BRASÍLIA - A seis dias das eleições, o presidente Jair Bolsonaro ignorou a ação do Ministério Público Eleitoral do Rio e nesta segunda-feira, 9, transformou novamente sua live em horário eleitoral gratuito. Além de pedir votos, mais uma vez, para seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que disputa a reeleição como vereador no Rio, Bolsonaro fez campanha para vários candidatos a prefeito, como Celso Russomanno, em São Paulo, falou em "varrer o comunismo do País" e disse haver "cinquenta mil" postulantes às Câmaras Municipais simpáticos à sua causa.
No último sábado, o MP Eleitoral do Rio solicitou a investigação de práticas de ilícitos cometidos por Bolsonaro na transmissão ao vivo de quinta-feira, quando ele pediu votos para dez candidatos a vereador - incluindo seu filho "02" Carlos - e sete postulantes a prefeituras. Naquele mesmo dia, no entanto, o presidente desafiou o MP e anunciou em outra live que, a partir desta segunda-feira, 9, faria o "horário gratuito" diariamente até o sábado, véspera das eleições. Antes, suas transmissões ao vivo, sempre usando como cenário o Palácio da Alvorada, eram apenas às quintas-feiras.
"Nós temos quinhentos e cinquenta mil candidatos pelo Brasil. Acredito que, desses, meio milhão são (sic) candidatos a vereadores. E, no mínimo aí, 10% disso é simpático à minha causa. Então temos, no mínimo, cinquenta mil simpáticos a nossa causa aí", disse Bolsonaro na live. "Eu não tenho como fazer campanha nem para 1% desses todos. Então, vamos fazer campanha para alguns".
Ao pedir votos para Russomanno em São Paulo, Bolsonaro disse que o candidato do Republicanos era "perfeitamente afinado" com ele. "Uma eleição difícil; São Paulo é o terceiro orçamento do Brasil. E é, obviamente, a cidade mais importante aqui, por ocasião das eleições. (...) Eu peço a você, em especial indeciso, que vote no Celso Russomanno para ajudar o governo a seguir o seu rumo", insistiu Bolsonaro.
Pesquisa Ibope/TV Globo/Estadão divulgada nesta segunda-feira, 9, mostrou que o prefeito Bruno Covas (PSDB) subiu seis pontos porcentuais e se isolou na liderança da corrida municipal. Covas tem agora 32% das intenções de voto. Russomanno mantém tendência de queda e hoje está com 12%. Disputa a vaga no segundo turno com Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB).
Quando citou Carlos Bolsonaro, o presidente não poupou elogios ao trabalho feito pelo "02", durante a campanha de 2018, nas redes sociais. "Obviamente, se não fosse ele, não teria sido eleito", afirmou o presidente. "Sou suspeito para falar sobre ele, mas eu peço de coração que você do Rio de Janeiro, que votou em mim, se for possível, vote nele por ocasião das eleições agora para vereador do Rio de Janeiro", apelou Bolsonaro, que ainda deu o número do filho candidato.
Na lista dos que o presidente tentou alavancar na propaganda política ao vivo do Alvorada também estava o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), em queda nas pesquisas. "Ele é um candidato que tem o couro grosso e tem como resistir (...), está resistindo", disse Bolsonaro. Crivella foi alvo, recentemente, de ação de busca e apreensão da Polícia e do MP no âmbito de inquérito instaurado para investigar organização criminosa e esquema de corrupção na Prefeitura do Rio.
Acompanhado no início da live por Delegada Patrícia, candidata à prefeitura do Recife pelo Podemos, Bolsonaro apontou a artilharia contra a esquerda. "Partidos que tinham cores vermelha e foice e martelo mudaram isso nessas eleições. Se você quer que não se repita, invista em seu município e não vote em partido de esquerda", afirmou. "Não aceitaremos e vamos varrer o comunismo e o socialismo neste País."
'Vamos pintar de verde e amarelo o Nordeste', diz Bolsonaro
No Recife, pesquisas apontam um segundo turno entre os primos João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT). Delegada Patrícia, nome citado por Bolsonaro, enfrenta dificuldades na disputa. "Eu apelo especialmente para quem está indeciso. Vamos ter canal direto com ela", pediu Bolsonaro em seu horário gratuito. "Vamos buscar uma maneira de pintar de verde e amarelo o Nordeste", destacou. Até recentemente, o Nordeste era reduto do PT, mas o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem perdendo apoio na região.
Antes de fazer campanha para seus candidatos, Bolsonaro ainda citou "alguns países da América do Sul" que, segundo ele, foram "pintados de vermelho". Mas mencionou explicitamente apenas a Venezuela. A "ameaça" do retorno da esquerda sempre ganha destaque nas manifestações de Bolsonaro quando ele tenta angariar apoio.