Ao contrário do que indicava a maior parte das pesquisas eleitorais, Donald Trump foi o grande vencedor das eleições presidenciais dos Estados Unidos. Seu desempenho foi marcado por uma vitória com folga na disputa contra a democrata Kamala Harris: ele foi o primeiro candidato republicano em duas décadas a vencer no Colégio Eleitoral e no voto popular.
Para Magno Karl, cientista político e diretor executivo dos Livres, os resultados mostram um triunfo dos republicanos sobre os democratas em muitas áreas. O principal motivo? A economia. "O índice de preços nos EUA subiu mais nos últimos quatro anos do que o índice dos salários, então as pessoas se sentem mais pobres do que quando Biden assumiu o poder", explica.
Mas o buraco é mais embaixo. Na avaliação do especialista, o partido de Kamala não conseguiu energizar seus eleitores rumo às urnas - e pagará o preço por isso. Os republicanos conseguiram conquistar maioria no Senado, e estão cada vez mais próximos do controle sobre a Câmara.
"Isso é também uma derrota política das grandes pautas democratas, que foram solapados pelo avanço dos republicanos em grupos nos quais os democratas exerciam certo domínio", alerta Karl. "Trump teve o menor índice de apoio de eleitores brancos de muitos anos, e mesmo assim conseguiu vencer com uma vantagem bastante significativa. Em outras palavras, ele avançou com os eleitores não brancos, que os democratas consideravam ser a sua base eleitoral mais numerosa".
As pesquisas erraram?
Esta não é a primeira vez que as pesquisas eleitorais subestimam o desempenho de Donald Trump. Em 2016, na contramão dos estudos, o político derrotou Hillary Clinton. A explicação de Karl para o fenômeno que se repete é a estimativa a respeito do número de eleitores, já que o voto não é obrigatório nos Estados Unidos. "Pode ser que o descolamento entre as pesquisas e o resultado da eleição seja um problema de verificação da presença do eleitor às urnas. As pesquisas acabam por entrevistar eleitores, nesse caso, urbanos e escolarizados que tendem a votar em Kamala Harris. Esses métodos tendem a subestimar os votos em áreas rurais, que costumam ser republicanos".
Trump processado
Quanto aos processos vigentes contra o político, Karl alerta que o presidente deve receber imunidade na esfera federal por tradição na legislação estadunidense. Por outro lado, nos processos estaduais a história é outra. Pode ser que, nos casos como o da Geórgia, que está relacionado a uma suposta atuação para subverter a derrota nas eleições de 2020, Trump seja investigado, julgado e condenado. Ainda assim, "não há um entendimento estabelecido por todas as partes".
Como será o segundo mandato de Trump?
O que podemos esperar para o próximo mandato de Trump é muito barulho, de acordo com o cientista político. "Vamos ver muitos posts polêmicos e pouca descrição, diferentemente de Joe Biden", analisa. "As políticas vão estar mais voltadas para o centro, e para os interesses desse eleitorado do Trump - que é o desemprego nos Estados Unidos, a perda de renda do trabalhador americano, e o sumiço dos trabalhos industriais". Por isso, prevê Karl, o prognóstico é de um país mais antiglobalizado e protecionista nos próximos quatro anos.