No primeiro dia de campanha eleitoral, candidatos à Prefeitura de São Paulo pretendem pedir votos na periferia da cidade. Mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus, bairros populosos e afastados do centro vão receber, neste domingo, 27, os primeiros eventos oficiais das eleições deste ano. Nos próximos 12 dias, enquanto não tem início a propaganda de rádio e TV, os partidos políticos apostam no trabalho de rua para atrair a atenção dos eleitores.
Segundo a última pesquisa Ibope, a maior parte dos paulistanos com renda baixa e pouca escolaridade está sem candidato. O levantamento, publicado domingo passado pelo Estadão, mostra que 61% dos entrevistados que recebem de um a dois salários mínimos não sabem ou não responderam em quem vão votar - a taxa cai para 48% entre quem ganha até cinco salários. A porcentagem de desinformados também é maior entre aqueles que só concluíram o Ensino Fundamental (67%), se comparados a quem fez o Ensino Médio (58%).
As respostas foram dadas nas perguntas espontâneas, quando o entrevistador não mostra os nomes dos candidatos.
Abaixo, veja as estratégias dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo:
Celso Russomanno (Republicanos)
Ainda sem equipe estruturada, a candidatura do deputado Celso Russomanno (Republicanos), primeiro colocado nas pesquisas, vai contar com apoio presidencial para a disputa. O parlamentar oficializou a sua participação na disputa após sinalização de que receberia apoio de Jair Bolsonaro já no primeiro turno e acabou fechando uma chapa com um vice do PTB, Marcos da Costa. A dupla sedimenta o perfil Bolsonarista da campanha, já que tanto o Republicanos quanto o PTB pertencem à base aliada.
Na noite de quinta-feira, o presidente admitiu a possibilidade de interferir nas eleições municipais de São Paulo, Santos e Manaus se achar que pode influenciar o pleito. A declaração foi dada durante a sua live semanal.
Ao longo da transmissão, reiterou várias vezes que tinha um candidato na capital paulista. "Você está em São Paulo, né? Deve ter candidato já, não precisa falar o nome", disse o presidente, se dirigindo ao ministro Ricardo Salles, que estava ao lado dele durante a live. "Não vou falar o nome dos meus candidatos também. Mas eu tenho um candidato em São Paulo", afirmou. "Você já sabe em que votar em São Paulo? Não precisa falar o nome, não", disse Bolsonaro, mais uma vez se dirigindo a Salles.
O candidato não divulgou qual será seu primeiro evento de campanha neste domingo.
Bruno Covas (PSDB)
A campanha à reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB) na TV vai ter um tom "obrista". "A campanha à reeleição é de defesa da administração, de revelar o que foi feito", disse o publicitário Felipe Soutello, coordenador de comunicação da campanha tucana. Os primeiros programas vão apresentar obras da atual gestão, como 8 novos hospitais, 12 novos CEUs, 10 UPAs, calçadas.
Covas também vai se apresentar como um candidato afinado com uma agenda progressista. Os 12 novos CEUs, por exemplo, receberam nomes de negros que se destacaram na história do Brasil.
As adversidades enfrentadas pelo prefeito tucano na vida pessoal e pública também serão alvo da estratégia tucana. Covas será apresentado com o mote "a mudança segura que São Paulo precisa". Por outro lado, Covas vai acenar para o eleitorado de uma direita liberal ao se apresentar como interessado em desestatização (mercadões, Pacaembu) e das PPPs.
O governador João Doria (PSDB) será usado, segundo aliados, com "moderação" e apenas para reforçar a boa relação com o Palácio dos Bandeirantes.
Seu primeiro evento público neste domingo será acompanhar uma missa em uma igreja na região de Socorro, zona sul.
Guilherme Boulos (PSOL)
Guilherme Boulos (PSOL) vai dar a largada na campanha com a inauguração de seu primeiro comitê eleitoral no bairro de São Mateus, na zona leste. Segundo o coordenador da campanha, Josué Rocha, a ideia é explorar a memória que a população do bairro tem da ex-prefeita Luiza Erundina, vice na chapa de Boulos. "Vamos reforçar este diálogo com a periferia como já aconteceu na convenção (feita na comunidade do Morro da Lua, zona sul). Em São Mateus existe uma memória forte da Erundina principalmente pelos mutirões que ela fez lá", disse Rocha.
Com forte intenção de votos na classe média de esquerda que mora nos bairros centrais, a campanha de Boulos vai se concentrar na periferia. O comitê vai ser em São Mateus. "A campanha vai questionar a grande desigualdade que existe em São Paulo", disse o coordenador.
Segundo ele, terão destaque promessas como a criação de uma renda básica para os mais pobres e o papel mais atuante da prefeitura na geração de empregos.
Márcio França (PSB)
Os estrategistas de campanha do ex-governador Márcio França ainda estão aguardando o resultado de pesquisas qualitativas, mas a campanha já faz um esforço para colar a imagem do atual prefeito Bruno Covas (PSDB) à do governador João Doria (PSDB), já que eles preveem que o candidato à reeleição vai tentar se desassociar da rejeição que o aliado tem na capital.
A campanha ainda faz a avaliação de que França é alguém que cresce em embates e confrontos e, portanto, avalia como positiva a participação de figuras como Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota) em debates. Ainda no espírito de se contrapor a Doria, França vem frisando que concluiu todos os seus mandatos.
A campanha começa com um adesivaço no Estádio do Pacaembu na manhã deste domingo.
Arthur do Val (Patriota)
Influente nas redes por seu canal "Mamãe Falei", Arthur do Val (Patriota) vai levar para a TV o tom provocativo que o tornou conhecido como youtuber, aproveitando temas que já causaram polêmica em sua pré-campanha, como a promessa de acabar com a Cracolândia.
Ao final de cada peça, o eleitor será convidado a ir para as redes sociais do candidato. "A ideia é levar o estilo de comunicação do Arthur das redes para a TV", diz o presidente do partido em São Paulo, Renato Battista.
Neste domingo, o candidato também estará no Estádio do Pacaembu, onde Márcio França começa sua campanha, numa concentração com candidatos a vereador, militantes do partido e do Movimento Brasil Livre (MBL).
Joice Hasselmann (PSL)
Joice Hasselmann (PSL) deve apostar na "autenticidade" para se tornar conhecida do eleitorado. "Será uma campanha simples, objetiva e fora da caixa", disse Daniel Braga, coordenador de comunicação da campanha.
A estratégia de Joice será se apresentar como um nome "fora do padrão" da política tradicional, mas com um discurso que se aproxima do eleitor conservador e de direita. Ou seja: vai bater na tecla dos "valores da família", mas sem Bolsonaro, de quem se tornou desafeta.
"Nós vamos usar o método tradicional: rua. Não será apenas uma campanha digital e de TV", disse o deputado Junior Bozzella, coordenador político da campanha de Joice.
A campanha não divulgou qual vai se o primeiro ato de campanha.
Andrea Matarazzo (PSD)
A campanha de Andrea Matarazzo (PSD) pretende explorar o fato de o candidato vir de uma das famílias que melhor simbolizam o crescimento da capital paulista e o de o candidato ter conhecimento da gestão pública da cidade - ele já foi secretário das Subprefeituras e subprefeito da Sé na gestão de Gilberto Kassab (PSD).
Matarazzo era filiado ao PSDB até 2016 e pretendia ser candidato a prefeito pelo partido. A vitória de João Doria para a escolha do candidato terminou por fazer Matarazzo deixar a legenda. Sua vontade de ser prefeito, não governador ou presidente, também deve ser um dos motes da campanha. No programa eleitoral, ele deve focar em propostas de geração de emprego.
Ele abre a campanha com uma visita à comunidade Jova Rural, na zona norte.
Filipe Sabará (Novo)
A campanha de Filipe Sabará (Novo) está indefinida desde que seu partido suspendeu sua candidatura. Nesta semana, Sabará prestará esclarecimentos por escrito sobre as acusações, que estão em sigilo, que levaram a legenda a retirá-lo do pleito.
Caso a decisão se mantenha, ele buscará a Justiça e iniciará a campanha, em que pretende defender pautas ligadas à redução dos custos da máquina pública.
Jilmar Tatto (PT)
Para marcar o início formal da campanha de Jilmar Tatto o PT vai fazer 40 carreatas em diversos pontos da cidade na manhã de domingo. A expectativa é reunir no total mais de 1,2 mil veículos, além de carros de som.
A tônica da campanha petista será o legado que o partido deixou na cidade. "O legado é um patamar. Vamos usá-lo para dar credibilidade ao nosso projeto que trará uma perspectiva de futuro de retomada das conquistas que o 'bolsodoria' e o Bruno (Covas) tiraram da população", disse o presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro.
Segundo ele, no primeiro momento a campanha vai "apresentar o Jilmar aos petistas e depois ao petismo ampliado". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será figura constante tanto na TV quanto em cartazes, camisetas e adesivos.
Orlando Silva (PCdoB)
Orlando Silva (PCdoB) pretende intensificar as agendas de rua a partir deste domingo. Ele deve se encontrar com um coletivo cultural em uma comunidade do Jardim Clímax, zona sul, e depois ir à região central, na Avenida Paulista. As peças publicitárias da campanha devem focar em questões identitárias, destacando Orlando como representante do movimento negro.
A intenção da campanha agora é ir à rua todos os dias até o fim do 1º turno - principalmente em fábricas e sedes de empresas, já que outra aposta do PCdoB para divulgar a candidatura é o movimento sindical. Quatro centrais sindicais têm apoiado Orlando.
"Treino é treino, e jogo é jogo", disse ele na última quinta-feira, citando o ex-jogador Didi, sobre a intensificação da campanha. Ele pediu aos sindicalistas na reunião que divulguem seu plano emergencial para o emprego, e pretende reunir assinaturas para o manifesto na internet.
Levy Fidelix (PRTB)
Candidato do PRTB, Levy Fidelix vai abrir a campanha num encontro com ativistas bolsonaristas e de direita em praça na rua Abílio Soares, ao lado do parque Ibirapuera.