as brincadeiras, os jogos, o tempo a mais de sono, a disponibilidade para encontrar amigos e familiares pode ser difícil, tanto para as crianças da Educação Infantil quanto para os adolescentes do Ensino Médio. Confira, a seguir, dicas para ajudar na readaptação nos diferentes níveis.
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Educação Infantil
A neurocientista e autora dos livros Neurociência e os Transtornos da Aprendizagem (Wak, 2011) e Fundamentos Biológicos da Educação (Wak, 2005), Marta Relvas, explica que o descanso é importante para os pequenos, mas não é preciso abandonar a disciplina nas férias. Muitas vezes, a volta às aulas pode ser difícil, pois a criança percebe que terá que dividir brinquedos e obedecer as regras da escola. “Os pais precisam passar para os filhos que a vida não é só férias”, afirma.
É interessante que a disciplina e a rotina de estudos comecem a ser formadas desde a Educação Infantil. Uma dica para facilitar a readaptação é, cerca de cinco dias antes de retomar as aulas, começar a organizar o material escolar, falar sobre o assunto com a criança, regrar o tempo de brincadeiras e o sono.
Marta também lembra que a escola tem papel importante na readaptação: “É preciso ter atividades que sejam motivadoras e lúdicas, para que a criança queira voltar. Costumo dizer que os professores são agentes responsáveis por despertar a neurotrofina nos estudantes, substância da novidade e motivação”.
A saudade da família também afeta os alunos menores. Para lidar com esta situação, Denise Tinoco, pedagoga e professora de pedagogia da Universidade Estácio de Sá, sugere que, nas primeiras semanas depois das férias, a escola faça algumas atividades que envolvam a presença de algum familiar ou que convidem os pequenos a relembrar e falar sobre os momentos agradáveis que tiveram durante o recesso.
Ensino Fundamental
Segundo Marta, os estudantes do Ensino Fundamental são os que têm mais resistência a voltar. Nessa fase, eles são inquietos, gostam de brincadeiras ao ar livre, jogos eletrônicos e já acessam a internet. A sala de aula significa que eles terão que se afastar um pouco do mundo digital e de outras atividades que gostam de fazer. Uma dica para os pais é, alguns dias antes da volta às aulas, começar a controlar o acesso à internet e aos jogos eletrônicos, fazendo com que ele lembre que logo terá que reservar um tempo para os estudos novamente.
“Os pais devem ficar um pouco mais de fora, mas observando atentamente, para que os filhos tenham mais autonomia e responsabilidade”, afirma Marta. Ela explica que um mural ou agenda, no qual o aluno coloca os dias de provas, horários de estudo e atividades extraclasse, pode ajudar na organização escolar e no retorno às aulas. “Ele precisa se sentir acolhido e desejado. Fazer jogos fora da sala de aula e deixar a criança se expressar em atividades podem ser estratégias interessantes na primeira semana de aula”, afirma Denise.
Ensino Médio
Em geral, o jovem do Ensino Médio, principalmente o que está no 3º ano, volta das férias de inverno motivado. Muitos nem param de estudar durante o período de recesso, pois o objetivo é se formar e passar em provas como a do vestibular e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Para Denise, uma ótima iniciativa da escola para motivar e acolher esses alunos é fazer os chamados “aulões” de revisão com dinâmicas de integração. A dica é mesclar aprendizado com a leveza da brincadeira, pois eles tendem a estar com uma grande carga de ansiedade. Outra ideia é levar música para as aulas, com canções relacionadas à disciplina, para ajudar no aprendizado dos alunos.
Para os outros anos do Ensino Médio, que não têm essa motivação tão grande para voltar às aulas, o diálogo com os pais é fundamental para que o retorno não seja tão difícil. Mostrar as responsabilidades e oportunidades que eles podem ter ao estudar é um papel importante dos familiares. Marta sugere que a escola ofereça, no retorno, um ciclo de palestras sobre a escolha da profissão e sentimentos, deixando também um espaço para ouvir o jovem.
Acolhimento e readaptação
As aulas no Colégio Positivo - Jardim Ambiental, de Curitiba, voltaram no dia 22 de julho. Com alunos da Educação Infantil até o Ensino Médio, a direção e professores estão acostumados às dificuldades que podem aparecer na volta do recesso. A pedagoga e gestora do Ensino Fundamental II, Maria Fernanda Suss, concorda que a escola tem um papel importante em acolher os alunos no retorno das férias e facilitar a readaptação. Ela explica que o mais notável nas crianças da Educação Infantil é a falta que sentem dos familiares. “Os professores têm que fazer atividades lúdicas e dar muito carinho, até que eles se adaptem novamente”, diz.
No Colégio, os estudantes do Ensino Fundamental saem de férias, mas com uma missão: ler um livro durante o recesso. Cada turma tem três opções, que serão trabalhadas no retorno das aulas. Maria Fernanda afirma que essa é uma maneira de evitar que eles se desliguem totalmente da escola.
Neste ano, a instituição também organizou um evento baseado nos jogos Pan-Americanos, no qual os alunos participaram de times de basquete, vôlei, futebol, natação, entre outros, ainda na primeira semana de aula. Também foi organizado um Quiz Cultural sobre os países da América.
“Os alunos do Ensino Médio voltam num ritmo mais puxado, pela exigência de conteúdo e tempo”, afirma Maria Fernanda. Ela explica que a principal dificuldade dos jovens é ficar sem acessar a internet e as redes sociais. Com eles, além dos jogos, acontece uma retomada de combinações e uma conversa mais aberta.
O papel dos pais
A advogada Patrícia de Conti é mãe de Júlia, aluna do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Positivo - Jardim Ambiental, e afirma que o retorno às aulas não é um problema em casa. Aos 15 anos, Júlia é muito estudiosa e voltar à escola é um prazer para ela. A mãe conta que, durante as férias, a filha costuma ler muito e fazer intensivos de inglês. “No fim das férias, ela já está ansiosa para voltar para a sala de aula”, conta Patrícia.
Apesar da idade, Valentina, 6 anos, também não deve ter problemas em voltar para a rotina escolar do Positivo. A psicóloga Bianca Bortolini Ferreira do Amaral, mãe da aluna do segundo ano do Ensino Fundamental, conta que a filha gosta muito da escola e não teve problemas na readaptação. Bianca afirma que, desde que a filha saiu da Educação Infantil, criou uma rotina de estudos em casa, para que a menina faça os temas depois de tomar banho e jantar. Com a disciplina como hábito, o retorno ficou mais fácil.