CURITIBA - O cenário da disputa ao Senado do Paraná ainda se mostra incerto, com 14 nomes já colocados como pré-candidatos. Dois ex-governadores, porém, já são praticamente certos: Beto Richa (PSDB) e o hoje senador Roberto Requião (MDB) devem reeditar o embate ao Governo em 2014, quando o tucano foi reeleito no primeiro turno e o emedebista ficou em segundo lugar.
Governador até abril deste ano, quando renunciou ao cargo para se dedicar à campanha ao Senado, Richa foi citado na proposta de acordo de delação premiada do ex-diretor da Secretaria Estadual de Educação do Paraná, Mauricio Fanini. No documento, o réu da operação Quadro Negro diz que Richa recebeu parte do dinheiro desviado da reforma e construção de escolas no Estado para financiar viagens de luxo e bancar suas campanhas.
Richa, que deve integrar a chapa à reeleição de sua substituta, Cida Borghetti (PP), é alvo da Operação Lava Jato. O juiz Sergio Moro determinou abertura de inquérito sobre supostas negociações do ex-governador com a construtora Odebrecht para obras de duplicação de uma rodovia estadual. Conforme acordos de delação, em troca de favorecimento na contratação a obra, a empresa colaborou com R$ 3 milhões para a campanha de reeleição do tucano, em 2014.
O tucano nega todas as acusações. Em nota sobre a Quadro Negro, ressalta que o vazamento da proposta é criminoso. Diz ainda que é uma tentativa desesperada de delação, que, pela ausência de provas, não será aceita pela Justiça. "São acusações criminosas, com o objetivo de envolver pessoas inocentes, retirando o foco das fraudes por ele [Fanini] cometidas", diz.
As acusações contra Richa já são exploradas por Requião nas redes sociais. Atual senador e ex-governador do Paraná, Requião teve uma vitória recente envolvendo seu nome na Lava Jato. Na última semana, ele foi excluído da lista que faz parte do inquérito que apura repasses da J&F a políticos do MDB. A investigação tem como base as delações do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e do executivo da J&F, Ricardo Saud. A Procuradoria-Geral da República considerou que Requião e os também senadores emedebistas Romero Jucá (RR) e Edison Lobão (MA), apesar de citados por Machado, não integraram os dados de corroboração fornecidos por Saud. "Esse assunto está superado", diz a defesa de Requião.
Para o cientista político da PUC-PR, Másimo Della Justina, apesar das denúncias, Beto Richa leva vantagem na disputa direta porque foi governador do Estado mais recentemente. "Dificilmente, ocupando esse cargo, a pessoa não se eleja ao Senado, justamente porque tem votos em todos os municípios e o cuidado de fazer e manter alianças", disse.
Outros
Na chapa do pré-candidato do PDT ao governo do Paraná, Osmar Dias, o nome de Gustavo Fruet (PDT), ex-prefeito de Curitiba, é cotado para uma das vagas no Senado. A candidatura dele, no entanto, só deve se fortalecer caso Requião integre uma chapa presidencial ou se lance ao Governo, o que é visto como improvável. "Requião é um campeão de votos, mas tem o fator fadiga que pode influenciar. Nesse sentido, vejo o Fruet com força, porque sempre foi alguém bem visto no Legislativo", avalia Masimo.
Outro nome com chances de candidatura ao Senado é o da deputada federal Christiane Yared (PR). Em primeiro mandato na Câmara, foi a mais votada do Estado em 2014. Sua campanha foi voltada para a agenda do trânsito - em 2009, seu filho e um amigo dele morreram em decorrência de um acidente automobilístico envolvendo o ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli, condenado em fevereiro deste ano a mais de nove anos de prisão por um júri popular, que considerou que ele assumiu o risco por ter dirigido alcoolizado e em alta velocidade.
Yared se declara inimiga política do ex-governador do Estado - na votação do impeachment contra Dilma Rousseff (PT) chegou a citar "Senhor Beto Richa, a sua hora está chegando". "Ela representa uma face nova e com um forte apelo. Se ela souber capitalizar esse apelo sentimental, que infelizmente tem com a sua história, e o fato de ser mulher, pode muito bem desbancar os outros nomes", afirma o cientista político.
Formando palanque político para o pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), o deputado federal Delegado Francischini (PSL) também integra a lista de pré-candidatos ao Senado no Estado. Ele ficou conhecido por ter comandado o confronto entre policiais e servidores públicos em frente ao Palácio Iguaçu, sede do Governo, que acabou com mais de 200 feridos, em 29 de abril de 2015. "Apesar de o discurso do Bolsonaro ter ganhado adeptos, ele tem que mostrar um diferencial muito grande para conseguir alavancar uma candidatura", disse Masimo sobre o perfil do pré-candidato.
Completam a lista dos pré-candidatos ao Senado no Paraná: o deputado federal em quinto mandato, Alex Canziani (PTB); o ex-senador e ex-vice-governador Flávio Arns (Rede); o deputado estadual Ney Leprevost (PSD), que saiu derrotado no segundo turno à Prefeitura de Curitiba em 2016; o empresário da área da educação Professor Oriovisto (Podemos); a ex-vice-prefeita de Curitiba Miriam Gonçalves (PT); o deputado federal Takayama (PSC); o ex-deputado estadual Wilson Picler (PSL); o ex-vereador de Santa Cruz do Monte Castelo, Zé Boni (PRTB); e os servidores públicos Jacqueline Parmigiani e Rodrigo Tomazini, ambos do PSOL.