“Gente, estou aqui para cumprir o prometido. Eu falei para vocês que ia dizer o que um deputado federal faz. Deputado federal trabalha muito e produz pouco”, disse Tiririca no horário eleitoral na TV.
Se o deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca (PR-SP), for reeleito no próximo domingo, ninguém poderá acusá-lo de faltar com a verdade. No caso dele, trabalhar muito e produzir pouco faz todo sentido: em quatro anos na Câmara, o palhaço Tiririca apresentou apenas oito projetos, sendo que nenhum deles foi transformado em lei; em contrapartida, não faltou a nenhuma votação em plenário.
Dos oito projetos de lei que Tiririca apresentou, seis são voltados ao universo de sua categoria – ou seja, o circo. Os textos propõem o reconhecimento da atividade circense como manifestação cultural (PL 5095/2013); a isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos usados na atividade circense (PL 3544/2012); e a criação de programas de amparo às famílias itinerantes do circo (PL 1527/2011), entre eles o projeto que pede garantia de vagas em escolas públicas e particulares aos filhos dos artistas (PL 3543/2012).
Há, ainda, a proposta que altera o programa Minha Casa, Minha Vida para equiparar trailer e motor home, “usados por populações itinerantes”, à habitação popular (PL 5094/2013); e o projeto que institui o “Diploma Amigo do Circo” (PL 3542/2012). Com exceção deste último, já arquivado, todos foram aprovados em alguma comissão, mas ainda aguardam parecer em outra – ou sequer entraram na pauta.
100% presente
Além da pouca produtividade, levantamento do projeto Excelências, da ONG Transparência Brasil, mostra que Tiririca nunca fez um discurso na tribuna. Por outro lado, além de não ter faltado a nenhuma votação nesses quatro anos (a média da Casa é de 18% de faltas), Tiririca usou menos de sua cota parlamentar do que a média dos deputados.
Para Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o mandato de Tiririca foi uma surpresa, no sentido de que não foi o “vexame” nem a “tragédia” que se pensou incialmente. “A expectativa geral era de que seria um mandato caricato, que criaria constrangimento para o próprio Congresso. Não foi um mandato produtivo, indiscutivelmente, mas também não foi a decepção que se imaginava.”
Na opinião de Queiroz, o deputado Tiririca é bem avaliado pela sociedade. “Na utilização da sua verba de gabinete, não há nada que seja contrário ao regimento da Casa. Ele também não criou nenhum escândalo e é assíduo, o que é raro. Nesses pontos ele é inatacável.” Para o diretor do Diap, contudo, Tiririca “não tem preparo para ser um grande debatedor”. “Do ponto de vista da produção legislativa, foi quase nulo. Resultados? Nada.”
Campanha
A promessa de contar ao eleitor o que faz um parlamentar em Brasília foi feita na eleição passada: “O que é que faz um deputado federal? Não sei, mas vote em mim que depois eu te conto”, dizia Tiririca na TV, para emendar: “Vote no Tiririca. Pior do que tá, não fica”. A estratégia deu certo, e em 2010 o palhaço foi o deputado mais votado do País, com 1,35 milhão de votos. Com essa marca, Tiririca foi um verdadeiro “puxador de votos” e levou com ele para a Câmara outros três deputados de sua coligação.
Para a disputa deste ano, pesquisa Ibope divulgada em setembro já aponta Tiririca com um dos favoritos no Estado de São Paulo. Com uma propaganda carregada de humor na TV, o deputado quase não precisou fazer campanha. A peça em que faz paródia com o cantor Roberto Carlos, por exemplo, teve tanta repercussão que continuou sendo exibida na TV mesmo após a proibição da Justiça Eleitoral.
O Terra tentou contato com Tiririca, mas a assessoria do PR informou que ele não daria entrevista. A reportagem ainda pediu ao gabinete um posicionamento sobre a atuação do deputado nesses quatro anos, mas não obteve resposta.