Em um evento preparado para lançar sua pré-candidatura --mas que teve o nome trocado para não afrontar a legislação eleitoral-- o presidente Jair Bolsonaro deu o tom do que pretende em sua campanha: uma luta do bem contra o mal, em que ele seria o bem e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT, o mal, em uma fala que voltou a fazer insinuações de ações pouco democráticas.
"Essa é a nossa terra, nosso inimigo não é externo, é interno. Não é uma luta da esquerda contra a direita, é uma luta do bem contra o mal. E vamos vencer essa luta porque estarei sempre à frente de vocês", disse.
Principal rival de Bolsonaro, Lula --em primeiro lugar em todas as pesquisas eleitorais-- foi citado diversas vezes, mas não pelo nome. Chegou a ser chamado de "Barrabás de 9 dedos" pelo locutor de rodeio Cuiabano Lima, que fazia às vezes de apresentador, em um evento em que a religião e as orações tiveram presença central, numa referência ao personagem bíblico que escapou da crucificação no lugar de Jesus Cristo.
"Se é para defender a nossa democracia e nossa liberdade, eu tomarei a decisão contra quem quer que seja. E a certeza do sucesso é que eu tenho um exército ao meu lado. E este exército é composto de cada um de vocês", discursou Bolsonaro.
O encontro, em um centro de eventos de Brasília, foi anunciado pelo PL como lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro. Nos últimos dias, no entanto, por aconselhamento dos advogados do partido, o título foi mudado para "Filia, Brasil", já que o lançamento da pré-candidatura poderia configurar propaganda antecipada.
No entanto, de filiação apenas foi feito o anúncio dos nomes dos ministros da Cidadania, João Roma --pré-candidato ao governo da Bahia-- e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, que busca uma vaga de deputado federal. No sábado, em um de seus passeios de moto, o próprio presidente chamou populares para seu evento de "pré-candidatura".
Com uma platéia de camisetas verde-amarela, o evento foi centrado em mostrar Bolsonaro como o "capitão do povo", com vídeos e fotos mostrando suas viagens e motociatas.
Apesar do esforço do partido, que trouxe ônibus de outras cidades, o centro de eventos não lotou. Na plateia, entusiasmada, podiam ser vistos grandes vazios.
Já o palco estava lotado, com pelo menos 15 dos 23 ministros, além do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, e outros parlamentares.
Uma ausência notada foi a do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, hoje o nome mais cotado para ser o candidato a vice na chapa de reeleição.
Segundo uma fonte com conhecimento do assunto, no entanto, a ausência não significa dúvidas sobre a escolha. Tudo teria sido coordenado com a equipe de campanha e o próprio Bolsonaro, que deseja anunciar a chapa apenas no final do período permitido para isso, em agosto.
Ao lado do presidente estavam, além da primeira-dama Michelle, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. Ambos já foram cotados para a chapa, mas teriam sido descartados.
"Garanto a vocês que o ministério do presidente que tanto admiram só tem uma diferença em relação a alguns que passaram por aí: nós acreditamos no Brasil, não podemos deixar de acreditar. A segurança institucional já foi ofendida, jogada pela janela, várias vezes. Estou quieto, vamos aguardar o fim desse filme que tenho certeza que será glorioso", discursou Heleno.
Durante o evento não houve menções diretas a pré-candidatura, mas o próprio presidente insinuou sua intenção de permanecer a frente do governo.
"O que nós queremos, juntamente com muitos que estão aqui, é deixar e entregar o comando deste país lá na frente, bem lá na frente, por um critério democrático, transparente o país bem melhor do que recebi em 2019", disse.
O discurso foi recheado de insinuações sobre temas que alimentam o bolsonarismo radical, como críticas, ainda que veladas, à urna eletrônica, e a uma suposta ditadura do Judiciário.
"Por Deus, às vezes me embrulha o estômago jogar nas quatro linhas, mas eu jurei respeitar a Constituição. Vocês têm obrigação de fazer quem esteja fora das 4 linhas, volte", discursou.