Empatados nas pesquisas, Boulos e França disputam voto útil da esquerda no 1º turno

Com 8% e 7% na última pesquisa Ibope, dois candidatos estão em situação de empate técnico. Candidato do PSB diz ter mais chance no 2° turno; já o concorrente do PSOL lembra ligação do adversário com PSDB e Bolsonaro

12 out 2020 - 11h30
(atualizado às 17h30)

Enquanto Celso Russomanno (Republicanos) e Bruno Covas (PSDB) aparecem nos primeiros lugares nas mais recentes pesquisas de intenção de voto, Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França brigam pelo voto útil da esquerda. Nessas primeiras semanas de campanha eleitoral, os dois tentam provar ao eleitor mais alinhado com as pautas da esquerda que merecem receber seu voto, já que outros candidatos deste campo político, como Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PCdoB) aparecem com 1% da prefêrencia dos entrevistados na última pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo. No levantamento, Boulos tem 8% e França, 7%. Como a margem de erro é de três pontos porcentuais para mais ou para menos, estão empatados tecnicamente.

Nesta segunda-feira, 12, após participar de uma missa no Santuário Nossa Senhora de Fátima, na zona oeste de São Paulo, França se colocou como opção para este eleitorado. "Lá na frente todo mundo acaba se juntando pela circunstância no voto mais útil da esquerda. Os outros candidatos do campo da esquerda têm mais dificuldade de vencer no 2° turno. As pessoas vão naquele que tem mais chance", disse França.

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A declaração gerou reação de Boulos, que participou de uma reunião com pais e mães de alunos da rede pública em Itaquera, na zona leste, na manhã desta segunda-feira, 12, e defendeu que ele está apto para combater, num eventual segundo turno, o que chama de "bolsodoria", uma referência ao lema utilizado na campanha de 2018 para designar os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e do governador João Doria (PSDB), que depois viria a romper com o presidente.

Indagado se incluiria França no rol de candidatos da esquerda, Boulos respondeu: "Depende do dia, né? Se no dia ele resolver ir para São Vicente tirar foto com o Bolsonaro, não. Se no dia ele resolver apoiar o João Doria para prefeito, não. Se no outro dia ele resolver ser progressista, muito bom. O problema do Marcio França é esse. É uma biruta de aeroporto", declarou o candidato, lembrando que França participou de uma visita de Bolsonaro à cidade do litoral paulista em 7 de agosto e que foi vice do tucano Geraldo Alckmin.

O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos participa de encontro com mães e pais de alunos em Itaquera, zona leste
O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos participa de encontro com mães e pais de alunos em Itaquera, zona leste
Foto: Divulgação / Estadão

"É uma coisa muito da política tradicional, de quem faz política não por princípio ou por valores mas por oportunidade. Se ele viu uma oportunidade de fisgar o eleitorado bolsonarista ele se aproxima do Bolsonaro. Se vê a oportunidade de fisgar o eleitorado tucano ele se aproxima do Alckmin como foi a vida toda. Se ele achar que pode fisgar o eleitorado de esquerda, começa a falar coisas de esquerda", completou Boulos.

Orlando Silva fez uma analogia parecida à de Boulos e comparou, também nesta segunda-feira, o candidato do PSB a um "camaleão". "É bom tomar cuidado com 'candidato camaleão', que está louco pra chegar no segundo turno para abraçar Bolsonaro", disse Silva ao Estadão. Ainda segundo o candidato, o primeiro turno de uma eleição não é hora de falar em "voto útil". Para ele, o eleitor deve escolher aquele candidato que considera o melhor. "E se ele não for ao segundo turno, vota por exclusão", concluiu.

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O PT diz que ainda é cedo para falar em voto últil na esquerda, mas avalia que França ficou com menos opções depois que Russomanno se lançou candidato atrelado ao bolsonarismo. "Eu não arriscaria falar de voto útil faltando 33 dias para a eleição. Mas Russomanno jogou água na estratégia do Márcio França ao se colocar de forma incisiva como candidato do Bolsonaro. Nunca acreditei que o França se posicionaria como candidato bolsonarista mas ele dava sinais para uma fatia deste eleitorado", disse o presidente municipal do PT e coordenador da campanha de Jilmar Tatto, Laércio Ribeiro.

Se candidatos como Boulos tentam colocar em dúvida o posicionamento de França no campo da esquerda, do outro lado do espectro político, nomes como Joice Hasselmann (PSL) dizem não haver discussão. "Márcio França de direita? Só se ele nascer de novo, é um comunista pintado de laranja", afirmou Joice, após participar de agenda na zona sul da capital paulista nesta segunda-feira, 12. "Ele se molda de acordo com aquilo que acha conveniente. É o 'Marcinho Ping-Pong', você nunca sabe para que lado está a bolinha."

Ao contrário de Boulos, Tatto e Silva, França vinha evitando fazer críticas contundentes ao Palácio do Planalto e centrou sua artilharia no governador Doria. "Nesse corte tradicional, sou do campo da esquerda", disse França nesta segunda-feira. "Minha posição histórica sempre foi de centro para esquerda", completou.

Sobre outros candidatos apontarem sua ligação com outros nomes da política, respondeu: "O Doria disse que eu era lulista. Hoje alguns dizem que fui bolsonarista. A verdade é que não tenho 'rabo preso' com ninguém."

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Ao analisar o cenário, o ex-governador disse que essa eleição é muito parecida com a de governador, em 2018. "Só que o Bruno (Covas) faz o papel do Doria, o (Celso) Russomanno do (Paulo) Skaf, eu o meu e nesse instante o (Guilherme) Boulos faz o papel do PT. Foi assim na última eleição. Fui subindo devagar e nos últimos dias passei o segundo colocado e fui para o 2° turno muito levado por aquela pessoa que gostaria que os dois campos (direita e esquerda) estivessem no 2° turno".

Em 2018, na primeira pesquisa Ibope após a oficialização da candidatura, em 20 de agosto, França aparecia com 5% da preferência do eleitorado. Sua intenção de voto foi subindo, até que ultrapassou Skaf e foi para o segundo turno com 21,53% dos votos válidos.

França ponderou, porém, que "esse assunto" de esquerda é muito falado no ambiente acadêmico, mas a população mesmo quer saber se a escola vai funcionar. "Essa é uma discussão acadêmica de um campo mais politizado".

Sobre o desempenho dos adversários deste campo, o ex-governador disse acreditar que Tatto vai crescer e lembrou que na última eleição o candidato a governador do PT, Luiz Marinho, teve 16% dos votos no primeiro turno. "Não é uma votação desprezível. O PT tem potencial. Em 2018 a somatória do PT e PSOL foi 19%. Vamos ter uma divisão de quatro pedaços. A partir da TV é que a coisa começa a esquentar. A TV está produzindo o resultado que a gente imaginou."

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