No domingo, Uruguai vai às urnas para eleger um novo presidente, no segundo turno das eleições. Pesquisas colocam candidato governista, Tabaré Vázquez, em ampla vantagem. Candidato da oposição é Luis Alberto Lacalle Pou.
Tabaré Vázquez é bastante conhecido de seus compatriotas. O candidato da coalizão governista, a Frente Ampla, presidiu o Uruguai de 2005 a 2010. Os eleitores parecem ter boas recordações de seu governo. De acordo com pesquisas, a vantagem do candidato da situação em relação ao seu desafiante, Luis Alberto Lacalle Pou, está entre 13% e 15%.
Há um mês, no primeiro turno das eleições, as pesquisas apontavam uma disputa apertada entre a Frente Ampla e os partidos tradicionais. Mas essa previsão se mostrou equivocada: os governistas receberam 48% dos votos, contra 31% para o Partido Nacional (conservador) e 13% para o Partido Colorado (reformista).
Se eleito presidente neste domingo (30/11), Vázquez deverá governar com tranquilidade, uma vez que teria assegurada a maioria absoluta nas duas casas do Parlamento. Na Câmara dos Deputados, a vantagem já foi confirmada no primeiro turno das eleições. No Senado, ainda lhe falta um assento para garantir a maioria, o de presidente da casa, cargo acumulado pelo vice-presidente eleito.
Um provável terceiro mandato para a Frente Ampla irá marcar também um novo capítulo na história do país, já que seria a primeira vez em 60 anos que uma força política ganharia três eleições consecutivas no Uruguai.
Poucas esperanças para a oposição
O candidato da oposição, Luis Alberto Lacalle Pou, é filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle, que governou o país de 1990 a 1995. Após o primeiro turno das eleições, em 26 de outubro, ele parece não acreditar muito em suas chances de vitória, levando em conta a grande margem que o separa de Vázquez. A forma como sua campanha tem sido conduzida na reta final sugere que ele perdeu as esperanças de vencer o pleito.
Lacalle Pou conta com o apoio do candidato do Partido Colorado derrotado no primeiro turno, Pedro Bordaberry, filho de Juan Maria Bordaberry, presidente e ditador do Uruguai entre 1973 e 1976. Ele evitou usar o nome de sua família, utilizando apenas "Pedro" em sua campanha eleitoral. A estratégia deu poucos resultados, frustrando suas esperanças de atingir 20% dos votos. Após a derrota, ele decidiu apoiar Lacalle no segundo turno.
Segundo o panorama atual, tudo indica que não haverá mudanças no quadro político uruguaio. Os números da economia são bastante positivos: 94% dos 3.6 milhões de uruguaios descrevem sua própria situação econômica como boa ou, ao menos, melhor do que antes. Dois em cada três cidadãos contam com melhorias para o próximo ano. Além disso, a oposição fracassou ao tentar propor um projeto alternativo de governo.
Nos últimos quatro anos, o PIB uruguaio aumentou em média 5.5% ao ano, a pobreza foi reduzida de 34% (2006) para 11% (2013), e o desemprego caiu para um marco histórico de 6%.
As agências de risco qualificaram o país como "investment grade" (bom para investimentos). Os investimentos estrangeiros aumentam continuadamente e os raros títulos emitidos pelo Estado encontram rapidamente compradores.
Esquerda liberal e social
O governo também conseguiu desacoplar economicamente o país de seus vizinhos, deixando o Uruguai não mais em completa dependência da situação econômica do Brasil e da Argentina. Nem todos os uruguaios estão satisfeitos com medidas como a legalização da maconha, a liberalização do aborto e do casamento entre homossexuais, mas isso parece não abalar a popularidade da Frente Ampla. O presidente José Mujica é considerado um dos mais populares em todo o mundo.
Dessa forma, não é surpreendente que a oposição não consiga emplacar projetos próprios. As poucas sugestões de mudanças políticas – ou de outra ordem – não são suficientes para conquistar a maioria dos eleitores. É difícil atacar um governo de economia liberal e componentes sociais, ainda mais quando essas políticas funcionam.
Mas a aliança de esquerda não poderá se acomodar em razão dos êxitos obtidos nos últimos anos. "Os eleitores se tornaram mais exigentes, como se pôde observar no Chile", analisou o jornal espanhol El País. "As pessoas não se deixam enganar por promessas vazias".
O ponto fraco do governo do presidente Mujica, de acordo com o jornal, é a educação. Em 2010, seu slogan de campanha era "Educação, educação e mais educação". Ironicamente, seu governo apresentou um fraco desempenho nessa área. Na pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2012, o Uruguai ficou no 55º lugar de um total de 60 nações, o pior resultado já registrado pelo país.