De olho na web, brasileiros no mundo fazem questão de votar

29 set 2014 - 07h33
(atualizado às 15h59)

Há três anos morando na Grécia, o brasiliense Luiz Carlos Corrêa Veloso, que trabalha como consultor certificado, não quer deixar de participar do momento político mais importante do País; as eleições para presidente, no próximo dia 5 de outubro. Veloso vai votar em Atenas, capital do país, e está entre os 354.184 brasileiros, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que irão às urnas em 120 países neste ano. Ao todo, serão 1.033 seções espalhadas pelas principais cidades dos Estados Unidos, Grécia, Japão e Portugal, entre outros. 

Luiz acompanha o que acontece no Brasil pela internet. Mas, apesar do interesse, diz que preferia que o voto não fosse obrigatório. “A obrigação de votar não é democrática, é um resquício da ditadura”, diz ele, lembrando que as propostas dos candidatos não impressionam. “Acho que o futuro do Brasil é delicado, nada está garantido e há muito o que fazer”, completa. 

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Por falar em Grécia, lá, dos 795 brasileiros matriculados na Embaixada do Brasil em Atenas, mais de 760 irão às urnas. E, para isso, eles até receberam um incentivo. Presidente do Conselho de Cidadania Brasileira na Grécia, a pernambucana Isabel de Brito Karagiorgas explicou que houve um plano de ação do conselho, em acordo com o Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE/Itamaraty), para uma campanha de sensibilização à participação nas próximas eleições e ao voto consciente. A comunidade foi estimulada e orientada, com posteres, e-mails e postagens em redes sociais, a buscar informações dos candidatos e programas de governo.

Isabel, que é professora de português e francês e já mora na Grécia há 28 anos, diz que também tem acompanhado os candidatos pela internet. Ela não perdeu a esperança na política e espera encontrar um país melhor quando voltar. Questionada sobre o que espera que aconteça nestas eleições, a professora foi direta: mudança de política e combate à corrupção. Além disso, entre os exemplos da Grécia que ela gostaria de ver no Brasil estão os debates públicos antes de se implementar uma lei. 

<p>Moradora de Budapest, na Hungria, a mineira Stephany Alonso, 22 anos acompanha as discussões políticas pela internet e diz que problemas de corrupção e má distribuição de renda "não são exclusividade brasileira"</p><p> </p>
Moradora de Budapest, na Hungria, a mineira Stephany Alonso, 22 anos acompanha as discussões políticas pela internet e diz que problemas de corrupção e má distribuição de renda "não são exclusividade brasileira" 
Foto: Stephany Alonso / Acervo Pessoal

Já de Budapest, na Hungria, a mineira Stephany Alonso, de 22 anos, acompanha também pela internet os debates entre os presidenciáveis. Ela procura ler as reportagens sobre tudo o que envolve o próximo pleito. Fora do Brasil para estudar, a jovem da cidade de Corinto, em Minas Gerais, está entre os cerca de 2,5 milhões de brasileiros que vivem no exterior. Como vai ficar apenas um ano na Hungria, o domicílio eleitoral de Stephany permanece no Brasil e, por isso, ela terá que justificar o voto. Apesar disso, diz que não deixa de acompanhar os rumos para o futuro do país. E explica que morar no exterior a despertou politicamente.

“Inicialmente notei diferenças que nosso país apresenta quando comparado aos europeus em qualidade de vida, mobilidade urbana, educação, saúde e outros aspectos. Temos muito o que crescer em vários quesitos”, disse a estudante de engenharia mecânica beneficiada pelo programa Ciência sem Fronteiras. “Mas, ao contrário do que muitos pensam, problemas como má distribuição de renda, corrupção e saúde pública não são exclusividade do nosso país. A diferença está em como a sociedade reage a esses problemas”, diz ela, que diz ter se tornado mais crítica e participativa depois de morar no exterior.

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Desiludidos no estrangeiro

Ao contrário de Stephany, há quem já esteja desacreditado na política. O jogador de futebol Rafael da Silva, também de 22 anos, que ficou conhecido pela atuação no Manchester United, é de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, mas atualmente mora em Manchester, na Inglaterra. Desde que se mudou ele justifica a ausência e não participa das eleições. O jovem confessa que não se interessa por política e diz que esse desinteresse surgiu por ter crescido em uma “era de tantos roubos, mensalão e descaso com a população”.

“Por agora morar em um país de primeiro mundo vejo uma enorme diferença quando volto ao Brasil e cada vez mais perco as esperanças de uma boa mudança. Infelizmente, o Brasil está muito atrás”, disse ele, lembrando que ainda pretende voltar a morar aqui. “Como brasileiro amo muito meu país e espero voltar a morar aí em alguns anos, mas, infelizmente, não creio que o país ficará parecido com o que vejo aqui na Inglaterra em termos de sistema público, coisa que hoje dou muito valor”, disse.

Assim como ele, Vinicius Pomim, 18, outro petropolitano, também não vai votar, mas queria ver o desenvolvimento dos países da Europa no Brasil. Há seis meses morando em Paris, na França, ele diz que seu plano inicial era ficar cerca de cinco anos no exterior para estudar, mas já vem mudando de opinião e não pensa em voltar a morar aqui. “Tenho acompanhado os debates, as reportagens em TV e internet, mas não penso mais em voltar. O Brasil vai de mal a pior e, sendo sincero, eu acho que no momento não há políticos honestos e de competências para melhorar o país, não nessas eleições”, ressaltou.

Ana Paula Cândido, de 31 anos, mora em Dublin, na Irlanda, e apesar de preocupada com o futuro do Brasil, não deve votar. "A realidade fica muito distante", diz
Foto: Ana Paula Cândido / Acervo Pessoal

A estudante Ana Paula Candido, 31, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mora em Dublin, na Irlanda, há um ano e meio, mas espera voltar para o Brasil. Ela diz que, por estar longe, acaba não acompanhando muitos debates e reportagens sobre as eleições e também não vai pretende participar do pleito, mas está preocupada com o futuro do país e procura não deixar de saber o que está acontecendo no cenário político.

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“Não que eu tenha perdido o interesse pelo País, mas quando você mora longe, a realidade do Brasil acaba ficando um pouco distante, infelizmente. Mas eu me preocupo, sim, com o que eu vou encontrar quando voltar. A realidade aqui é muito diferente, conseguimos ter uma qualidade de vida melhor, é possível trabalhar, estudar e ainda ter momentos de lazer”, disse. “E o que realmente gostaria de ver de mudança no Brasil é a diminuição da desigualdade social. Aqui você encontra no mesmo lugar empresários, diretores de empresas, babás e garçons. Pessoas de diversas classes sociais conseguem frequentar os mesmos lugares, fazer as mesmas viagens e terem um padrão de vida digno”, finalizou.

Comum na maioria dos brasileiros que moraram no exterior é a esperança de que quando voltarem ao Brasil encontrem um país melhor do que deixaram. 

“Temo voltar ao Brasil e encontrar um cenário político-econômico pior do que deixei. Temo pegar meu diploma de engenheira mecânica e minha pátria mãe não me oferecer um cenário tecnológico-industrial sustentável. Mas ainda tenho esperança de que o Brasil aprenda com seus erros e honre seu título de potência mundial”, disse Stephany.

Guia do eleitor

EUA tem maior número de eleitores brasileiros

De acordo com o TSE, os Estados Unidos estão no topo do ranking de países com o maior número de eleitores brasileiros. Lá são 112.252 cidadãos distribuídos em dez cidades. Em Miami, na Flórida, a que tem o maior número de eleitores (22.294), mora o petropolitano Pedro Viveiros de Castro, de 32 anos, desde 2004. Atento aos debates, ele diz que as promessas não vêm lhe entusiasmando. E que já não se preocupa mais com o futuro do país. “O Brasil não vai mudar tão cedo. Há uma proposta deliberada dos políticos em manter o povo alienado”, teorizou.  

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Nos EUA também está o casal Tristan Rossi, 28 e engenheiro, e Fernanda Vasconcellos Rossi, 33, dentista, naturais de Petrópolis,  no Rio de Janeiro. Eles estão há apenas quatro meses em Costa Mesa, na Califórnia, mas já pensam em ficar bastante tempo por lá. Mesmo assim, se mostram preocupados com o que acontece em seu país, apesar de também mostrarem desesperança com relação à política e aos políticos.

“Vamos perdendo a esperança aos poucos e quando vemos pioras consecutivas em todas as áreas procuramos uma solução. Sou humana, choro, brigo, e o que eu puder fazer para ajudar o próximo eu faço, e me revolto por essas pessoas que necessitam do governo passarem por tanta injustiça”, reclamou.

“Eu realmente preferi me desligar da política e da realidade do Brasil. É meu país, mas saí daí até com um certo ódio do meu país. Engenheiro recém formado, não conseguia emprego. Fui conseguir fora”, explicou o ele, que ainda lembrou de outros problemas. “A saúde é uma piada. Segurança? A casa dos meus sogros tinha acabado de ser assaltada pela terceira vez em 10 anos e, quando ligamos pra polícia, ninguém nem sequer apareceu. E isso é só um pequeno problema perto das reais desgraças que ouvimos e vemos todos os dias”. 

Por enquanto, o casal não vai votar no exterior. As outras cidades dos EUA com eleitores brasileiros são: Nova York (21.240); Boston (18.181); Houston (11.193); Washington (10.575); Atlanta (7.811); San Francisco (7.606); Los Angeles (6.222); Chicago (4.877); Hartfort (2.253).  

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Eleitor no exterior

Em 2010, 200.392 brasileiros residentes no exterior votaram para presidente e vice-presidente. De acordo com o TSE, cidadãos brasileiros maiores de 18 anos que moram fora do país também precisam cumprir com as obrigações eleitorais. Para quem já possui domicilio eleitoral no exterior, a chamada Zona ZZ, o voto é exigido apenas no pleito para presidente da República. Já quem está temporariamente fora, ou seja, continua com o domicílio eleitoral no Brasil, está obrigado a votar e se não puder comparecer deve justificar a ausência. Vale lembrar que para criar as mesas de votação no exterior, o Código Eleitoral prevê como condição o mínimo de 30 eleitores.

No último dia 12, o TSE realizou o carregamento e a lacração de 916 urnas eletrônicas que serão enviadas a 92 países. Elas ficarão em 134 diferentes pontos de votação e serão usadas para que 353.789 eleitores possam votar.

Coligações e tempo de TV

Fonte: Terra
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