Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue favorito e pode repetir a vantagem contra Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição presidencial se atrair eleitores que evitaram os dois candidatos na primeira votação e aqueles que sequer foram votar, segundo analistas políticos e especialistas em pesquisas de opinião.
Lula teve 48,4% dos votos válidos no domingo contra 43,2% de Bolsonaro, o que deixou o petista a apenas 1,8 milhão de votos de uma vitória no primeiro turno, que teria evitado um novo embate nas urnas no próximo dia 30.
Mesmo com a campanha de Bolsonaro motivada por um desempenho acima do previsto pela maioria das pesquisas, o atual presidente e candidato à reeleição enfrenta uma batalha mais difícil para conseguir novos eleitores nas próximas quatro semanas.
"Lula deve vencer no segundo turno com esses votos. A vitória dele é mais provável", disse João Feres, professor de Ciência Política da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que avalia que a alta rejeição de Bolsonaro trabalha contra o presidente.
O candidato e ex-presidente petista assegurou nesta semana apoios importantes dos candidatos que terminaram em terceiro e quarto lugares no primeiro turno, deixando em disputa 7,2% dos votos válidos de domingo.
A senadora Simone Tebet (MDB), que teve 4,9 milhões de votos, declarou seu apoio de forma veemente a Lula na quarta-feira e deve encontrá-lo nesta sexta.
Pesquisa do PoderData publicada na quinta mostrou que uma margem ampla dos que votaram em Tebet no primeiro turno estão inclinados a votar em Lula no segundo --ainda que os números tenham que ser consideradas com cautela, dada a maior margem de erro dos levantamentos quando analisados só o universo dos votantes de Tebet.
O candidato do PDT, Ciro Gomes, sem citar Lula, seguiu a decisão de seu partido de apoiar o petista. Seus 3,6 milhões de eleitores são mais ambivalentes, e devem migrar mais em direção a Bolsonaro, mas com pequena diferença em relação a Lula, também de acordo com o levantamento PoderData, feito de forma telefônica.
Abstenção em alta
Há ainda votos em disputa dos 32,7 milhões de eleitores que deixaram de votar no domingo. A taxa de abstenção este ano subiu para quase 21%, a maior para o primeiro turno de uma eleição desde 1998, e costuma aumentar no segundo turno.
Quanto mais acirrada a disputa, mais esse dado fica relevante. Historicamente, a taxa de abstenção é maior entre os menos escolarizados e com menos renda, públicos onde Lula tem vantagem, daí que o tema virou assunto-chave na campanha petista.
A abstenção foi ainda maior que a média nacional em São Paulo e Rio de Janeiro, o que pode ter contribuído para que Lula tenha ficado com um desempenho abaixo do esperado nesses Estados no domingo, afirmou Andrei Roman, diretor-executivo da AtlasIntel.
Roman afirma que nestes Estados, além do Rio Grande do Sul, há um eleitorado moderado que, na sua avaliação, não se sentiu estimulado a votar porque não havia um candidato de terceira via "minimamente forte".
"Com uma decisão final tão importante, esses eleitores estarão mais motivados a comparecer, e a maioria deles prefere Lula", disse Roman, responsável pelo levantamento nacional da véspera que chegou mais perto dos resultados de Bolsonaro no domingo, enquanto as demais pesquisas ficaram distantes.
O diretor-executivo da AtlasIntel, que faz pesquisas pela internet, aponta que um cabedal estratégico de votos para Lula pode estar na capital fluminense (maior taxa de abstenção entre as capitais, com 24,19%), mas especialmente em São Paulo (21,26% de ausentes) e Porto Alegre (22,48%). Por isso, ele afirma que o petista segue favorito e "está mais forte do que parece".
No lado da campanha pela reeleição, Bolsonaro foi em busca de um ativo no segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais, onde Lula o superou por cerca de 560.000 votos. O presidente conseguiu o apoio do governador mineiro Romeu Zema (Novo), que garantiu a reeleição em primeiro turno no domingo.
Roman diz que o apoio de Zema pode ser "um risco" para Lula, se o governador de Minas for convincente ao colocar todo seu peso na campanha de Bolsonaro.
"Lula vai precisar compensar em São Paulo, onde eu acredito que ele consiga mobilizar eleitores que se abstiveram", disse o CEO.