A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) informou nesta segunda-feira que acionará na Justiça o candidato a presidente da República Levy Fidélix (PRTB) por declarações homofóbicas feitas ontem à noite durante debate na TV Record. Para a entidade, que é hoje a maior rede LGBT da América Latina, com 308 organizações afiliadas, o candidato adotou um “discurso de ódio” e “só não saiu do estúdio da emissora direto para a cadeia porque a homofobia ainda não foi criminalizada”.
As considerações foram feitas pelo presidente da ABGLT, o jornalista Carlos Magno Fonseca, que lamentou considerações de Levy sobre relacionamento homoafetivo, as classificou como criminosas e disse que a assessoria jurídica da associação está estudando que tipo de medida judicial ingressará.
“Lamentamos que um momento tão importante para o País, que é o debate presidencial, tenha esse tipo de declaração ignorante, homofóbica e fundamentalista e de ódio contra a população LGBT”, afirmou Fonseca, que completou: “Vamos acionar o candidato judicialmente porque ele cometeu vários crimes. Se o País tivesse uma lei que combatesse a homofobia, ele sairia do debate direto para uma cadeia” avaliou.
No debate, o presidenciável associou a homossexualidade ao crime de pedofilia e defendeu que gays sejam submetidos a tratamento psicológico "bem longe daqui". As colocações foram feitas em resposta a Luciana Genro (PSOL), que citara a violência sofrida pela população LGBT e perguntara a Levy que motivos levariam as pessoas que “defendem a família se recusam a reconhecer como família um casal do mesmo sexo."
"Aparelho excretor não reproduz”, respondeu o candidato, que rechaçou o voto de quem defende a união homossexual. “Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto. Vamos acabar com essa historinha. Eu vi agora o santo padre, o papa, expurgar, fez muito bem, do Vaticano, um pedófilo. Está certo!”, completou.
Ao falar, na réplica à resposta de Levy, sobre casamento igualitário, Luciana disse que a medida ajudaria a minimizar a violência contra os cidadãos LGBT. “Vai para a avenida Paulista, anda lá e vê. É feio o negócio, né? Então, gente, vamos ter coragem, nós somos maioria, vamos enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los”.
Para o presidente da ABGLT, a associação da homossexualidade com o crime de pedofilia afronta “questões que já por muito tempo estão superadas; vivemos em uma discussão hoje muito mais avançada”.
“Um sujeito que se propõe a ser presidente do País falar esse tipo de coisa mostra bem que o sistema político precisa de uma reforma urgente. Ele representa um segmento felizmente pequeno da sociedade, mas esse é um discurso de ódio que causa muita indignação”, observou. “Mais interessante e que nos dá esperanças é ver que a sociedade está rechaçando essa homofobia, esse conservadorismo”, concluiu.
Números da violência contra os LGBT
Segundo a AGBLT, a partir de dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, só ano passado o Disk 100 recebeu 9 mil telefonemas denunciando violência ou algum outro tipo e violação dos direitos da população LGBT. Além das denúncias, 2013 ainda registrou pelo menos 330 assassinatos contra homossexuais.
“Essa quantidade de assassinatos contra os LGBT mostra que a criminalização não é mais algo a ser defendido apenas pelos LGBT, mas também por Estado e sociedade, que têm que dar conta de resolver isso”, disse o presidente da ABGLT.