Ataque a faca acirra debate sobre imigração durante campanha eleitoral na Alemanha

23 jan 2025 - 17h51

Candidatos a chanceler federal defendem mais restrições à entrada de imigrantes e trocam acusações sobre responsabilidade por crime que matou duas pessoas na cidade de Aschaffenburg.Faltando apenas um mês para as eleições federais da Alemanha, o ataque a faca ocorrido na quarta-feira (22/01) em Aschaffenburg, no sul do país, atiçou o já acalorado debate sobre imigração, com políticos de todos os matizes trocando acusações e renovando votos de apertar o cerco contra imigrantes sem documentação.

Políticos da cidade de Aschaffenburg homenageam as vítimas de ataque ocorrido na véspera
Políticos da cidade de Aschaffenburg homenageam as vítimas de ataque ocorrido na véspera
Foto: DW / Deutsche Welle

O suspeito do crime é um homem afegão de 28 anos que foi detido pela polícia enquanto tentava fugir após atacar um grupo de jardim de infância num parque na cidade bávara, deixando dois mortos - uma criança de dois anos e um homem de 41 que tentou deter o ataque. Outras três pessoas foram levadas ao hospital com ferimentos graves.

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O suspeito entrou na Alemanha em novembro de 2022, solicitou asilo em março de 2023, que foi rejeitado em junho de 2023. Ele havia sido notificado por atos de violência pelo menos três vezes antes do ataque, e em todas elas foi internado para tratamento psiquiátrico e depois liberado. Mesmo passível de deportação, viveu recentemente num asilo na região.

O crime ocorreu apenas um mês após um atropelamento em massa num mercado de Natal de Magdeburg, no leste do país, e seis meses após ataques semelhantes com faca nas cidades de Solingen e Mannheim, no oeste alemão. No primeiro caso, as autoridades descartaram ter sido um ato terrorista; o suspeito, um médico psiquiatra saudita, tinha histórico islamofóbico e demonstrava simpatia pelo partido de ultradireita Alternativa para Alemanha (AfD).

Líder nas pesquisas quer controle permanente de fronteiras

Friedrich Merz, líder da oposição conservadora dos Democratas Cristãos (CDU) e favorito para se tornar o próximo chanceler da Alemanha, prometeu nesta quinta controles permanentes em todas as fronteiras alemãs no primeiro dia de seu mandato, se eleito.

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"Estamos diante das ruínas de uma política de asilo e imigração equivocada que já dura dez anos na Alemanha", disse ele a repórteres, criticando as regras de migração da União Europeia como "disfuncionais" e insistindo que todos os "imigrantes ilegais" devem ser rejeitados na fronteira, inclusive aqueles que buscam proteção.

"Haverá uma proibição de fato da entrada na República Federal da Alemanha para todos aqueles que não tiverem documentos de entrada válidos", disse ele.

A sugestão de Merz recebeu apoio do controverso partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), atualmente em segundo lugar nas pesquisas, atrás da CDU.

Em uma postagem na mídia social, a copresidente da AfD e candidata a chanceler, Alice Weidel, pediu "o fechamento das fronteiras e a deportação de [imigrantes] ilegais".

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Trocas de acusações

O chanceler federal Olaf Scholz, que está concorrendo a mais um mandato, já havia chamado o esfaqueamento de "um ato inacreditável de terror", acrescentando que está "cansado" de "tais atos de violência".

O líder do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) insistiu nesta quinta que seu governo tomou medidas para facilitar deportações e jogou para o governo estadual a responsabilidade por possíveis falhas de segurança.

"Há claramente déficits na aplicação da lei, especialmente neste caso entre autoridades bávaras, o que é um grande problema", afirmou. "É por isso que tem que parar agora, pois nem todos estão fazendo tudo o que podem para garantir que aqueles que não podem ficar aqui não sejam trazidos de volta."

A ministra federal do interior, Nancy Faeser, também do SPD, afirmou que as autoridades bávaras precisavam "explicar por que o agressor ainda estava foragido, apesar de ter cometido vários crimes violentos".

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Baviera culpa Berlim

No entanto, o ministro do interior do estado da Baviera, Joachim Herrmann, da União Social Cristã (CSU), partido irmão da CDU na Baviera, culpou Berlim e acusou o Escritório Federal para Migração e Refugiados (Bamf) de "fracasso".

De acordo com Herrmann, o suspeito deveria ter sido deportado para a Bulgária - sua porta de entrada para a União Europeia - no verão de 2023, mas ele disse que a ordem foi emitida para as autoridades bávaras com várias semanas de atraso, quando o prazo legal para realmente executar a deportação já havia expirado.

"Já chega, já chega, já chega", disse o primeiro-ministro da Baviera, Markus Söder (CSU), em Munique. "Quantos mais? Mannheim, Solingen, Magdeburg, Aschaffenburg. Qual será o próximo?"

Isentando as autoridades da Baviera de culpa, ele também apontou o dedo para o governo federal: "Essas não são coincidências, mas o resultado de uma cadeia de políticas de imigração ruins ao longo dos anos". E continuou: "A imigração está sobrecarregando nosso país".

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"É evidente que algo deu errado"

O vice-chanceler federal e ministro da Economia, Robert Habeck, candidato do Partido Verde, pediu uma avaliação "autocrítica" nos órgãos administrativos do país.

"Autocrítica não significa que cada departamento diga: bem, fizemos tudo certo", disse. "Porque claramente algo deu errado. Esse criminoso deveria ter sido deportado ou, pelo menos, verificado e talvez detido. Erros foram cometidos."

Para Andreas Rosskopf, presidente do Sindicato da Polícia Alemã (GdP), o ataque em Aschaffenburg revelou falhas administrativas e falta de opções de ação. Em sua opinião, "muitos órgãos estão operando lado a lado e não uns com os outros".

sf (dpa, Reuters, AFP)

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