Restando pouco mais de duas semanas para as eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro declarou pela primeira vez nesta quinta-feira, 29, apoio ao prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), que busca a reeleição. Mas a menção, feita durante a live semanal pelo Facebook, foi rápida e sem nenhuma insistência, em meio a outros quatro candidatos a prefeito e quatro candidatos a vereador em outros municípios. Um dos citados foi o próprio filho do mandatário, Carlos Bolsonaro, que tenta se reeleger vereador na capital fluminense pelo mesmo partido do prefeito.
"Ajude aí o Carlos Bolsonaro a ser reeleito, que vai continuar me ajudando aqui em Brasília. Vira e mexe, leva pancada da imprensa, porque me ajuda", disse o presidente. Crivella foi o último a ser citado, e o presidente emendou: "Se não quiser votar nele, fique tranquilo, não vamos brigar entre nós por causa disso aí".
Antes de citar Crivella, Bolsonaro alertou para uma possível controvérsia.
"Um nome que dá polêmica, que o Rio de Janeiro sempre é polêmico, eu tô aqui com Crivella... Conheço ele há muito tempo, foi deputado federal comigo, depois foi senador, prefeito do Rio de Janeiro, é autor de uma proposta de emenda à Constituição tem uns sete, oito anos, que passou a permitir que os militares das Forças Armadas pudessem exercer também a profissão de saúde, fosse médico, enfermeiro, pudesse acumular. Foi tenente do Exército, serviu no Batalhão de Barra Mansa, na época, mas (...) tô pedindo voto pela administração no Rio de Janeiro", disse o presidente.
Em seguida, Bolsonaro fez menção a dois adversários do atual prefeito.
"Tem mais dois nomes concorrendo, uma lá que é do partido X, o tal do Ciro Gomes falou que, se ela ganhar, vai ser chefe da Casa Civil dela, terrível né?", afirmou Bolsonaro, sem citar expressamente a candidata Martha Rocha (PDT) e atribuindo uma declaração a Ciro. Martha está tecnicamente empatada com Crivella e com Benedita da Silva (PT) na mais recente pesquisa de intenção de voto.
Bolsonaro também se referiu ao ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que lidera as pesquisas. Chegou a elogiá-lo, embora sem citá-lo nominalmente.
"O outro eu não quero tecer críticas (sic), é um bom administrador, mas eu fico com o Crivella", afirmou. Fez então a ressalva: "Que não tenha muita polêmica não, se não quiser votar nele (Crivella), fique tranquilo, não vamos brigar entre nós por causa disso aí, que eu respeito os seus candidatos também".
Estagnado nas pesquisas e tecnicamente empatado com Martha e Benedita na segunda colocação, Crivella tem veiculado diversos vídeos em que associa sua imagem ao mandatário. O prefeito aparece com 13% das intenções de voto no levantamento do Datafolha divulgado na semana passada. Essa foi a mais recente das pesquisas feitas por grandes institutos. Martha também tem 13%, enquanto Benedita soma 10%. A margem de erro é de três pontos porcentuais para mais ou para menos, o que possibilita que se configure o empate técnico.
Com a maior taxa de rejeição entre os candidatos (58% dos pesquisados dizem não votar nele de jeito nenhum), o prefeito tem apelado para a associação a Bolsonaro, que tem o Rio como berço político. Em sua campanha, alega ter herdado dívidas da gestão do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). Também cita suposto superfaturamento em obras para a Olimpíada de 2016. Costuma ainda fazer menções a valores familiares, em aceno a setores mais conservadores da sociedade.
Quanto a feitos da própria administração, Crivella divulga programas específicos e até então pouco conhecidos do eleitorado. Um deles virou até piada e motivo de críticas nas redes sociais ao longo desta semana. A campanha publicou um vídeo sobre o programa Orelhinha Bonitinha. No anúncio, crianças que tinham a chamada "orelha de abano" contavam que a prefeitura promoveu cirurgias estéticas para diminui-las. Com isso, elas teriam deixado de sofrer bullying na escola.
O apoio declarado de Bolsonaro a Crivella foi antecipado nesta quarta-feira, 28, pelo deputado federal bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ), que participou de uma transmissão ao vivo com o prefeito. Até poucas semanas atrás, Otoni se declarava opositor do governo municipal e chegou a "prever" que o prefeito seria preso no futuro. Em meio à campanha eleitoral, no entanto, passou a apoiá-lo.
Segundo correligionários, Crivella vai a Brasília na sexta-feira (30) para se reunir com o presidente e gravar vídeos a serem exibidos durante a campanha eleitoral. Na live desta quinta-feira Bolsonaro não fez nenhuma menção a essa reunião. Falou que estaria com um candidato a prefeito de Santos.
A tentativa de Crivella de se associar ainda mais a Bolsonaro vai na contramão do que tem feito, nos últimos dias, o candidato à prefeitura de São Paulo Celso Russomano, também do Republicanos. Depois de concluir que a estratégia de colar sua imagem à do presidente provocou queda de intenções de voto, deixou de citá-lo em seus materiais de campanha. Também passou a atacar o prefeito Bruno Covas e o governador João Doria, ambos do PSDB. Em São Paulo, a rejeição a Bolsonaro é maior do que no Rio.
Candidatos a vereador
Antes de exibir papéis com fotos e números dos candidatos para quem pediu votos, Bolsonaro alegou que sua participação na campanha eleitoral deste ano seria "muito discreta".
Em seguida, usou a transmissão para fazer propaganda para os candidatos a vereador Deilson Bolsonaro (Republicanos), de Boa Vista; seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos), no Rio; e Sonaira Fernandes (Republicanos) e Clau de Luca (PRTB), em São Paulo. Ao lado do presidente na live, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), citou a candidata a vereadora em Campo Grande Subtenente Edilaine (DEM).
Bolsonaro também pediu votos para os candidatos a prefeito Ivan Sartori (PSD), que é ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), em Santos (SP); o ex-superintendente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) Coronel Menezes (Patriota), na capital amazonense; e o deputado estadual Bruno Engler (PRTB), em Belo Horizonte.
Além dos pedidos, o presidente fez ainda propaganda negativa contra o PCdoB. Primeiro, lembrou sua viagem nesta quinta ao Maranhão, para dizer que o governo estadual de Flávio Dino (PCdoB) estaria ajudando a "deteriorar" indicadores que Bolsonaro não especificou. "Podemos pensar, em 2022, em uma candidatura que afaste o atual governador do PCdoB", disse.
Ele também fez referência indireta à candidata a prefeita de Porto Alegre Manuela D'Ávila (PCdoB), alegando que votar em uma candidata da sigla seria "o fim da picada". Bolsonaro, contudo, não pediu voto para nenhum adversário da candidata a vice-presidente em 2018 na chapa de Fernando Haddad (PT).