'Em nove capitais eu sou PL, mas em São Paulo, sou Nunes', diz Bolsonaro em tímido apoio

Ex-presidente participou de sua primeira agenda com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, a cinco dias do segundo turno

22 out 2024 - 14h18
(atualizado às 18h30)
‘O melhor para São Paulo é a continuidade de Nunes’, diz Bolsonaro em discurso ao lado do prefeito
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A cinco dias do segundo turno das eleições municipais, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de sua primeira agenda ao lado de Ricardo Nunes (MDB) durante almoço em São Paulo nesta terça-feira, 22, em uma churrascaria no bairro do Morumbi. Bolsonaro confirmou o apoio a Nunes em um discurso tímido, breve e objetivo.

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A churrascaria foi fechada para o almoço com aliados, empresários e lideranças como o ex-presidente Michel Temer (MDB), o deputado federal Baleia Rossi (MDB) e o senador Rogério Marinho (PL). Promovido pela Confraria CAVES, sob a presidência de Fausi Hamuche, o evento vendeu ingressos a R$ 150 e reuniu em torno de 500 pessoas.

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Se no interior do restaurante, apoiadores ansiosos aguardavam Bolsonaro, do lado de fora, a recepção foi sob protestos, ao som de "inelegível", entoado pelos participantes do ato 'contra o bolsonariso em São Paulo'.

Jair Bolsonaro em agenda de Ricardo Nunes
Jair Bolsonaro em agenda de Ricardo Nunes
Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA / Estadão

Bolsonaro, que já chegou a dizer que Ricardo Nunes não era o seu candidato dos sonhos, fez um discurso curto, objetivo e sem grandes elogios ao emedebista. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-presidente Michel Temer receberam mais exaltações de Bolsonaro do que o próprio Nunes.

"A campanha aqui não é minha, é do nosso prezado Nunes. Temos uma jornada pela frente ainda (...) O voto de todos nós tem que ser contado. Sabemos que [o número de] abstenções é grande. Devemos participar, por convicção, por entendimento, que o melhor para São Paulo é a continuidade de Ricardo Nunes. Boa sorte, Ricardo. Estou torcendo pro você e pelo nosso Brasil", declarou.

"Em nove capitais eu sou PL [Partido Liberal], mas, em São Paulo, sou Nunes [que é do MDB]", acrescentou o ex-chefe do  Executivo.

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Bolsonaro ainda aproveitou o evento para alfinetar seu adversário no cenário nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Quem é o substituto do Lula no Brasil? Não tem, mas de Bolsonaro tem um montão por aí", afirmou, dizendo ainda que ele é o "ex mais amado do Brasil". 

Ao lado do ex-presidente, Tarcísio disse ainda que em 2026 o presidente é Bolsonaro -- apesar de ele estar inelegível pela Justiça Eleitoral -- e que o PT só conseguiu eleger prefeito em três prefeituras no Estado de São Paulo, e está disputando segundo turno em apenas três dos 645 municípios. "Estamos varrendo a esquerda do Estado de São Paulo", celebrou.

Elogios a Bolsonaro

Nunes disputará o pleito da capital paulista contra Guilherme Boulos (PSOL) no próximo domingo, 27. O atual prefeito fez questão de agradecer a presença do ex-presidente no evento e disse que tem uma parceria com Bolsonaro desde 2021, quando o então presidente do Brasil perdoou uma dívida bilionária de São Paulo.

"Levei a ele uma das demandas mais importantes da cidade. Eliminar uma dívida de R$ 25 bilhões, onde nos pagávamos todo o último dia do mês, R$ 280 milhões. O presidente me convidou para ir até Brasília. Assinamos o acordo, evidentemente, que requereu o trabalho de toda a equipe. (...) A cidade de São Paulo deixou de pagar R$ 280 milhões [mensais] e passou a aplicar o valor nas obras de infraestrutura, principalmente nas periferias", afirmou.

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O tímido apoio de Bolsonaro a Ricardo Nunes é um dos 'tabus' da campanha do emedebista. Ao ser questionado sobre isso, o ex-presidente respondeu mais uma vez de forma protocolar, justificando a ausência devido a compromissos com outras campanhas.

O grande padrinho de campanha de Nunes, Tarcísio também discursou. E, diferente de Bolsonaro, apresentou mais energia em seu discurso, cobrando também mais empenho na candidatura na última semana de campanha.

Tarcísio, por sua vez, foi mais enérgico. Declarou apoio a Nunes e cobrou mais empenho na candidatura na última semana de campanha.

Já na no almoço, Nunes e Bolsonaro conversaram pouco. Nesta noite, eles devem participar de um culto evangélico na Igreja Sara Nossa Terra.

Clima de 'já ganhou'

Ao chegar a churrascaria, o ex-presidente Temer disse que a eleição já está quase ganha."Não ganhamos a eleição ainda, mas é claro que já pré-ganhamos. Basta verificar as pesquisas de ontem e hoje", disse.

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O emedebista disse que viajaria dia 26, mas como as eleições são no dia 27, adiou a viagem para poder votar em Nunes. "Ia fazer uma palestra no exterior dia 26 à noite. Falei: 'Não, senhor, quero ter a honra e satisfação de, no dia 27, votar em Ricardo'".

Protestos 

Mais cedo, o almoço entre o ex-presidente e o candidato à reeleição foi alvo de protestos. Manifestantes da Frente Povo Sem Medo, do Movimento Brasil Popular e da Bancada Feminista do PSOL vaiaram os políticos em frente à Fazenda Churrascada. "[O prefeito] não deveria estar em uma churrascaria esbanjando comida cara, sem conversar com a população e de portas fechadas", disse uma das líderes do protesto.

Sob protesto, Nunes se reúne com Bolsonaro, Tarcísio e Temer em reta final de campanha em SP
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O candidato Guilherme Boulos também criticou a realização do evento: "Enquanto Nunes participa de um banquete com Jair Bolsonaro, o candidato Guilherme Boulos almoçou com a população de rua durante visita ao projeto Cisarte. Neste exato momento, meu adversário está almoçando num banquete com Jair Bolsonaro e um grupo de empresários. Isso é simbólico. Esses dois almoços são simbólicos do que está em jogo nesse segundo turno".

Bolsonaro diz que Marçal causou ‘dor de cabeça enorme’ 

Durante o evento, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda comentou sobre o impasse que teve com Pablo Marçal (PRTB), que foi adversário de Nunes e ficou em 3º lugar no primeiro turno das eleições municipais pela Prefeitura de São Paulo. O ex-coach chegou a insinuar que Bolsonaro o apoiava e, segundo o ex-presidente, a situação gerou uma “dor de cabeça enorme”. Ao ser perguntado se pediria desculpas públicas a Marçal, como solicitado por ele, Bolsonaro riu.

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“Eu fiquei sabendo que ele teria colaborado com pouco mais de R$ 100 mil na [minha] campanha. Eu fiquei sabendo quando ele falou isso aí. Se eu faço uma doação pra você, não vou querer cobrar nada de volta de você. Doação é do coração. Se ele fez pensando em algo lá na frente, fez errado”, começou Bolsonaro, explicando sua relação com Marçal. 

Segundo Jair Bolsonaro, há três meses ele teve uma reunião reservada apenas com Pablo Marçal. De lá, segundo o ex-presidente, o então candidato à Prefeitura de São Paulo saiu dizendo que ele iria apoiá-lo. “E quando o [jornal] O Estado de S. Paulo publica matéria, repercute todo Brasil. O pessoal da direita achou que eu estava apoiando ele. Mas não estava. Não é verdade. Então, lamentavelmente, isso aconteceu e depois foi uma dor de cabeça enorme pra gente mostrar que nosso candidato já era quem vinha dando certo”, disse, referindo-se à Nunes. 

Marçal, que rachou a maior parte do eleitorado de São Paulo com Nunes e Guilherme Boulos, não apoiou o atual prefeito no segundo turno. Para repensar a estratégia, ele elencou uma longa lista de pessoas que terão que se desculpar e se retratar publicamente pela forma que o trataram e desmentir supostas acusações. Ele citou o ex-presidente Jair Bolsonaro, Ricardo Nunes e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

A lista também se estendeu ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), que é filho do ex-presidente, e ao líder religioso Silas Malafaia. E, ainda segundo Marçal, as desculpas terão que ser formais: “Não vou aceitar pelo telefone”.

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Na agenda de Nunes, quando questionado se aceitaria o pedido de Marçal e lhe pediria desculpas, Bolsonaro deu risada e não respondeu. 

Primeiro turno em São Paulo

Nunes, Marçal e Boulos -- que agora disputa o segundo turno das eleições com o atual prefeito -- protagonizaram o primeiro turno mais acirrado da história de São Paulo. Pablo Marçal não superou Boulos por menos de 1%. Com eles e Nunes disputando voto a voto, o resultado para o segundo turno se deu apenas com 99,52% das urnas apuradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por volta de 21h do domingo, 6.

Agora, com Nunes no segundo turno, o ex-presidente Bolsonaro diz estar feliz. “Se Deus quiser, se comprovado agora no próximo domingo, São Paulo terá quatro anos de um bom governo bem entrosado com o governo do Estado”, declarou, ao lado de Nunes e do governador Tarcísio.

Fonte: Redação Terra
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