O deputado Jair Bolsonaro (PSL) se elegeu presidente graças à metade mais rica - ou menos pobre - da população brasileira, e perdeu para Fernando Haddad (PT) na metade de baixo da pirâmide de renda. Apesar de ter sido alvo do #elenão, movimento político capitaneado por mulheres contra sua candidatura, o presidente eleito provavelmente venceu por pequena margem no segmento feminino.
O recorte de renda foi o mais importante na definição do resultado: entre os eleitores que ganham mais de dois salários mínimos, Bolsonaro venceu com folga em todas as faixas etárias e de escolaridade, e também em todas as regiões, com exceção do Nordeste.
Já a segmentação do eleitorado por gênero indica que mulheres votaram de forma diferente de acordo com sua posição social e idade - as mais jovens, as mais pobres e as menos escolarizadas optaram majoritariamente por Haddad.
Os resultados oficiais da eleição permitem apenas a análise geográfica dos resultados - afinal, o voto é secreto. Só é possível saber como se comportaram os brasileiros segundo gênero, idade, renda e escolaridade graças à pesquisa de boca de urna do Ibope, que ouviu 30 mil eleitores no dia 28 de outubro, depois que eles já haviam teclado sua opção na urna eletrônica.
A pedido do Estado, o Ibope dividiu a amostra da boca de urna em metades, seguindo dois critérios diferentes. O primeiro foi o de gênero, para analisar como votaram homens e mulheres segundo sua idade, renda, escolaridade e região. E o segundo foi o de renda - de um lado, os que ganham até dois salários mínimos, e do outro, os que recebem acima disso.
Na metade mais pobre, Fernando Haddad ficou à frente: 53% a 47%, levando em conta apenas os votos válidos - excluídos brancos e nulos. Na metade menos pobre, Bolsonaro teve dois em cada três votos (67% a 33%).
A divisão do eleitorado por gênero revela que Bolsonaro venceu por 61% a 39% na metade masculina. Entre as mulheres, o placar foi de 52% a 48%. Trata-se de um empate técnico no limite da margem de erro, que é de dois pontos porcentuais. Mas a probabilidade de o candidato do PSL ter ficado à frente é muito maior do que o contrário.
No eleitorado masculino, o domínio de Bolsonaro foi quase total. Ele só não venceu entre os homens com renda de até um salário mínimo, os que estudaram até a quarta série e os que são do Nordeste. Nesses segmentos, Haddad teve 61%, 59% e 61%, respectivamente.
As mulheres deram a Bolsonaro uma vitória folgada em quase todo o País - foram as nordestinas que votaram em peso em Haddad e equilibraram o placar nacional. No Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste, o candidato do PSL teve no segmento feminino vantagem de 28, 20 e 14 pontos porcentuais, respectivamente. No Nordeste, o candidato petista venceu por 46 pontos de folga (73% a 27%).
Só as mulheres com renda inferior a dois salários mínimos votaram majoritariamente em Haddad - na faixa das que ganham de dois a cinco mínimos, Bolsonaro venceu por 62% a 38%. Entre as com renda superior a cinco mínimos, o militar reformado teve 64% das preferências.
A maior divergência no voto entre homens e mulheres se deu entre os mais jovens. Os rapazes de 16 a 24 anos votaram em Bolsonaro na proporção de 60% a 40%. Já as garotas da mesma idade deram a Haddad 59% a 41%.
O domínio de Haddad não foi generalizado também entre os mais pobres. Dos que ganham até dois salários mínimos, a vantagem do petista se deu dentro da margem de erro da pesquisa entre os mais velhos (acima de 55 anos) e na faixa de 25 a 34 anos, por exemplo, E o petista não venceu entre os que têm baixa renda e alta escolaridade (mais de nove anos de estudo).
No Nordeste, principal reduto petista, Haddad teve vantagem de 44 pontos no segmento que ganha até dois mínimos, e de apenas 4 (empate técnico no limite da margem) entre os que têm renda acima disso.
A pesquisa do Ibope foi registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo BR-07268/2018 e divulgada no domingo, 28 de outubro.