Aos 67 anos, o apresentador José Luiz Datena (PSDB) viveu uma campanha eleitoral ‘do sonho ao pesadelo’. Oficialmente na corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo pela primeira vez após quatro desistências em pré-candidaturas distintas, a jornada de Datena na eleição 2024 ficou marcada por poucas idas às ruas, choro e uma ‘cadeirada’ que o tirou de vez da disputa.
- Confira no Terra os resultados do primeiro turno das eleições 2024
Com o fim da apuração das urnas do primeiro turno neste domingo, 6, Datena figurou como o quinto candidato na corrida à Prefeitura paulistana, com 1,84% dos votos válidos. O cenário é diferente do que apontavam as primeiras pesquisas de intenção de voto.
Ainda no período de pré-candidatura, o apresentador aparecia na disputa pelo 2º turno, ao lado do atual prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) e do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). O panorama não considerava, ainda, a entrada do influenciador e ex-coach Pablo Marçal (PRTB) no páreo.
À medida em que os números indicavam o apresentador com cada vez menos chances de levar a eleição, Datena passou a ir cada vez menos para as ruas, e, em entrevistas, já dava sinais de cansaço e, como o próprio definiu, arrependimento.
Ao Terra, o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Sérgio Praça explicou que, de saída, Datena sofreu com um ‘racha’ em sua sigla, tradicional na disputa por São Paulo, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
“O Datena fez um acordo com o José Anibal, presidente do PSDB em São Paulo, para sair candidato pela sigla, e a militância do partido, comandada pelo Fernando Alfredo, que era o presidente municipal e até foi expulso, se fragmentou e nunca apoiou o Datena. Faltou a ele essa militância que apoiou o Nunes, por exemplo, por baixo dos panos”, afirma Sérgio.
O ‘esvaziamento’ do PSDB, por exemplo, foi citado pelo apresentador no início da campanha. Incomodado pela postura dos correligionários, Datena afirmou que, após a queda em seus números divulgada pelas primeiras pesquisas, recebeu ‘poucas ligações’.
"Quando eu estava em primeiro lugar nas pesquisas, soltei rojões, agora que caí, quase ninguém me ligou", desabafou o candidato durante sabatina no fim de agosto, que também lamentou: “Escolhi a eleição errada”.
O choro também marcou a campanha de Datena, que se emocionou em outra entrevista e cogitou desistir da política em caso de fracasso na corrida eleitoral de 2024. À época, havia deixado a disputa pelo segundo turno e já aparecia como o quinto nas intenções de voto.
"Se eu não for eleito prefeito de São Paulo, pra mim acabou a política. Foi uma boa experiência, espero que seja, espero ser eleito ainda, tenho esperança de ir para o segundo turno", disse. "O que eu gostaria de ter sido, vou morrer sem cumprir meu sonho", lamentou, referindo-se à sua ambição de ser eleito senador.
'Cadeirada’ e campanha confusa
Em uma corrida eleitoral imprevisível, o projeto político de Datena foi prejudicado por uma campanha mal definida, explicou Praça.
“Imagino que nem ele saiba dizer o que é. Não dá para chamar de conservador, nem de progressista, é realmente uma incógnita. E nesse cenário temos Tabata, Boulos, Nunes, Marçal, candidatos que já representam centro, esquerda, centro-direita, direita. Encaixar mais um candidato nisso é difícil”, avalia o especialista.
Praça também reflete sobre a queda do desempenho do apresentador nas pesquisas. “A impressão que tenho é que o Marçal pegou esse eleitorado. Porque ele o Datena é um cara famoso, da TV, reconhecido, então as primeiras pesquisas captam quem o eleitorado conhece”.
“Só que a campanha dele foi muito fraca, não era uma campanha que tinha algo a dizer. Também tinha a questão de que ele poderia desistir da candidatura. E o episódio da cadeirada, enfim, pôs um prego na campanha dele”, destaca o especialista.
Praça se refere ao episódio em que Datena agrediu Pablo Marçal com uma cadeirada ao vivo, no dia 15 de setembro, durante o debate promovido pela TV Cultura. O evento acabou interrompido temporariamente após a agressão. Para Praça, o caso justifica o alto índice de rejeição do eleitorado contra Datena.
“Foi uma eleição com muita confusão, incivilidade, até violência. Os debates, por exemplo, têm tido pouco efeito sobre os votos, com exceção do caso da cadeirada. Para mim, teve real efeito negativo na campanha do Datena”, citou.
Expectativa de retorno à TV
Ao registrar o voto neste domingo, Datena falou sobre o período eleitoral, sua trajetória política e comentou a expectativa pela volta à TV. "Foi uma campanha de reconstrução do PSDB, que passa por uma fase difícil, mas tem história e vai voltar a ser o partido que sempre foi", disse
O jornalista também informou que retornará à televisão após as eleições, mas antes tirará férias. "Vou sair de férias por 20 dias, porque não seria ético voltar direto para a TV com o segundo turno em andamento", explicou.
Oficialmente, a TV Bandeirantes, 'antiga casa' do apresentador antes da candidatura, não comenta sobre a possibilidade de um retorno de Datena frente às câmeras.
Ao Terra, uma fonte ligada à emissora citou que, nos bastidores do Brasil Urgente, a equipe acredita que Datena não deve retornar ao programa, hoje apresentado por seu filho, Joel Datena, de 47 anos. Também não há previsão de retorno do veterano à emissora e se isso acontecerá, de fato.
Em entrevista após o resultado, Datena afirmou que o "desempenho não estave à altura do PSDB". "Nós fizemos o que pudemos, a gente trabalhou com recursos reduzidos, mas é claro também que o meu desempenho como candidato não foi à altura de um candidato do tamanho do PSDB", afirmou à imprensa.
"A gente fez o que pode, tentamos construir ambientes democráticos, a gente tentou chegar até o povo, a gente tentou falar com o povo, se o povo opta por candidatos que ele julga melhor, nós temos que aceitar", completou o apresentador.