Bolsonarismo mostrou muita força, mas Lula é favorito no 2º turno, afirma cientista político

Presidente tem desafio de virar vantagem do petista, que ficou próximo de levar no 1º turno

3 out 2022 - 06h47
(atualizado às 06h59)
Lula e Bolsonaro disputam segundo turno no dia 30 de outubro
Lula e Bolsonaro disputam segundo turno no dia 30 de outubro
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Os resultados do primeiro turno das eleições trouxe um resultado ambíguo para Jair Bolsonaro (PL), avalia o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro recém-publicado A mão e a luva: o que elege um presidente.

De um lado, nota Almeida, o presidente mostrou força com o bom desempenho de candidatos bolsonaristas que tiverem votações expressivas nas eleições estaduais.

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Por outro lado, pondera o analista, Bolsonaro ficou em segundo lugar na disputa presidencial e viu seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficar próximo de uma vitória no primeiro turno.

Com 99,99% das urnas apuradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o petista tinha 48,43% dos votos válidos (pouco mais de 57 milhões). O presidente, por sua vez, tinha 43,20% (pouco mais de 51 milhões). Ou seja, uma diferença de cerca de 6 milhões de eleitores.

Ambos vão se enfrentar no segundo turno, a ser realizado no dia 30 de outubro.

"O bolsonarismo mostrou muita força elegendo figuras ligadas a Bolsonaro com votações muito grandes. Então há vários ex-ministros eleitos, como Damares (Alves, eleita senadora pelo DF), Ricardo Salles (um dos deputados federais mais votados por SP), (Eduardo) Pazuello (segundo deputado federal mais votado no RJ)", exemplificou.

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"Mas alguém que disputa a reeleição ficar em segundo lugar e seu adversário (Lula) quase vencendo no primeiro turno também mostra a fraqueza dele. O desempenho do Lula foi excelente. Teoricamente é muito mais fácil para Lula vencer no segundo turno do que para Bolsonaro", ressaltou Almeida, destacando que o petista ficou a menos de dois pontos percentuais de vencer no primeiro turno.

A votação do ex-presidente veio dentro da margem de erro das principais pesquisas eleitorais. Já o desempenho do campo bolsonarista surpreendeu, apresentando mais força do que as sondagens captaram.

A ex-ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos), foi eleita senadora pelo Distrito Federal, derrotando outra ex-ministra de Bolsonaro, Flávia Arruda (PL)

Já o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Marcos Pontes (PL) foi eleito senador por São Paulo, desbancando Márcio França (PSB), que liderava as principais pesquisas.

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Ex-ministros de Bolsonaro tiveram votações expressivas neste domingo
Foto: Governo de transição / BBC News Brasil

O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) também surpreendeu conquistando a vaga do Senado pelo Rio Grande do Sul. Ele superou o ex-governador gaúcho Olívio Dutra (PT), que aparecia como favorito.

Para Almeida, o bom desempenho reflete a projeção que esses concorrentes ganharam no governo federal. Ele lembra que o PT elegeu uma bancada grande no Senado em 2010, quando Lula era presidente. Naquele ano, o partido fez 11 senadores.

'PSDB caminha para extinção'

A reviravolta nas pesquisas para o Senado são comuns, lembra Almeida, já que o eleitor costuma decidir seu voto muito próximo da votação.

Ainda mais surpreendente, avalia, foi o desempenho de candidatos bolsonaristas em algumas disputas para os governos estaduais.

No Rio Grande do Sul, o ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro Onyx Lorenzoni, passou para o segundo turno em primeiro lugar, com 37,5% dos votos válidos, e vai enfrentar o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que havia renunciado ao comando do Estado em março para tentar disputar a presidência da República, plano que acabou não se concretizando.

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Em São Paulo, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) também ficou em primeiro lugar, com 42,32% dos votos válidos, e vai disputar o segundo turno contra Fernando Haddad (PT), que obteve 35,70%.

A grande novidade ficou com o terceiro lugar do candidato do PSDB, partido que ganhou todas as eleições ao governo de São Paulo desde 1994. O tucano Rodrigo Garcia, atual governador, obteve 18,40%.

"Essas eleições foram uma derrota muito grande do PSDB. Dá mesma maneira que o bolsonarismo já tinha derrotado o PSDB em 2018, ele confirmou essa derrota agora. De fato, o partido caminha aí para a extinção", opinou Almeida.

"Lula ficou muito próximo de vencer no primeiro turno. Teoricamente é muito mais fácil para Lula vencer no segundo turno do que para Bolsonaro.

Disputa na Câmara dos Deputados

Expoentes importantes do bolsonarismo também tiveram votação expressiva na disputa pela Câmara dos Deputados.

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O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (PL) foi o segundo mais votado no Rio de Janeiro. Com 99,99% das urnas apuradas, ele tinha mais de 205 mil votos, ficando atrás apenas da Daniela do Waguinho (União Brasil), com mais de 213 mil.

Já em São Paulo, com a apuração encerrada, o primeiro lugar ficou com a esquerda: Guilherme Boulos, do PSOL, obteve mais de um milhão de votos.

Os três seguintes mais votados, porém, são do campo bolsonarista. Carla Zambelli (PL) foi reeleita com 946.244 votos. O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PL), também foi reeleito com 741.701 votos. E o ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles (PL) foi o quarto mais votado, com 640.918 votos.

No saldo geral do país, o PL, partido de Bolsonaro, caminha para eleger a maior bancada da Câmara dos Deputados, seguido da federação formada por PT, PCdoB e PV.

- Esse texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-62974536

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