O eleitor de Belo Horizonte pode não ter decidido seu voto depois do morno debate promovido pela TV Altersa, afiliada SBT em Minas Gerais, na noite de terça-feira (27). Mas, certamente tem a convicção de que já existe um “homem a ser batido”.
Trata-se do empresário Alexandre Kalil (PHS), ex-presidente do Clube Atlético Mineiro. Kalil sofreu investidas de quase todos os candidatos que estão atrás dele nas pesquisas divulgadas pelos principais institutos. Em praticamente todos os cenários há uma previsão de que o ex-cartola enfrente o tucano João Leite.
Alexande Kalil é dono de um perfil muito peculiar, se comparado com os políticos “que mamam nas tetas do governo”, segundo ele próprio falou durante o debate. São suas diferenças, aliás, que ele considera como principais credenciais para ocupar a Prefeitura de Belo Horizonte.
Verborrágico como um torcedor fanático pelo time de coração e que tem a certeza de que sabe mais do que o técnico, Kalil quase não teve oportunidade para atacar, mas quando o fez, direcionou a um dos postulantes a afirmação de que um partido havia sido vendido durante o debate para, em seguida, disparar: “vendem até a mãe!”, bravou.
Do candidato Sargento Rodrigues (PDT) veio a crítica mais dura da noite. Rodrigues lembrou a condenação de Kalil na Justiça Federal por débitos trabalhistas. O ataque foi tão explícito que foi feito durante o bloco de perguntas que os candidatos faziam entre si e Rodrigues fez o comentário direcionado ao ex-presidente do Atlético durante uma pergunta a outro candidato, o Luís Tibé, do PTdoB.
A afirmação rendeu direito de resposta concedido pela junta de advogados convidada pela direção da TV. Kalil se defendeu, disse que o “problema está nas mãos dos advogados” e admitiu o débito, não sem antes bradar que não é político de carreira. “Devo sim, não sou político e não mamo nas tetas do contribuinte”.
Vices
Mesmo com a presidência da República sendo ocupada por Michel Temer, eleito como vice na chapa de Dilma Rousseff e o atual vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros (PSD) ser o candidato do atual comando do executivo municipal, em apenas dois momentos o companheiro de chapa foi lembrado no debate.
A primeira foi durante a apresentação do candidato do PT, Reginaldo Lopes. Em pelo menos duas situações o deputado federal fez questão de ressaltar a presença de sua companheira de chapa, a também deputada federal, Jô Moraes (PCdoB).
A outra situação também traz Alexandre Kalil para o centro do debate. O candidato a vice dele, o deputado estadual Paulo Lamac (Rede) foi lembrado como um político antagônico ao que ele prega.
Análise geral dos candidatos
Luís Tibé (Coligação a BH que a gente quer) – Atrapalhado em alguns momentos, o ex-vereador e deputado federal no exercício do mandato, lembrou o quanto pode que ainda não há nada definido e que pesquisa não decide. Fez apenas uma crítica a Kalil, mas perguntou pela infância do concorrente quando teve a chance de um debate direto.
Marcelo Álvaro (Coligação Mudança de Verdade) –Também deputado federal na atual legislatura, o candidato do PR se manteve distante de discussões mais duras, mas foi certeiro na crítica a atual administração no caso da febre maculosa. Em agosto uma criança morreu por febre maculosa em BH. Lembrou de experiências exitosas feitas com capivaras no município de Viçosa, sem nenhum registro de animal sacrificado.
Sargento Rodrigues (Coligação BH Segura) – Outro deputado, mas estadual querendo trocar o legislativo pelo cargo de chefe do executivo municipal. Militar, foi o franco-atirador da noite contra Kalil e protagonizou o único momento que quase tira o oponente do eixo. Quando pode responder perguntas dos jornalistas explicou que pretende armar a Guarda Municipal e aumentar o número de câmeras de videomonitoramento na cidade.
Reginaldo Lopes (Coligação BH no século XXI) – Deputado federal que mais tentou apresentar suas propostas e insistiu em falar em orçamento participativo. Foi questionado por Rodrigues e Kalil. O primeiro afirmou que a “máfia das empresas de transporte” começou durante a gestão do então prefeito, Fernando Pimentel, também do PT. O segundo quis saber sobre como ele acabaria com as PPP’s (parcerias público-privadas).
Délio Malheiros (ColigaçãoBH segue em frente) - Atual vice-prefeito tentou desmistificar a imagem da cidade “que não funciona” propalada pelos adversários. Fez uma estranha tabelinha com o candidato João Leite, explicada por Reginaldo Lopes (PT) como uma aliança entre a turma do Lacerda (Márcio Lacerda, atual prefeito) e a turma do PSDB.
Rodrigo Pacheco (Coligação Beagá para todos) - Sereno, o deputado federal fez um “mais do mesmo” tradicional dos políticos experientes. Insinuou que Délio faz parte de uma administração autoritária e, em tom conciliador afirmou que não se governa na base da bravata. Entrou e saiu do debate sem grandes contribuições e foi perguntado se fiscalizaria motoboys ilegais. Até na resposta foi prolixo. Também tem esperança de disputar o segundo turno e enfatizou que a eleição não está definida.
João Leite (Coligação Juntos por BH) - Primeiro colocado em todas as pesquisas, aumentava as suspeitas de dobradinha com o candidato Délio sempre que precisava falar em números da atual administração. Em algumas situações mostrava mais conhecimento de dados do que o vice-prefeito, como recursos garantidos para o próximo ano, por exemplo. Foi seguro ao falar de propostas e cutucou Kalil ao pedir ao eleitor “equilíbrio para administrar” e que “não é hora de arriscar”.
Alexandre Kalil (Coligação Para BH funcionar) - O alvo prioritário de todos os candidatos que estão atrás nas pesquisas. Sofreu duras investidas do Sargento Rodrigues, Luís Tibé, Délio e Rodrigo. Como de costume, se defendeu dizendo que os ataques são frutos do desespero de quem vai deixar de “mamar nas tetas do contribuinte”. Referiu-se sempre ao seu eleitor formado por pobres e mulheres.