Brasil está longe de ter presidente indígena, diz Kaká Werá

Candidato a senador disse que os indígenas no Brasil precisam ser incluídos na sociedade mediante a educação

13 set 2014 - 21h23
(atualizado em 14/9/2014 às 09h31)
<p>Werá, membro da tribo Tapuias que foi criado pelos guaranis em São Paulo, é candidato a senador pelo PV</p>
Werá, membro da tribo Tapuias que foi criado pelos guaranis em São Paulo, é candidato a senador pelo PV
Foto: Aaron Cadena Ovalle / EFE

O Brasil está longe de poder ter um presidente indígena, afirmou neste sábado o escritor e ativista ambiental Kaká Werá, primeiro indígena a se candidatar ao cargo de senador.

Werá, membro da tribo Tapuias que foi criado pelos guaranis em São Paulo, é candidato a senador pelo PV e afirmou que é preciso um salto cultural para o Brasil poder ter um presidente indígena, assim como acontece na Bolívia com Evo Morales.

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"Um presidente indígena é possível, mas ainda falta muito por percorrer. Será uma etapa muito longa e o primeiro a ser feito é dissolver os preconceitos que existem contra os indígenas no Brasil", disse ele em entrevista concedida à agência EFE.

Em uma construção típica de barro e palha no município de Itapecerica da Serra, o candidato a senador disse que os indígenas no Brasil precisam ser incluídos na sociedade mediante a educação.

"A presença indígena deve ter maior envergadura na sociedade para que essa possa romper com o preconceito para poder, então, ter um candidato a presidente", explicou.

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E nesse sentido o escritor, que realiza seminários em países da Europa e da América, além de ações sociais e ambientais em favor dos indígenas brasileiros, apontou que geralmente se lembra a escravidão dos africanos trazidos para a América, mas não os três séculos de escravidão indígena.

"Isso se deve ao fato de que diversos intelectuais e líderes políticos negros mantiveram o poder de consciência e da luta ao longo do tempo. No entanto, a comunidade indígena e eu começamos um trabalho cultural há apenas 15 anos".

De pais tapuias (originais do que hoje é o estado de Minas Gerais), Kaká Werá foi criado com os guaranis de São Paulo, mas não se apresenta como um candidato indígena. Ele é um candidato com plataformas como os outros, só que com origem indígena.

Com diálogo com instituições como a da ex-primeira dama francesa Danielle Miterrand, ele questiona por que, enquanto no exterior é dada atenção ao modo de vida ancestral para encontrar o desenvolvimento sustentável, em seu próprio país "isso é visto com um olhar 'primitivo' e de barbárie".

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Ele esclarece, no entanto, que essa visão muda quando a sabedoria indígena é aplicada ao cotidiano do século XXI, como em projetos de geração de energia sustentável, de floresta agrícola que preserva o solo e de cooperativismo.

Seu trabalho para gerar projetos empreendedores indígenas inclui a geração de renda mediante a apresentação de artesanato, música, dança e outras expressões culturais.

Segundo o censo de 2010, quase 900 mil indígenas ocupam o território brasileiro, o equivalente a 0,47% da população. De acordo com Kaká Werá, com base em um trabalho da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 63% da população brasileira têm genes indígenas.

Em termos políticos, Kaká Werá disse que por diferentes forças políticas o Brasil chegou ao recorde de ter 85 candidatos dos povos originais.

Com menos de 2% de intenções de voto, conforme as pesquisas para conseguir a cadeira no Senado pelo estado de São Paulo, o indígena apoia Eduardo Jorge, candidato do PV à presidência. Contudo, entre os três presidenciáveis com mais possibilidades de vencer ele tem proximidade pelos assuntos ambientais com Marina Silva, do PSB, e pela agenda econômica proposta por Aécio Neves, do PSDB.

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Com quem mais tem diferenças, afirmou, é com a presidente Dilma Rousseff: "Ela é do PT, que deu muita inclusão social aos mais pobres e aos negros, mas sua política indígena deixou muito a desejar".

Nesse aspecto ele apontou que o governo de Dilma defende as centrais hidrelétricas que são construídas na Amazônia, no lugar de outros tipos de energias renováveis "que devem ser o modelo para o século XXI".

Sobre a Amazônia, ele opinou que existem nos países europeus "uma geração de jovens que compartilha o ideário do desenvolvimento sustentável dos países sul-americanos".

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