O segundo turno das eleições municipais deste domingo mostrou um fortalecimento de partidos de centro e centro-direita e um desempenho irregular da esquerda em geral, mas particularmente ruim do PT, que fica fora do comando de qualquer capital pela primeira vez desde que começaram as eleições diretas para essas cidades.
Em 1985, na primeira eleição direta para prefeitos de capitais após o fim da ditadura, o PT, que havia sido criado cinco anos antes, conquistou Fortaleza, na sua estreia em cidades importantes. Desde então, os petistas comandaram São Paulo três vezes e estiveram à frente de várias outras grandes capitais, como Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.
Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas confirmou o favoritismo e foi reeleito, derrotando Guilherme Boulos (Psol). Apesar da derrota, Boulos é possivelmente a liderança de esquerda que sai mais fortalecida dessa eleição.
Dando um tom nacional em seu discurso após ser reeleito, Covas disse que São Paulo não quer "confronto" e que o a cidade não quer negacionismo.
"É possível fazer política sem ódio, é possível fazer política falando a verdade", disse.
No Rio, as pesquisas também se confirmaram e o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) ganhou com folga, impedindo a reeleição do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), um dos vários candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro que se deram mal no pleito.
Para o cientista político e professor do Insper Carlos Melo, o segundo turno confirmou as expectativas do primeiro, tendo como vencedores: DEM, PP, PSD e PSDB, este último por conta de São Paulo. Para Melo, os perdedores foram Bolsonaro e o PT.
Já o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), aliado de Paes, avalia ser difícil dizer que Bolsonaro tenha saído derrotado, ao menos no pleito do Rio de Janeiro.
"Não é uma derrota do Bolsonaro, é uma vitória do prefeito que sempre cuidou da cidade contra um que não cuidou, não tem nada a ver com eleição nacional", disse Maia.
Mais importante do que isso, o presidente da Câmara acha difícil fazer alguma ligação entre os resultados de agora com a eleição presidencial de 2022.
"O DEM sai mais forte, mas 2022 ainda está muito longe. Eleição municipal tem pouca relação com eleição nacional, apenas uma vinculação da eleição de vereadores com deputados mas o resto é uma questão de construção política para cada um dos campos políticos", acrescentou.
Ao votar no Rio de Janeiro, Bolsonaro, por sua vez, voltou a defender o voto impresso e colocar em dúvida o sistema das urnas eletrônicas.
"Você tem que ter uma forma mais confiável para votar e a apuração tem que ser pública; não pode ter meia dúzia de pessoas para contar os votos do Brasil todo; isso está errado", disse Bolsonaro ao se referir a chamada sala cofre do TSE, onde poucas pessoas tem acesso a consolidação dos votos.
"Tem que ter voto impresso e ninguém bota a mão do papel... qualquer delegado ou presidente de partido poderia pedir a recontagem daquela área e aí você ter a comprovação do voto eletrônico com o voto no papel", defendeu.
Apesar das repetidas reclamações de Bolsonaro, nunca houve denúncias fundamentadas de fraude contra o sistema de urnas eletrônicas desde sua implementação.
À noite, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou que o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que é inconstitucional a adoção novamente do voto impresso no país.
"Objetivamente não existe hoje no Brasil a possibilidade do voto impresso", disse Barroso sobre as declarações de Bolsonaro.
"Portanto, respeitando a opinião do presidente, o voto impresso traria grande tumulto ao processo eleitoral brasileiro porque todo candidato derrotado iria pedir recontagem, impugnações e judicialização do processo eleitoral", acrescentou.
Sem o atraso ocorrido devido a problemas de totalização de votos no primeiro turno, a apuração ocorreu normalmente neste domingo e rapidamente foram sendo definidos os prefeitos eleitos.