A conturbada prisão do ex-deputado Roberto Jefferson provocou um racha dentro da Polícia Federal, em meio à profunda polarização política na reta final da disputa do segundo turno entre o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de acordo com mais de uma dezena de agentes da PF que falaram com a Reuters sob condição de anonimato.
Aliado de Bolsonaro, Jefferson foi detido após várias horas de negociações com agentes que foram até a casa dele no interior do Estado do Rio de Janeiro, no domingo, para cumprir uma decisão que revogava uma prisão domiciliar. Na chegada da PF, o ex-parlamentar lançou granadas de efeito moral e atirou com um fuzil contra os agentes, deixando dois policiais federais feridos.
Alguns policiais ficaram enfurecidos com o fato de que Jefferson parecia ter um arsenal em sua casa, com fuzis automáticos e granadas proibidas, apesar de estar em prisão domiciliar, de acordo com fontes da PF.
A Polícia Federal não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre o assunto.
Bolsonaro facilitou a compra de armas de fogo no país desde que chegou ao poder, com licenças concedidas principalmente aos Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs), que subiram em quase 500% desde 2018.
Em julho, a Reuters revelou que a PF não aprovava as políticas do governo Bolsonaro para armas de fogo, argumentando que elas dificultam a fiscalização no país com o maior número de assassinatos do planeta.
"Como alguém citado em vários processos criminais pode ter autorização para registrar armas, incluindo um fuzil automático?", disse um policial federal. "Qual é a autorização que ele tem para portar granadas?"
Houve também indignação por conta de um vídeo que mostra um policial federal, Vinícius Secundo, rindo e fazendo piadas com Jefferson durante a abordagem, dizendo que os dois policiais feridos eram "burocráticos".
"O que o senhor precisar, a gente vai fazer", disse Secundo a Jefferson, de acordo com o vídeo.
Em uma mensagem enviada a seus colegas e vista pela Reuters, Secundo defendeu suas ações, dizendo que "vestiu um personagem para desacelerar a situação da melhor maneira possível".
Alguns policiais com os quais a Reuters conversou defenderam Secundo, dizendo que pessoas de fora não entendem sobre o gerenciamento de crises feito por policiais.
Mas outros policiais compararam o tratamento dado a Jefferson por Secundo com as ações das forças policiais brasileiras em suas violentas operações nas favelas e periferias pelo país.
"Se isso fosse em uma favela, com um cara pobre ou negro, não aconteceria dessa maneira", disse um policial.