O debate realizado nesta segunda-feira, 30, pela Folha de São Paulo e pelo UOL, teve como foco críticas à administração de Ricardo Nunes (MDB). Guilherme Boulos (PSOL) trouxe uma revelação pessoal, enquanto Pablo Marçal (PRTB) apostou na estratégia de inserir a religião como tema central, visando solidificar seu apoio entre o eleitorado evangélico, bem como foi insistente nas provocações ao prefeito. Já a deputada Tabata Amaral (PSB), que foi mais escanteada, criticou as trocas de farpas entre os adversários, cobrando mais propostas.
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A organização convidou os candidatos mais bem colocados na pesquisa Datafolha, por isso José Luiz Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo), que já participaram de debates anteriores, ficaram de fora do 10º debate promovido na corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo.
No primeiro bloco, que teve um tom mais ameno, a repórter Raquel Landim confrontou Nunes sobre a contradição em suas declarações acerca do passaporte da vacina. "Em novembro, o senhor deu uma entrevista à GloboNews afirmando que manteria a demissão de três servidores da Prefeitura e classificou a portaria como 'muito inapropriada'," relembrou Landim. "Agora, durante a campanha, o senhor afirmou que não demitiu ninguém por falta do passaporte da vacina. Em qual versão o eleitor deve confiar?".
Em resposta, Nunes afirmou ter aprendido com os erros e destacou os números positivos da vacinação em São Paulo. "A pandemia começou há cinco anos. É natural que, ao longo do processo, você vá aprendendo e ajustando. Não há problema em ter humildade e corrigir o que precisa ser corrigido."
Tabata interveio em seguida, criticando Jair Bolsonaro (PL), aliado de Nunes, por ter dificultado a campanha de vacinação. Ela ressaltou que o ex-prefeito Bruno Covas (PSDB) tomou uma direção oposta à de Bolsonaro e facilitou a imunização na capital. "É possível confiar em alguém que muda de posição constantemente?", indagou Tabata, referindo-se à mudança de postura de Nunes em relação à vacinação, sugerindo que isso seria motivado por cálculo eleitoral.
Marçal também pediu a palavra e acusou seus concorrentes de mudarem de opinião em função das eleições. Quando o tema das mudanças de posição se estendeu a tópicos polêmicos, como a legalização do aborto, o uso da maconha e o reconhecimento da Venezuela como ditadura, Boulos reclamou de tentativa de debate ideológico e utilizou parte de seu tempo para também criticar Ricardo Nunes.
Em seguida, Boulos e Marçal se envolveram em um bate-boca após Marçal ter sido questionado sobre o uso de um processo de outra pessoa com o mesmo nome para associar Boulos ao consumo de cocaína. Marçal tentou evitar falar do assunto, apenas afirmando que divulgaria mais informações sobre outros temas na semana seguinte.
Boulos então revelou um episódio pessoal: "Quando ele [Marçal] cita o Hospital do Servidor, ele está se referindo a um período quando eu, com 19 anos, enfrentei uma depressão crônica. Nunca disse isso publicamente."
Marçal, porém, seguiu atacando Boulos, afirmando que seus "princípios são depredar patrimônio público" e acusando-o de apoiar rachadinhas e defender a descriminalização de todas as drogas. Boulos rebateu: "Não vou ficar em bate-boca com um cidadão desse", denunciando a tentativa de "mais uma fake news" por parte de Marçal.
Em busca do eleitorado evangélico, religião ganha destaque
Marçal usou a estratégia de trazer a religião para o debate durante o segundo bloco e desafiou Ricardo Nunes a mostrar seu conhecimento sobre a Bíblia. Nunes tem visitado igrejas evangélicas com o intuito de ganhar o apoio desse grupo, também disputado por Marçal.
“A Bíblia tem mais de 30 mil versículos, ele não consegue citar nem dois aqui”, alfinetou Marçal. Nunes respondeu citando parte de um versículo: “Diz o Salmo 133, 'quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união'. Você só veio para tumultuar, Pablo Henrique”, disse o prefeito.
Praticante do catolicismo, Nunes tem comparecido a cultos evangélicos durante sua campanha, em algumas ocasiões ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Durante sua fala, Tabata apontou Marçal por atitudes preconceituosas e ataques de baixo nível, reforçando sua crítica ao uso da religião como estratégia eleitoral. "Aprendi desde muito pequena que o bom cristão, demonstra os seus valores pelos seus atos e não por suas palavras bonitas", disse a candidata do PSB.
"Não acho que essa instrumentalização da fé é boa. Eu sou cria da Igreja, a Igreja salvou a minha vida, mas vocês nunca vão me ver instrumentalizando a minha fé", completou ela. "Desonesto não é cristão, e quem fala demais e mente também não é cristão."
Boulos lamentou a disputa entre os adversários em provar quem seria o mais cristão ou o menos cristão. "Francamente eu acho que esse não é um tema que precisamos discutir quando se quer governar São Paulo. A gente precisa ter proposta para moradia, para saúde e para educação."
Apesar de Marçal liderar entre o eleitorado evangélico nas pesquisas, ele tem perdido apoio, especialmente entre pastores influentes do bolsonarismo, como Silas Malafaia.
Críticas a Ricardo Nunes
O debate também teve muitas críticas ao atual prefeito, Ricardo Nunes. Boulos foi um dos principais opositores, mencionando a classe média. Nunes perguntou diretamente a Boulos: "Você falou em uma entrevista que a classe média é intolerante, homofóbica, racista. Vai mudar de posição ou assume o que disse?". Boulos respondeu, dizendo que "tem um setor da classe média que padece de racismo e intolerância, o mesmo setor que elegeu o pior presidente da nossa história, que hoje está contigo, Ricardo."
Durante os embates, Boulos também questionou Nunes sobre boletim de ocorrência registrado pela esposa do prefeito, inquérito da máfia das creches e indicação de Bolsonaro a cargos. Nunes rebateu falando sobre sua longa trajetória na vida pública, afirmando: "Eu tenho 30 anos, 30 anos na vida pública, 30, 30. Nunca tive um indiciamento, nunca tive uma condenação." Boulos então afirmou que Nunes havia evitado responder a várias de suas perguntas durante o debate, alegando que a transparência e a responsabilidade são importantes em um processo eleitoral.
Tabata Amaral também criticou a gestão de Nunes, destacando a falta de direção durante o mandato: "São Paulo por três anos não teve propósito. Veio eleição, e ninguém sabia o nome do prefeito. Ele fez o quê? Gastança, gastança e gastança." Em outra fala, Boulos voltou a falar do prefeito, criticando as obras emergenciais da gestão Nunes: "O cachorro-quente gerido por você ia custar uns 300 reais, porque a salsicha ia ser superfaturada, como foram as obras emergenciais."
Ataques de Marçal e a busca por voto feminino
Pablo Marçal foi um dos candidatos mais agressivos durante o debate, acusando Boulos de ser "laranja" de Lula, afirmando que ele teria recebido R$ 3 milhões do ex-presidente, sem apresentar provas. Além disso, Marçal acusou Nunes e Boulos de serem parte de um "consórcio comunista" e criticou as perguntas feitas por jornalistas no primeiro bloco, alegando que não foram sobre propostas e estimularam discussão.
Além disso, Marçal deixou clara sua tentativa de conquistar o voto feminino. Nos primeiros 30 minutos, ele elogiou Tabata Amaral três vezes, afirmando que ela é a "candidata mais inteligente", a única com coragem de fazer perguntas a ele, e até a convidou para integrar seu governo como secretária de Educação, caso ela "deixasse de ser esquerdista".
Com a maior rejeição entre as mulheres, que constituem a maior parte do eleitorado em São Paulo, Marçal tentou inicialmente adotar uma postura mais conciliadora com Tabata, numa tentativa de suavizar sua imagem. Entretanto, no segundo bloco ele fez um comentário considerado machista ao afirmar: "Tabata, se mulher votasse em mulher, você já tinha ganhado em primeiro turno. A mulher não vota em mulher, ela é inteligente", o que gerou críticas de seus adversários.
Após as críticas, Marçal tentou retomar o tema no terceiro bloco, mencionando sua fala sobre "mulher inteligente" como uma forma de desconversar o que havia dito. "A mulher é inteligente, e por isso não está dedicando seu voto a Tabata. Você, que é uma guerreira e mãe de família, muitas vezes sozinha em casa, sabe que não se pode confiar a Prefeitura de São Paulo a quem está apenas sonhando", afirmou.
Em outra ocasião, Marçal fez uma provocação a Tabata relacionada à sua altura: "Tabata, continue crescendo. O dia que tiver estatura perfeita para dirigir essa cidade, volte aqui nessa eleição", comentou ele. Antes disso, Tabata havia destacado que, por ser mais baixa e ter um tom de voz suave, Marçal presumiu que poderia desmerecê-la em suas colocações.
Trocas de farpas
Durante o debate, Nunes e Boulos se envolveram em uma troca de farpas sobre acusações de corrupção. Nunes iniciou as críticas, afirmando: "Eu não admito corrupção", enquanto questionava Boulos sobre a "rachadinha" do deputado André Janones. "Quem pôs a caneta lá foi o seu Guilherme Bolos pra poder normalizar a questão da rachadinha. O que é a rachadinha do Janones? É o cara pegar o dinheiro público e rachar com o funcionário, provado com áudio. Ele foi lá e liberou o Janones e normalizou a rachadinha", acrescentou.
Por sua vez, Boulos contra-atacou, lembrando a relação de Nunes com Flávio Bolsonaro, também acusado de estar envolvido em práticas semelhantes. "Ele que é aliado do Flávio Bolsonaro, o rei da 'rachadinha'. Ele é o rei do camarote, que enquanto 2 milhões de pessoas estavam sem luz, estava em um camarote da F1", disparou Boulos.
Também houve troca de farpas entre Nunes e Marçal, quando o adversário do prefeito questionou sobre um boletim de ocorrência registrado por sua esposa por agressão. Nunes respondeu: "Ele é acostumado a dar golpe, não vou cair no seu golpe. Você deu golpe nos velhinhos, ainda adolescente." O prefeito continuou, afirmando que Marçal estava "envolvido com tudo que tem de coisa ruim" e citou sua condenação, questionando o caráter do adversário.
Marçal, por sua vez, insistiu diversas vezes na pergunta sobre o boletim de ocorrência, como já havia feito em outros debates. "Ricardo Nunes, por favor, eu não vou tocar nesse assunto se você explicar ele em definitivo porque você não responde nenhuma pergunta que qualquer um dos candidatos fazem pra você", pressionou. Nunes reafirmou sua intenção de manter a compostura, afirmando: "Olha pessoal, isso é tática dele. Tática de quem deu golpe a vida inteira. Eu não vou cair no golpe dele."
No meio das trocas de ataques, Tabata se posicionou, ressaltando que o debate deveria se concentrar em questões relevantes para a população. "Muita falação, muito desrespeito", disse ela, questionando os candidatos sobre a segurança das mulheres nas ruas de São Paulo e a qualidade da educação pública. "Você, mulher, durante a gestão de Ricardo Nunes, se sentiu mais segura nas ruas de São Paulo ou não? Você, mulher, que tem um filho na escola pública, tá vendo seu filho se desenvolver mais, sim ou não? É essa pergunta que a gente deveria estar debatendo", completou Tabata.