O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), negou hoje qualquer cálculo político-eleitoral em sua decisão de declarar publicamente ser gay e afirmou que precisava se apresentar "na integralidade, e não pela metade" a seu partido, pelo qual tenta concorrer à Presidência da República em 2022. Ele afirmou ainda que o voto em Jair Bolsonaro em 2018 é um "erro" que deve ser analisado para não se repetir no futuro.
Leite negou que tenha apoiado a candidatura do atual chefe do Planalto porque não pediu votos em favor do atual presidente, nem fez "campanha casada" ou "misturou nome ao do candidato" - em alusão ao BolsoDoria empreendido pelo atual governador de São Paulo durante a campanha de 2018.
"As declarações de intolerância do presidente no passado me pareciam naquele momento que teriam, embora preocupantes, menos espaço para se apresentarem de forma prejudicial ao País à medida que temos instituições fortes que garantiriam que a posição homofóbica dele não significasse política pública contrária a gays, lésbicas, bissexuais, ou qualquer público homossexual", disse Leite. "A gente tem que analisar esse erro, aprender com ele para não cometer mais esse erro no futuro", afirmou.
O governador também explicou a decisão sobre falar da sua vida afetiva. "Não tem nada de errado, nem é algo que mereça ficar escondido. Outros políticos têm, sim, a esconder e escondem... Rachadinha, mensalão, petrolão, superfaturamento em compra de vacinas", disse Leite, que participou de uma série de reuniões do partido em Brasília.
"Entendi que era o momento de falar. Não tem qualquer cálculo do ponto de vista político-eleitoral. Aliás, nem sei quais serão os efeitos que isso terá do ponto de vista eleitoral. Talvez não sejam os efeitos positivos que muita gente possa esperar, mas tenha efeito positivo ou negativo, é o que sou, do jeito que sou, apresentado como sou. Se a população entender que eu posso apresentar um caminho, tem que ser na minha integralidade, sem esconder qualquer coisa", afirmou.
Leite disse ainda que qualquer candidato da "terceira via" à Presidência da República deveria, se eleito, se abster de buscar a reeleição em 2026. Segundo ele, o momento de extrema polarização requer "volta para o bom-senso e para o equilíbrio". "Isso envolve desapego, desprendimento", disse.
"Se o próximo presidente da República, viabilizado por uma terceira via, como a gente espera, for candidato à reeleição, passa no primeiro dia a ser atacado pelas duas correntes políticas que querem voltar ao governo, seja o bolsonarismo, seja o lulopetismo. É importante que a gente tenha a visão sobre serenar os ânimos", afirmou Leite.
O tucano participou de uma reunião com o diretório do PSDB no Distrito Federal e pretende ele mesmo concorrer nas prévias do partido para decidir o candidato à Presidência da República em 2022. Após explicitar suas pretensões eleitorais, Leite deve intensificar a agenda em outros Estados nos finais de semana para se tornar mais conhecido fora de seu reduto atual, ouvir propostas e angariar apoio dentro da legenda. Ele também iniciou conversas com representantes de PSB, PSD, Cidadania, MDB, PL, PP e DEM, já de olho em possíveis alianças.
Além de Leite, também devem concorrer nas prévias o governador de São Paulo, João Doria, o senador Tasso Jereissati e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgilio.
O governador do Rio Grande do Sul adiantou que, se for o candidato do PSDB ao Planalto e for eleito, não concorrerá à reeleição. A postura é semelhante à adotada por ele na prefeitura de Pelotas e no governo do Estado - para o qual ele reafirmou que não buscará novo mandato, mesmo que seja derrotado nas prévias do PSDB.
"Eu sou crítico da reeleição. No nosso sistema político, acabou se transformando num problema pelas negociações que se impõem dentro dos governos pela sucessão", disse Leite. "Não concorrerei à reeleição como governador, como já anunciei, e se um dia tiver o privilégio e a honra de ocupar a Presidência da República, digo também desde já que não concorrerei à reeleição", acrescentou.