Falso: É falso que o autor de disparos enquanto o candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) visitava a comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, seja o mesmo homem que aparece em vídeo ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em ato de campanha.
O apoiador do petista é Anderson Mamede, líder comunitário do Nordeste de Amaralina, bairro na região sul de Salvador, na Bahia. Além disso, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) diz que não é possível falar em atentado contra Tarcísio, ao contrário do que afirmam os posts virais. Os conteúdos desinformam ainda ao dizer que o evento de campanha do petista era no Rio de Janeiro, quando, na verdade, foi na capital baiana.
Conteúdo investigado: Posts em vídeo mostram foto de três homens detidos, em um carro de polícia, com destaque para um deles. A seguir, os conteúdos mostram uma gravação de Lula em meio a multidão e o momento em que ele acaricia a cabeça de um apoiador que, segundo os posts, seria o homem da foto, detido após tiroteio durante ato de campanha do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas, na capital paulista.
Onde foi publicado: Kwai, TikTok e WhatsApp.
Conclusão do Comprova: É falso que o homem que aparece ao lado do candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em vídeo gravado durante ato de campanha tenha sido preso como suspeito por tiros durante ato de campanhado candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em uma comunidade paulista, ao contrário do que afirmam posts nas redes sociais. O homem a quem os conteúdos mentirosos se referem como suspeito de crime é, na verdade, Anderson Mamede, líder comunitário que preside a Associação Cultural Nordeste de Amaralina (ACNA), em Salvador.
Além de mentir sobre quem é o homem, os conteúdos desinformam ao dizer que o que ocorreu com Tarcísio foi um atentado. De fato, houve um tiroteio no momento em que ele visitava Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, em 17 de outubro, mas os tiros foram em um local próximo ao que ele estava, e não direcionados a ele. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), o caso é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Um suspeito foi baleado após entrar em confronto com policiais militares. Ele foi socorrido no Hospital Campo Limpo, mas não resistiu. Um segundo suspeito foi identificado e está foragido, informou, em nota, a pasta de Segurança do governo de São Paulo.
Outra mentira dos posts é que o ato de campanha onde o homem que aparece no vídeo estava foi no Rio de Janeiro. Como verificado pelo Comprova, a gravação ao lado de Lula foi feita em Salvador.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 19 de outubro, os dois vídeos publicados no Kwai somavam 171 mil visualizações. No mesmo dia esses conteúdos foram apagados.
O que diz o responsável pela publicação: O Comprova procurou os responsáveis pela publicação por meio de mensagens diretas no Kwai. Um deles tornou seu perfil privado assim que visualizou as mensagens e não deu retorno até a publicação desta checagem.
Outro usuário alegou que o vídeo não foi produzido por ele e afirmou que fez apenas um dueto, modo em que um perfil compartilha uma interação com a postagem de outra pessoa.
Os conteúdos não estão mais disponíveis no Kwai e no TikTok.
Como verificamos: Iniciamos a verificação pesquisando no Google por "homem envolvido em atentado contra Tarcísio estava em comício de Lula no RJ". Chegamos a outras checagens que também investigaram o mesmo conteúdo, tais como as agências de checagens Aos Fatos, Estadão Verifica e Fato ou Fake, do G1.
Entrevistamos Mamede e procuramos também as secretarias de segurança pública de São Paulo e da Bahia. Recebemos notas das duas pastas.
O homem no vídeo
Os conteúdos verificados unem diferentes imagens. Inicialmente, há uma foto que mostra três homens detidos e uma marcação em um deles. Depois, aparece o vídeo de um apoiador junto a Lula durante uma passeata. As publicações relacionam o homem indicado na primeira imagem com o que surge na gravação posterior.
Quem aparece próximo a Lula no vídeo usado nos posts aqui verificados é Anderson Mamede, líder comunitário do Nordeste de Amaralina, bairro na região sul de Salvador. Conhecido como Dakota ou Rasta, ele é presidente da Associação Cultural Nordeste de Amaralina.
Ao Comprova, Mamede disse que o conteúdo de desinformação coloca sua vida em risco. "Eu, pai de família, faço trabalho social no bairro e fazem uma palhaçada dessas", afirmou.
O vídeo usado nos posts falsos foi feito por ele mesmo, em 12 de outubro, durante um ato de campanha de Lula em Salvador -e não no Rio de Janeiro, como afirmam as peças de desinformação. Mamede conta que, antes de ir ao comício, comandou uma ação social em seu bairro. À reportagem, ele enviou fotos desse momento, mostrando que estava com a mesma camiseta com a qual aparece no vídeo falso. "Como eu sou querido no bairro, na cidade, a mentira foi desmentida."
Já na foto usada nos posts falsos, ele aparece ao lado de outros dois homens, com as mãos aparentemente algemadas para trás, em um camburão. A partir dessa imagem, os conteúdos afirmam que ele teria sido preso por suspeita de envolvimento com os disparos em Paraisópolis, o que não é verdade. Uma outra versão, anterior a essa, afirmava que ele era traficante no Rio de Janeiro.
"Isso aí, me relacionam ao crime pelo fato de eu ter uma foto como se eu estivesse preso, mas, na verdade, eu fui levado para a delegacia para a averiguação", diz Mamede. "Quem mora em favela, em comunidade, já sabe como é o tratamento, vai para averiguação como se fosse preso, é algema na mão, algema no pé", contou ele ao Comprova, sobre o episódio ocorrido em 2019.
Em nota, a SSP-BA informou ser mentira que "uma pessoa de apelido Rasta lidere uma organização criminosa, no Complexo do Nordeste de Amaralina". O órgão afirma ainda que o "homem que tem a sua imagem atribuída, nas redes sociais, a esse suposto criminoso, registrou um Boletim de Ocorrência na 28ª Delegacia Territorial do Nordeste de Amaralina".
Mamede enviou à reportagem a imagem do boletim, registrado em 17 de outubro. Nele, ele disse ter sido alertado por familiares e amigos que sua imagem estava circulando em redes sociais como se ele fosse um traficante do Nordeste de Amaralina. "Preocupado, atônito e temendo por sua integridade física ou até mesmo por sua vida, (…) e sem ter ideia de quem produziu e divulgou o vídeo, veio prestar queixa", finaliza o documento.
Ato em Salvador
Diferentemente do que os posts afirmam, o vídeo em que Lula aparece foi gravado em Salvador e não no Rio de Janeiro. O petista esteve na capital baiana em 12 de outubro e, como mostra a Folha, participou de evento no Farol da Barra, onde Mamede gravou o vídeo.
É possível confirmar que o ato em que Mamede se aproxima de Lula foi este,em Salvador pela roupa do ex-presidente e detalhes do carro em que ele está, que tem cordas verdes sobre a capota.
Tiroteio em Paraisópolis
Ao contrário do que afirmam os posts verificados aqui, o que ocorreu em Paraisópolis, em São Paulo, em 17 de outubro, não é considerado pela Polícia Militar como um atentado contra Tarcísio de Freitas. No momento em que visitava a comunidade paulistana, para participar da inauguração de um polo universitário, o candidato e sua equipe foram surpreendidos por um tiroteio próximo ao local em que estavam. Inicialmente, o político postou em sua conta no Twitter que haviam sido "atacados por criminosos".
Em seguida, viralizaram nas redes posts falsos falando ter sido um atentado, versão que foi descartada pela polícia. Na tarde do mesmo dia, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, afirmou que era prematuro afirmar que houve um atentado.
Mais tarde, durante pronunciamento à imprensa, Tarcísio afirmou que o tiroteio tinha relação com uma "questão territorial".
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à presidência, como a peça alvo desta verificação, podem induzir o cidadão a interpretações equivocadas sobre a realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm o direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.
Outras checagens sobre o tema: As agências de checagens Aos Fatos, o Estadão Verifica, AFP Checamos e o Portal G1 também investigaram o mesmo conteúdo.
Recentemente, o Comprova mostrou que sinal de 'L' feito por traficantes não é referência a Lula e, sim, saudação de facção que atua no Rio de Janeiro, que militantes petistas não invadiram igreja em Joinville e, na verdade, manifestação aconteceu em pátio da instituição de ensino após demissão de professora, e que é enganoso que Paulo Guedes anunciou redução em aposentadorias e outros benefícios do INSS.