Um vídeo da campanha de Jair Bolsonaro (PL) que mente sobre a inocência de seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi a publicidade mais frequente do candidato à reeleição no Google Ads no segundo turno, com 18 inserções. A peça é alvo de ação por direito de resposta no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por parte da campanha petista.
Nela, são usados trechos antigos e descontextualizados de falas de jornalistas e juristas sobre as investigações de Lula, omitindo que o petista teve as condenações anuladas e é considerado inocente.
Na quarta-feira (19), decisões de ministros do TSE haviam concedido inserções de direito de resposta a Lula em programas eleitorais de Bolsonaro nos quais ele é acusado de associação com crimes e corrupção. Após recurso da campanha de Bolsonaro, a ministra Maria Cláudia Bucchianeri suspendeu a decisão, e o assunto será decidido neste sábado (22) no plenário virtual da corte.
O anúncio começou a ser exibido no YouTube no dia 11 de outubro e permanece no ar, tendo custado até agora R$ 28 mil à campanha do presidente — os custos podem aumentar conforme a exibição continua. A propaganda já atingiu ao menos 2 milhões de visualizações.
Além desta peça, a campanha do presidente pagou por outras dez inserções publicitárias com ataques ao petista. Um vídeo, presente em quatro inserções, dizia que Lula apoia o aborto — o que foi desmentido pelo próprio candidato em outro anúncio.
O Radar Aos Fatos analisou todos os anúncios pagos pela campanha de Bolsonaro no Google entre a segunda-feira seguinte ao primeiro turno (3) e esta quinta-feira (20).
- Ao todo, Bolsonaro fez 230 inserções publicitárias na plataforma no período, com investimento estimado entre R$ 950 mil e R$ 1,28 milhão e alcance entre 76 e 90 milhões de visualizações;
- Dessas inserções, 41% (95) continham ataques ou desinformação, com um custo de até R$ 358 mil e somando pelo menos 25 milhões de visualizações;
- Outras cinco não estão mais disponíveis.
Depois dos ataques a Lula, a principal desinformação disseminada pelos anúncios do presidente diz respeito ao Auxílio Brasil. Em 14 anúncios, Bolsonaro omite que a lei criada por seu governo, não prevê o valor de R$ 600, mas de R$ 400. O adicional de R$ 200 às parcelas do Auxílio Brasil será pago até o final do ano de 2022 e não está previsto na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2023.
Os anúncios também desinformam sobre outras medidas do governo:
- Em 11 inserções, o presidente voltou a mentir sobre ter criado o Pix, projeto idealizado desde 2016 pelo Banco Central. A desinformação já havia aparecido em anúncios de Bolsonaro veiculados no primeiro turno, como mostrou o Aos Fatos;
- Oito peças desinformam sobre a renegociação da dívida de estudantes do Fies, que ainda não começou;
- A alegação mentirosa mais repetida por Bolsonaro — de que em seu governo não há corrupção — também apareceu em sete de seus anúncios no Google durante o segundo turno;
- Sobre meio ambiente, cinco anúncios distorcem números de incêndios registrados na Amazônia e três mentem sobre a área preservada no país;
- Três inserções, também exibidas na televisão, ainda trazem informações falsas sobre a condução da pandemia de Covid-19.