No momento em que a pauta dos direitos LGBT invade a cena política e o discurso dos principais candidatos à Presidência, um evento, na zona norte do Rio, tenta chamar a atenção para o tema. A movimentação dos presidenciáveis em torno do assunto invadiu as mesas da Semana da Diversidade Sexual da Maré, que acontece desde segunda-feira e vai até domingo num dos principais complexos de favelas da cidade. “O que está em questão não é a fé, o céu ou o inferno, e sim o direito da vida das pessoas”, defende Eduardo Alves, diretor do Observatório de Favelas, ONG responsável pela realização do evento.
De um lado, olhares atentos para a candidata Marina Silva (PSB), que recuou em pontos do seu programa de governo, como o que defendia o casamento entre homossexuais. De outro, atenção máxima à presidente Dilma Rousseff que, aproveitando o mal-estar causado pelo recuo de Marina, saiu em defesa de leis mais rígidas de combate à homofobia. Para o diretor da ONG, a candidatura da ex-senadora do PSB “cresce conservadora” tanto pelo apoio dos pastores evangélicos quanto por um suposto acordo fechado por parte do PSDB do presidenciável Aécio Neves, que patina nas pesquisas.
O diretor da ONG acredita que o que está em pauta são os direitos civis e não uma questão moral que passe por conceitos de pecado e escolha sexual: “É simples: se homem e mulher podem se casar, dois homens também podem, duas mulheres também podem. São direitos civis”. Na visão dele, o Estado tem que se posicionar, porque são essas pessoas as mesmas que são alvos frequentes de violência física motivada pelo preconceito.
Também na organização do evento, a diretora do grupo Conexão G de Cidadania LGBT Moradoras de Favelas, Gilmara Cunha, não tem muita esperança de que o debate atual sirva para garantir direitos. “Não existe comprometimento dos candidatos. É por isso que acontecem coisas como o recuo da Marina, por exemplo”. Gilmara, que é transexual, também questiona a postura da presidente Dilma de só agora atacar, com mais veemência, a homofobia. “Se ela não teve comprometimento enquanto presidente, não faz sentido dizer o que disse agora”.
Uma das principais críticas de grupos LGBT ao mandato da presidente Dilma tem sido, justamente, a sua postura de recolhimento e pouca exposição na defesa dos direitos dos homossexuais. A instituição da união civil e do casamento entre pessoas do mesmo sexo só foi conseguida graças à ação do Supremo Tribunal Federal (STF). Poucos projetos para essa parcela da sociedade foram aprovados no Congresso Nacional, que age sob forte influência da bancada religiosa, contrária, em parte, até mesmo à criminalização da homofobia.