Mesmo num improvável cenário onde todo o 1,3 milhão eleitores que votou no candidato emedebista ao Planalto, Henrique Meirelles, é filiado ao MDB, o candidato foi rejeitado em massa pelos correligionários.
A legenda é a maior do Brasil, e tem 2,3 milhões de integrantes de acordo com o número mais recente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma subtração simples mostra que no mínimo um milhão de filiados à sigla votaram em outro candidato, em branco, nulo ou se abstiveram.
Duas vezes por ano, o TSE divulga informações fornecidas pelos partidos sobre a quantidade de filiados. A última atualização é do primeiro semestre, e a próxima deve ser divulgada em novembro.
Meirelles e a campanha
Henrique Meirelles é um novato no MDB. Filiou-se ao partido em abril deste ano, justamente para disputar a eleição. Antes, era filiado ao PSD. Em sua vida política pregressa, foi eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás em 2002, mas largou o mandato e o partido para ser presidente do Banco Central no governo Lula.
Um dos fatores que possibilitou a candidatura foi seu compromisso de bancar as despesas de campanha. Apesar de não ter causado grande empolgação, era um excelente negócio para o partido.
Haveria alguém entre os candidatos a presidente divulgando o nome da legenda, e o dinheiro não gasto com Meirelles poderia ser direcionado a candidatos a deputado federal e outros cargos. A representação na Câmara é decisiva para o acesso aos fundos partidário e eleitoral, eleger representantes é uma questão de sobrevivência.
Meirelles colcou R$ 54 milhões do próprio bolso em sua campanha. O político era um dos homens mais ricos disputando a eleição, tendo declarado R$ 377 milhões em bens ao TSE.
Os obstáculos
O candidato acabou o primeiro turno como 7º colocado. Seu desempenho foi atrapalhado por uma série de fatores.
Com a forte polarização entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), os outros candidatos acabaram ficando fora dos holofotes e perdendo votos. Marina Silva, por exemplo, era uma das primeiras colocadas nas pesquisas antes do começo da campanha e viu sua candidatura derreter.
De olho na popularidade de Bolsonaro, principalmente no sul e no sudeste, caciques locais do MDB se aproximaram do candidato do PSL. No nordeste, houve movimento parecido, mas em direção ao PT, muito bem quisto na região.
Meirelles ainda precisou lidar com a impopularidade do governo de Michel Temer. Além de ser correligionário do atual ocupante do Planalto, ele foi um dos principais ministros da administração. À frente da Fazenda, Meirelles ficou exposto aos efeitos políticos da crise econômica, e não conseguiu dissociar seu nome da marca de Temer.