O adiamento das eleições municipais para novembro, aprovado ontem no plenário da Câmara, indica que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), retomou o controle do Centrão. O bloco de partidos que se dispôs a apoiar o presidente Jair Bolsonaro em troca de cargos queria manter as disputas em 4 de outubro por um motivo singelo: a pressão de prefeitos. Na prática, muitos deles, candidatos a um segundo mandato, achavam que esticar o prazo da corrida eleitoral beneficiaria os adversários. O argumento era o de que quem está no poder sofre o desgaste natural do cargo e, até novembro, ninguém teria mais dinheiro em caixa para gastar.
Diante dessa queixa, a maioria das siglas do Centrão, sob a batuta do líder do Progressistas, Arthur Lira (AL), havia cerrado fileiras contra mudar a data das eleições. No fim de semana, porém, Maia encontrou uma saída ao conseguir negociar com o governo mais R$ 5 bilhões para que os municípios enfrentassem o impacto da pandemia do novo coronavírus.
Na prática, o presidente da Câmara aproveitou o descontentamento de alguns partidos do Centrão com Lira e deu um tapa com luva de pelica em Bolsonaro. Pouco antes da pandemia, o chefe do Executivo bem que tentou isolar Maia e negociar diretamente com o Centrão, com a ajuda de Lira, distribuindo cargos a legendas do bloco. Detalhe: o deputado alagoano é candidato à sucessão do presidente da Câmara, em 2021. Como nem todos os cargos prometidos saíram, porém, partidos do Centrão, como o Republicanos de Marcos Pereira, decidiram se aliar a Maia.