O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta sexta-feira, 14, que as mortes de crianças por covid-19 foram raras no Brasil e que menores que caíam de bicicleta e sofreram traumatismo craniano durante a pandemia foram "maldosamente" encaminhadas por alguns hospitais para Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dedicadas ao tratamento da doença.
"Alguém viu alguma criança morrer de covid? É coisa rara. O que acontecia nesse caso é que chegava uma criança no hospital com traumatismo craniano que caiu da bicicleta e alguns hospitais, maldosamente, botavam na UTI covid. Porque eu pagava R$ 2 mil a diária. Outro era R$ 1 mil", disse o presidente durante a live 'Mulheres de Minas com Bolsonaro'.
Com a campanha petista destacando cenas onde classifica o presidente como "insensível" ao drama das famílias atingidas pela doença, Bolsonaro voltou a falar que foi mal interpretado ao usar figuras de linguagem e disse que sua postura crítica na pandemia era por preocupação. Bolsonaro declarou também que sua filha mais nova, Laura, não se vacinou.
Ao menos 1.700 crianças menores de 5 anos morreram de covid no Brasil desde o início da pandemia, de acordo com o Observa Infância, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que usou como base dados coletados no Sistema de Informação sobre Mortalidade, os quais passaram por revisão do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de Saúde. Foram 599 crianças nessa faixa etária vítimas de covid em 2020, mais 840 no ano seguinte, quando a letalidade da doença aumentou em toda a população. Entre janeiro e 13 de junho de 2022, o Brasil registrou um mais 291 mortes por covid-19 entre crianças menores de 5 anos.
Até junho de 2022, dados coletados pelo Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em 91 países mostravam que a covid-19 foi a causa básica de óbito de 5.376 crianças menores de 5 anos no mundo. O Brasil respondeu por cerca de 1 em cada 5 dessas mortes.
Orçamento secreto
Com críticas ao orçamento secreto, o presidente voltou a tentar se colocar como uma pessoa contra a medida. Segundo o presidente, ele tentou vetar a ferramenta em 2020, mas foi derrotado pelo parlamento. "Derrubou o veto, eu não posso fazer mais nada, é lei, ponto final."
O presidente também disse ser contra a ferramenta, afirmando que preferia que a verba estivesse nas suas mãos. "Eu não queria esse orçamento dito secreto. Não é secreto porque é publicado no Diário Oficial da União. O que é secreto é o relator que manda o recurso para lá. Eu preferia R$ 19 bilhões comigo, eu não ia abrir mão de poder", afirmou durante a live.
A primeira tentativa de viabilizar o orçamento secreto foi realmente do Congresso e Bolsonaro a vetou. No entanto, o presidente recuou do próprio veto logo depois e encaminhou para o Congresso o texto que criou o orçamento secreto. O projeto é assinado por Bolsonaro e a exposição de motivos que o justifica leva a assinatura do general Luiz Eduardo Ramos, então ministro da Secretaria de Governo.
Bolsonaro também reconheceu a falta de transparência nas emendas e o desequilíbrio provocado pela medida. "Esse dinheiro, quem é que diz quanto ganha para tal município de Minas ou para outro município? Quem diz é o relator do orçamento. Ele pega os R$ 15 bi, da R$ 200 para você, zero para você. É dele, nós não temos acesso ao nome dos parlamentares que destinam recursos pelo Brasil", disse. Ele também negou que a peça seja "secreta". "Não é secreto porque é publicado no Diário Oficial da União. O que é secreto é o relator que manda o recurso para lá", afirmou.
Bolsonaro comentou ainda a ação da Polícia Federal nesta sexta-feira contra desvio de verbas do orçamento secreto. "Se der um problema na ponta da linha como deu hoje, pelo que eu estou sabendo, vão botar na minha conta", declarou.
A PF abriu uma Operação batizada 'Quebra Ossos' contra grupo que teria inserido dados falsos em sistemas do SUS para receber repasses de emendas parlamentares no Maranhão. Duas pessoas foram presas - Roberto Rodrigues de Lima e seu irmão, Renato. É a quarta operação deflagrada neste ano pela Polícia Federal que mira recursos do orçamento secreto, esquema revelado em série de reportagens do Estadão. Antes, a PF também deflagrou operações em Alagoas, no Maranhão e na Codevasf que tiveram como foco o orçamento secreto.