Na porta da frente de uma casa branca de dois andares em Moema, região nobre de São Paulo, uma jovem impecavelmente vestida e maquiada segurava um cachorro da raça Lulu da Pomerânia no início da tarde desta quarta-feira. Com adesivos colados em seus corpos com os dizeres “sou 45”, ambos (ela e o cão) estavam ali se preparando para participar de um encontro de Aécio Neves com suas eleitoras no diretório estadual do PSDB.
“Sou modelo internacional, represento a moda e estou apoiando o Aécio na campanha. Ele é o candidato que está com a atitude mais revolucionária. Tem projetos bons especialmente na área social”, disse, cheia de convicção, Marion Zukauskas, de 17 anos. O animal em seu colo, que é fêmea, chama-se Eduarda. Duda, para os mais íntimos. “Ela veio para ajudar os cachorrinhos”, explicou.
A garota estava acompanhada da mãe, Ione Zukauskas, 56. Presidente de uma ONG que busca realizar resgates paisagísticos, ela se intitula “cientista urbana” e é outra entusiasta do partido. Critica, por exemplo, aqueles que culpam o governador Geraldo Alckmin pela falta de água no Estado e compartilha a posição do senador Aloysio Nunes a respeito das ciclovias na capital ("delírio autoritário", segundo ele).
“Gente, para de ‘viajar’ e gastar o dinheiro das pessoas! Olha a idade do povo, meu amor. Somos velhos. Quem vai sair de ‘bike’ por aí? É muita ignorância. Infelizmente somos terceiro mundo”, desabafou após arrumar os cabelos lisos e loiros da filha para que saíssem alinhados com perfeição nas fotos dos jornalistas.
“Por que você está com um iPhone na mão e não um gravador antigo de dois quilos? Você está aproveitando uma tecnologia com mais recursos para ser uma pessoa ‘top’. Eu gostaria de ver o País mais desenvolvido assim de forma homogênea. Torço para que todos sejam iguais. Por isso o Aécio me representa”, analisou em seguida.
Não foi difícil perceber o momento em que o candidato chegou ao local. Assim que colocou os pés na sala de entrada, amplamente enfeitada com retratos de outros líderes do PSDB, como José Serra e Fernando Henrique Cardoso, foi recebido com palmas e gritos nada tímidos. “Quero fazer uma reunião dessa por dia”, brincou, arrancando suspiros da porta até o fundo da casa, espaço que havia sido montado para a conversa.
Depois de tirar selfies (que quase instantaneamente foram parar no Instagram) e distribuir abraços, o bate papo começou. Mantendo a imagem de “boa pinta”, Aécio, a cada pergunta que recebia, levantava-se da cadeira, dirigia-se à eleitora e investia em olhares, sorrisos e elogios. Uma enxurrada de “ótima pergunta”, “muito bom te ver por aqui” e “obrigado pela presença”.
Os momentos mais aclamados foram quando ele defendeu a redução da maioridade penal para crimes graves como resposta à violência e quando apontou falhas no Bolsa Família, programa criado pelo ex-presidente petista Luís Inácio Lula da Silva. Esta última questão, inclusive, foi levantada por uma das mulheres presentes.
“O Bolsa Família tem me preocupado muito. Eu vejo um projeto politico muito sério, muito enraizado. É como se nós, pobres, não tivéssemos condição de criar nada, de ter nada. A gente tem que pegar fila na Caixa Econômica, receber aquele dinheiro todo mês e só. Colocaram pra nós que nascemos pobres e vamos morrer pobres”, afirmou Antônia Francisca dos Santos, moradora de Caçapava, recebendo uma sorridente expressão de aprovação do candidato. Antes, ela havia narrado parte de sua trajetória e contado que conseguiu concluir os estudos graças ao Bolsa Escola.
Na hora de se despedir (não sem antes atender mais alguns pedidos de selfies), Aécio educadamente pediu desculpas por ter que deixá-las para cumprir outros compromissos da campanha. Mais palmas. Mais suspiros. Mais gritos.
Sentado em uma caixa de madeira na calçada, Júlio Cesar, morador de um albergue de Conceição, zona sul da cidade, observava tudo de longe. Diferente da maioria, não procurava rostos no meio do tumulto. O foco, para ele, eram os pés. Mais especificamente os calçados. “É um evento de votação? Isso é bom, posso tentar engraxar algum sapato por aqui. Até o do candidato, quem sabe”.