O pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) afirmou, neste domingo, 10, que a declaração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em defesa do aborto foi "estapafúrdia". Em sua sabatina na Brazil Conference, o pedetista argumentou que o debate sobre as chamadas "pautas de costume" favorece a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), e atribuiu a insistência nesses temas a uma suposta "burrice" do campo da esquerda.
"Nosso povo é 'criptorreacionário', crescentemente neopentecostal e profunda e enraizadamente cristão em matéria de costumes. Então, pensa se um político tem o direito de se meter na minha família para me dizer como eu devo tratar um filho gay meu?", afirmou, ponderando, contudo, que é a favor de políticas afirmativas.
Ciro acrescentou: "Por que o Lula tinha que dar uma declaração estapafúrdia como a que ele deu agora, que todo mundo tem direito a fazer aborto? Que coisa mais simplória para um assunto tão grave. (...) Qual o poder que Lula tem, sendo presidente por 14 anos, ou mandando na Presidência do Brasil, que não resolveu essa questão? Porque ela é insolúvel".
Na última terça-feira, 6, Lula defendeu a ampliação do direito ao aborto e disse que, se for eleito, o assunto será tratado como uma "questão de saúde pública". O petista também classificou a pauta de "família e valores" pregada pelo governo como "muito atrasada". As declarações foram feitas durante um debate promovido pela Fundação Perseu Abramo e pela entidade alemã Fundação Friedrich Ebert, em São Paulo.
Neste domingo, o presidenciável do PDT defendeu que a pauta das eleições de outubro tenha foco em temas como "economia e emprego". O debate contra o atual presidente deve ser "racionalizado", ele disse, e não sobre "kit gay".
Quanto à política econômica de seu eventual governo, Ciro voltou a defender a revogação do teto de gastos - regra fiscal que limita o gasto da União à inflação - e a taxação de grandes patrimônios. Ele afirmou que "a democracia brasileira fracassou explosivamente em desenhar um modelo de desenvolvimento econômico".
Criticou, também, o sistema de câmbio flutuante adotado pelo Banco Central, o que, segundo ele, gera incertezas para o "business plan" das empresas. "Temos indústrias indo embora porque ninguém consegue fazer conta no Brasil, porque o câmbio se tornou instrumento de demagogia", afirmou.