O conselho de ética do diretório nacional do partido Novo vai avaliar a impugnação da candidatura de Filipe Sabará à Prefeitura de São Paulo. O documento foi assinado por Kauan Gonçalves Viscardi, de Santa Catarina, e será avaliado pelo colegiado da legenda, conforme prevê o estatuto. O motivo da contestação, contudo, não foi informado porque o documento é "sigiloso", segundo o partido.
Procurado pela reportagem, Sabará afirmou, em nota, que "todos os esclarecimentos serão prestados ao conselho de ética do partido dentro do prazo legal". Ele disse ainda que considera o pedido "totalmente infundado e fruto de insatisfação de um pequeno grupo de pessoas que não aceita opiniões divergentes".
A iniciativa revela uma divisão interna na legenda entre um grupo mais alinhado com o presidente Jair Bolsonaro, do qual fazem parte o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e parte da bancada de deputados federais, e outro que faz oposição ao Palácio do Planalto. O pedido de impugnação chegou no momento que Sabará é alvo de uma rebelião interna de pré-candidatos a vereador da capital.
"Esse discurso (do Sabará) próximo ao governo federal me deixa insatisfeita. O Novo não é linha auxiliar do presidente da República. Se o diretório nacional decidir pela impugnação, eu estarei junto com o partido", disse a candidata a vereadora do Novo Naira Sathiwo.
Um grupo criado no WhatsApp intitulado 'Tentando Salvar o Novo' tem criticado duramente as declarações de Sabará em defesa do presidente Jair Bolsonaro. Na semana passada, o debate interno foi acirrado após o candidato ter dito em um programa de rádio que Paulo Maluf foi o melhor prefeito que a capital paulista já teve. A declaração provocou reações até do fundador do Novo, João Amoêdo, e do deputado estadual Heni Ozi Cukier, que se manifestaram contra a fala no Twitter.
"O partido está fornecendo (aos candidatos a vereador) materiais de campanha com o Filipe, mas eu recusei. Não quero misturar meu nome com o Sabará", disse Luiz Bucciarelli, que passou no processo seletivo do Novo e tentará uma vaga na Câmara Municipal. Um dossiê apócrifo com acusações contra o pré-candidato à Prefeitura circula nos grupos de WhatsApp do partido.
Ao Estado, o presidente municipal do Novo, Julio Rodrigues, disse que não vê "problemas graves em divergências internas". Outra candidata a vereadora do Novo, Joanna Douat, disse que o grupo de WhatsApp não foi criado inicialmente para impedir candidatura do Sabará, mas com a intenção de "preservar o partido".
"O Diretório Municipal, entre tantas decisões inconsistentes, quis nos obrigar a assinar um termo de compromisso aumentando em 50% o número limite de assessores por gabinete (comparado com 2016). Foi só ao longo do processo que foram revelados os escândalos em relação à candidatura do Sabará", afirmou.
Rodrigues rebateu a acusação e afirmou e disse que os candidatos assinaram um termo de compromisso enviado pelo Departamento de Apoio ao Candidato, órgão vinculado ao diretório nacional, para alinhar a atuação deles com os princípios do partido caso sejam eleitos. Segundo ele, o Novo fez um estudo da estrutura dos gabinetes e propôs redução de 50% da verba de gabinete e do número de assessores, mas Joanna Douat quis um corte maior.
Sabará também se envolveu em polêmica com Chequer
Na semana passada, Sabará também se envolveu em uma polêmica com o ex-porta-voz do Vem Pra Rua Rogério Chequer, que foi candidato do Novo ao governo paulista em 2018. Na mesma entrevista em que elogiou Maluf, o candidato foi questionado sobre uma declaração contra Chequer feita durante a campanha, na qual o chamou de "oportunista".
"Nesta 3ª feira, 15 set 2020, Filipe deu entrevista ao @Panico. Ao ser perguntado sobre essa polêmica de 2018, distorceu toda a história", disse Chequer uma nota interna distribuída aos integrantes do Novo pelo WhatsApp. No mesmo texto, o ex-candidato foi além: "Como mostra o vídeo, Filipe diz agora que "criticou a gestão do Doria, dizendo que era Velha Política". Verdade. Mas Filipe inventou que, ao criticar a gestão, critiquei também ele, @WilsonPoit e @PauloUebel. Não é verdade".
O candidato do Novo à Prefeitura de São Paulo, Filipe Sabará, aguarda atualização da página do TSE referente à declaração de bens dos candidatos da disputa municipal com a alteração já enviada à corte eleitoral de sua fortuna. Até esta tarde, figura o valor de R$ 15,6 mil, mas, segundo a assessoria do candidato, por "erro de preenchimento do advogado", o correto são R$ 5,1 milhões. Assim, ele passa a liderar a lista como o político mais rico do pleito entre os outros sete adversários que já atualizaram o banco de dados do TSE, faltando ainda a declaração do prefeito Bruno Covas (PSDB).