A 10 dias do segundo turno das eleições municipais, Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) apostaram no eleitorado feminino. Boulos aproveitou a ausência de Nunes em mais um debate -- desta vez promovido pela RedeTV, Folha de S. Paulo e UOL -- para seguir criticando a sua gestão pelo apagão em São Paulo e participou de caminhada sem a presença de sua vice, Marta Suplicy (PT). Já Nunes faltou ao debate, cancelou inicialmente a sua agenda para focar em 'ações de prevenção contra as mudanças climáticas', mas mudou de ideia e participou de encontro com mulheres na noite desta quinta-feira, 17.
- Acompanhe a cobertura completa das Eleições 2024 no portal Terra e fique por dentro de todas as notícias.
Conflito de agenda de Nunes
O dia de campanha de Ricardo Nunes começou com uma certa inconstância. Ele, que já havia conformado participação no debate promovido pela RedeTV, Folha de S. Paulo e UOL, cancelou a sua ida, transformando o 'confronto' em uma sabatina com Guilherme Boulos.
Em nota, a emissora lamentou a ausência do atual prefeito: "Os organizadores lamentam que, após mais de uma semana de negociação com as campanhas, Nunes não tenha encontrado na agenda do governador horário diferente para a reunião. Em respeito aos eleitores, ao regramento e ao acordo debatido exaustivamente com as campanhas, será feita a entrevista com Boulos".
Boulos, por sua vez, aproveitou a sabatina para criticar Nunes e o chamou de fantoche do governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). "Mais uma vez o Ricardo Nunes fugiu. Ele já havia, durante três anos e meio, fugido das responsabilidades de prefeito, só veio trabalhar no tempo de eleição. Agora, nessa semana, fugiu das responsabilidades dele em relação ao apagão, jogando sempre para os outros, nunca assumindo seus erros. E hoje, foge do debate, porque tem medo de debater ideias", disse o psolista.
Horas depois da sua ausência no debate, Nunes também cancelou a sua agenda de compromissos de campanha. O motivo alegado foi uma reunião extraordinária convocada por Tarcísio de Freitas para discutir plano de ação para mudanças climáticas frente à previsão de chuvas fortes e ventania para a cidade nos dias 19, 20 e 21 de outubro.
Ao final da reunião, que contou com a presença de representantes da Enel, da Agência Nacional de Energia Elétrica e da Defesa Civil, Nunes evitou conversar com a imprensa.
Ao longo do dia, conflitos de informações marcaram a agenda do emedbista. A campanha informou que os compromissos do dia estavam cancelados, o que incluía uma visita à Fundação Dorina Nowill para Cegos, entrevista ao vivo ao programa Arena, da CNN Brasil, e o evento Mulheres do 3º Setor com Ricardo Nunes.
A visita à Fundação Dorina Nowill para Cegos, no entanto, aconteceu. A entrevista para a CNN foi adiada, e, às 16h49, a presença de Nunes no evento com mulheres do 3º setor, às 20h, em hotel da região central, acabou sendo confirmada.
Lá, ele cumpriu o protocolo. Tirou fotos e conversou com os apoiadores. O emedebista rejeitou o discurso de 'já ganhou', reforçado também pela sua líderança nas pesquisas eleitorais -- o Datafolha o colocou com 51% das intenções de votos contra 33% de Boulos.
"Muita gente falando 'já ganhou'. Isso é a pior coisa que pode existir, não existe 'já ganhou'. A gente tem que trabalhar até às 17h do dia 27, porque estamos falando do futuro da nossa família, do futuro da nossa cidade, e é algo que a gente precisa levar com muita responsabilidade", afirmou Nunes.
Sobre a expectativa para o debate de sábado, 19, organizado pela Record TV e Estadão, Nunes deixou a sua participação condicionada ao 'clima'.
"Conversei com o pessoal da Record e pedi a compreensão deles, porque temos um alerta da Defesa Civil de fortes chuvas na sexta-feira, a partir das 16 horas, e no sábado", iniciou. "Num eventual colapso da cidade, a situação vai exigir a presença do prefeito", acrescentou ele ao explicar sua possível ausência do debate.
Ainda segundo o candidato à reeleição, a expectativa é que os pontos definidos na reunião extraordinária agendada pelo governador Tarcísio de Freitas, Enel e Defesa Civil, sejam colocados em prática durante e após o temporal previsto para os próximos dias. Entre eles estão: priorização de hospitais, escolas e UBS, que devem ter a priorização no reestabelecimento da energia e, envio de geradores, viaturas dedicadas para as ocorrências de queda de árvores e acesso ao Centro de Controle e Operações (CCO) da Enel, para ter informações sobre as questões operacionais (quantas equipes estão disponíveis e locais sem energia elétrica, por exemplo).
Caminhada do Boulos
Guilherme Boulos realizou dois eventos de rua na tarde de quinta-feira, 17, o primeiro sendo um encontro rápido com esportistas e, como segundo compromisso, uma caminhada das mulheres na Praça da República, no centro de São Paulo.
Sem a presença de sua vice, Marta Suplicy, o candidato seguiu pela rua 7 de Abril rodeado de mulheres, assim como sua esposa, Natalia Szermeta, e sua mãe, Maria Ivete Castro Boulos.
Com mira no voto feminino, o psolista deu ênfase nas propostas que contemplam, principalmente, esse público. Em coletiva à imprensa, ele citou três propostas: o programa Acredita Mulher (incentivo ao empreendedorismo de mulheres periféricas), aumento do Patrulha Maria da Penha e ainda prometeu compor metade do secretariado com mulheres. "Não basta fazer política para as mulheres, é preciso ter política com protagonismo das mulheres", afirmou, recebendo palmas.
No entanto, a caminhada não focou só nas propostas. O psolista criticou seu adversário, Ricardo Nunes, duramente, chegando a fazer menção ao boletim de ocorrência de violência doméstica, o que causou comoção entre o público. "Nós temos uma missão que é pelas vidas das mulheres, em honra às mulheres vítimas de violência na cidade de São Paulo, que é garantir um projeto que não vai aceitar agressor de mulher nem na rua, nem na gabinete de prefeito", discursou.
Em meio a um coro de "fujão" e "covardão", o candidato também citou a ausência do adversário em dois debates. "O povo de São Paulo pode aceitar muita coisa, mas tem algo que o povo de São Paulo não aceita e nem nunca aceitou. O povo de São Paulo não aceita covarde, muito menos na cadeira de prefeito", disse em frente ao Theatro Municipal.
O local também será palco de um evento pela manhã desta sexta-feira, 18, em que Boulos responderá perguntas da população no modelo de debate - uma resposta à ausência de Nunes nos encontros.
Os sucessivos eventos de rua visam garantir estreitar a margem de intenção de voto. Embora o candidato tenha se recusado a comentar sobre a nova pesquisa do Datafolha -- na qual ele manteve 33% da preferência do eleitorado --, a campanha afirmou estar esperançosa que haverá uma virada nos próximos 10 dias até o segundo turno. Entre as grandes apostas, está a falta de energia há cinco dias em diversos bairros da cidade - assunto amplamente explorado pelo psolista.