BRASÍLIA - O silêncio de mais de 37 horas do presidente Jair Bolsonaro (PL) não freou aliados e órgãos públicos de admitir a derrota para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Integrantes do governo se colocaram à disposição da chapa eleita e vão trabalhar na transição da gestão.
Neste segundo dia de silêncio, Bolsonaro recebeu visitas de militares e aliados no Palácio da Alvorada, em Brasília. O filho mais velho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o candidato a vice na chapa derrotada, general Braga Netto (PL), o ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Augusto Heleno, e o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ), estiveram na residência oficial do presidente.
Enquanto Bolsonaro silencia, seus aliados mantêm conversas com a chapa eleita. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, telefonou para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), na segunda-feira, 31, para iniciar as tratativas sobre a transição de governo. Segundo o QG petista, o ministro se colocou à disposição para tratar do assunto, mas ressaltou que ainda não sabe quem será o indicado por Bolsonaro para trabalhar na transição. A conversa, também segundo aliados de Lula, foi cordial.
O vice-presidente Hamilton Mourão mandou uma mensagem para o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), para parabenizá-lo. Alckmin, a partir disso, telefonou para Mourão para agradecer.
Mourão se antecipou ao presidente Jair Bolsonaro e instruiu servidores da Vice-Presidência a facilitar o trabalho de transição, tornando disponíveis todas as informações para a equipe de Lula.
Os contatos reforçaram a avaliação da equipe de Lula de que é possível ter um cenário de transição pacífica. A aposta no QG petista é de que Bolsonaro irá reconhecer a derrota. Emissários foram escalados para fazer as pontes com os aliados de Bolsonaro no Congresso e no governo, com esse intuito.
A Caixa Econômica Federal (CEF) afirmou, por meio de nota, que irá fornecer "as informações solicitadas pelo coordenador da equipe de transição" do governo atual para a gestão do presidente eleito e que dará "apoio" ao trabalho.
"A Caixa irá fornecer as informações solicitadas pelo Coordenador da equipe de transição e prestará o apoio técnico e administrativo necessários aos seus trabalhos", diz a nota completa.
Conforme mostrou o Estadão/Broadcast na segunda, 31, a presidente da Caixa, Daniella Marques, pode participar da equipe de transição de governo. Daniella foi o braço-direito do ministro da Economia, Paulo Guedes, durante o processo de mudança da gestão de Michel Temer para a de Jair Bolsonaro, no fim de 2018. Na segunda, ela participou de uma reunião no Palácio do Planalto com Guedes e os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Fábio Faria (Comunicações) e Carlos França (Relações Internacionais).
O Banco do Brasil também já informou que irá prestar "todas as informações que forem solicitadas". Embora o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Economia ainda não tenham se pronunciado sobre o resultado das urnas, a equipe econômica se prepara, conforme fontes consultadas pelo Estadão/Broadcast, para participar de forma "transparente" do governo de transição, previsto em lei.
A Escola Nacional de Administração Pública (Enap), vinculada ao governo, também colocou suas "instalações, expertise, soluções e corpo técnico à disposição do atual governo e da equipe de transição" para colaborar "em prol de um processo republicano e constitucional de transferência de poderes".
"Fazemos ainda um convite a todas as instituições do estado brasileiro para que se reúnam à Enap neste compromisso. Estamos certos de que a democracia brasileira sairá mais resiliente e fortalecida ao final desse processo", registrou em mensagem publicada em seu perfil no Twitter.