Aliados do presidente Jair Bolsonaro têm criticado os rumos da campanha do candidato do Republicanos à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno. Segundo eles, Russomanno se recusa a empunhar bandeiras do presidente como a não obrigatoriedade da vacina contra a covid-19 e a abertura geral da economia durante a pandemia, e tem resistido a adotar uma estratégia com ênfase na campanha digital, a exemplo do que Bolsonaro fez em 2018. As divergências levaram o secretário executivo do Ministério da Comunicação, Fabio Wajngarten, a se distanciar da campanha.
Wajngarten havia sido escalado pelo Planalto para acompanhar de perto a campanha de Russomanno em São Paulo. Até o momento, nestas eleições municipais, Russomanno foi o candidato que recebeu o apoio mais explícito do presidente.
O Estadão revelou na quarta-feira, 28, que Russomanno cortou trechos do jingle de campanha nos quais Bolsonaro era citado. Além disso o candidato não levou ao ar as propagandas nas quais o presidente era citado e se concentrou em atacar o governador João Doria e o prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB. A decisão de tirar Bolsonaro da propaganda acontece depois da publicação da pesquisa do Datafolha, na quinta-feira passada, na qual Russomanno registra queda de 27% para 20% das intenções de voto.
Segundo o Ibope, Bolsonaro não é um bom cabo eleitoral na maior cidade do Brasil. Para 47% dos eleitores de São Paulo, o apoio do presidente a um candidato reduz a vontade de votar naquela pessoa.
'Miopia'
Uma das críticas dos aliados do presidente é quanto ao modelo de campanha de Russomanno. Segundo eles, o candidato deveria investir mais nas mídias digitais e deixar a TV em segundo plano. A estratégia se baseia na vitoriosa campanha de Bolsonaro para a Presidência da República em 2018.
Um aliado do presidente aponta a "disruptividade" entre a velha e a nova forma de disputar eleições e a "miopia" por parte dos marqueteiros tradicionais. A maior reclamação, no entanto, é quanto à falta de empenho de Russomanno em empunhar bandeiras caras ao presidente, como a aversão à "vacina chinesa" fabricada em parceria com o Instituto Butantã e a oposição à forma como o governador João Doria e o prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB, conduziram o combate à pandemia, principalmente o incentivo ao isolamento horizontal e ao fechamento de estabelecimentos comerciais durante o período mais crítico da doença.
Isso levou Wajngarten a adotar uma "distância segura" da campanha. O secretário é o maior incentivador da estratégia de colar Russomanno em Bolsonaro. O candidato seguiu a orientação nos primeiros dias de campanha, mas, depois da queda abrupta nas pesquisas, reduziu a presença do presidente em suas propagandas e discursos. Ele não se afastou completamente da eleição paulistana, mas agora acompanha a disputa de longe.
Outra reclamação do Planalto é quanto ao entorno de Russomanno. Aliados do presidente reclamam da presença de "alpinistas" que se aproximaram do candidato depois que ele se tornou o representante de Bolsonaro na disputa paulistana. Um dos alvos das críticas é o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, que, segundo o Planalto, não estaria fornecendo recursos suficientes para o candidato.
Os aliados de Bolsonaro avaliam que a queda nas pesquisas não se deve à rejeição ao presidente em São Paulo mas à falta de dinheiro na campanha e aos ataques que Russomanno vem sofrendo dos adversários por estar em primeiro lugar nas sondagens. Procurado, Pereira não respondeu aos contatos.
Coordenador da campanha de Russomanno, Elsinho Mouco disse que o clima entre os auxiliares do candidato é o oposto do relatado por aliados do Planalto. "As bandeiras desfraldadas no início da campanha, continuam tremulando. O 'Agora é nossa vez'", disse, citando o lema da campanha. Wajngarten não foi localizado.