Candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) fez um balanço geral das eleições municipais deste ano. Para ele, a direita saiu fortalecida e "esquerda foi derrotada no país Todo". O psolista também comparou o Brasil com o Irã, com o crescimento da extrema direita e do fundamentalismo religioso. As declarações foram feitas em entrevista à colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo.
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O deputado federal está descansando após a campanha que considerou "duríssima". Boulos deve retornar à capital paulista ainda esta semana. Ele resumiu não ter perdido a eleição para o prefeito Ricardo Nunes (MDB), mas para "um consórcio em torno do projeto Tarcísio 2026", em referência à possível candidatura do atual governador de São Paulo à Presidência.
"Eu pude sentir na pele o peso da aliança de setores econômicos, políticos e midiáticos que sonham com essa ideia de um bolsonarismo moderado, capaz de derrotar o Lula e a esquerda. E que viam a eleição de São Paulo como uma prévia para viabilizar esse projeto", disse Boulos.
O psolista considerou que um dos nomes mais fortes dessa eleição foi o de Pablo Marçal (PRTB). Para Boulos, foi o ex-coach quem decidiu as eleições.
"Eu nunca vi, a 48 horas da eleição, um laudo falso dizendo que um candidato foi internado por uso de drogas. Aliás, para mim, quem decidiu essa eleição foi o Pablo Marçal. Era uma coisa tão bizarra, tão ofensiva, que ele normalizou o Ricardo Nunes, que parecia bonzinho perto dele", disse.
Boulos criticou ainda a postura da imprensa com relação a Marçal. Para ele, não havia necessidade de convidar o ex-coach para todos os debates. Ao falar disso, Boulos também comentou a sua decisão de participar de uma sabatina realizada pelo candidato derrotado no primeiro turno.
"Eu não fui dialogar com o Marçal. Eu busquei dialogar com os eleitores do Pablo Marçal. E precisava fazer isso. Ninguém que quisesse ganhar essa eleição, já no segundo turno, avançaria sem conversar com os eleitores dele. Se eu recusasse, seria uma covardia da minha parte, de não tentar ganhar", afirmou.
Sobre o cenário das eleições em 2026, quando é disputada a Presidência do país, Boulos se mostrou receoso. Ele teme que a esquerda sofra "uma derrota histórica, que inauguraria um longo ciclo da extrema direita no poder no Brasil".
Para Boulos, a esquerda só ganhou em 2022 porque o candidato era Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "E só quem pode fazer isso novamente em 2026 é ele. Lula é o fator que separa o Brasil do abismo da extrema direita e do fundamentalismo. Quem achou que o bolsonarismo estava no fim porque perdeu a Presidência fez uma leitura apressada", disse.
O psolista defende que a esquerda "saia da defensiva". Citando o sociólogo Jessé Souza, Boulos disse acreditar que há um risco de que o Brasil se torne um Irã, por causa do fundamentalismo religioso em ascensão, com traços de México, por causa do crescimento do crime organizado e milicias.
"A entrada do crime organizado e da milícia [na política] nos leva à possibilidade de um futuro muito difícil, de uma mistura de Irã com México, historicamente marcado pelo crime, por cartéis e por assassinatos. Por isso essa disputa tem que ser feita agora. Não falta sonho para a esquerda. O que falta hoje é a disputa desse sonho na sociedade", afirmou.