A Gerdau considera o resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos, com vitória do republicano Donald Trump e controle do partido dele sobre o Senado do país, como positivo para a demanda de aço na América do Norte, uma das principais operações da companhia.
O vice-presidente financeiro do grupo siderúrgico, Rafael Japur, afirmou que a postura mais protecionista de Trump deve favorecer os produtores internos de aço dos EUA e a valorização do dólar como consequência disso deve tornar mais difícil a entrada de produtos importados no Brasil.
As ações do grupo lideravam as altas do Ibovespa nesta quarta-feira, avançando mais de 6% por volta do meio-dia, enquanto as rivais listadas Usiminas e CSN, que têm operações siderúrgicas mais concentradas no Brasil, recuavam cerca de 3% e 4%, respectivamente.
O movimento das ações também é apoiado em parte por um resultado ligeiramente acima do esperado pelo mercado divulgado pela Gerdau na noite da véspera, com lucro ajustado de 1,4 bilhão de reais.
"Estruturalmente, para nós, é positivo um dólar mais forte. No Brasil, importações ficam mais caras e mais difíceis de entrar...Além disso, temos uma exposição mais positiva com dólar valorizado", disse o executivo, em entrevista a jornalistas, citando ainda que o câmbio valorizado tende a favorecer exportações brasileiras.
Japur se referiu à base produtiva da Gerdau no Brasil, mais voltada à rota elétrica que usa mais como insumo a sucata que minério de ferro e carvão dolarizados como ocorre em outros grupos siderúrgicos.
O executivo afirmou que atualmente as exportações da Gerdau a partir do Brasil são "insignificantes" e que "boa parte" da produção local da companhia é dedicada ao mercado interno atualmente. Essa produção local será reforçada a partir de janeiro com a entrada em operação de um laminador de bobinas a quente de 1,55 bilhão de reais com capacidade de 250 mil toneladas por ano e que deverá ter processo de elevação de produção ao longo do primeiro semestre de 2025, disse Japur.
No terceiro trimestre, a Gerdau obteve 37,7% de seu resultado operacional medido pelo Ebitda ajustado na América do Norte, onde a empresa tem operações produtivas nos EUA, Canadá e México. A participação das operações brasileiras foi 37,2%.
A eleição de Trump, porém, deve reforçar a necessidade do Brasil em ampliar suas medidas de proteção comercial contra importações de aço da China, disse o presidente-executivo da Gerdau, Gustavo Werneck.
Segundo ele, o Brasil tem que encerrar a cota 30% maior que a média histórica de importação de aço sem tarifa adicional, cobrar "pelo menos 35%" de sobretaxa sobre aço chinês e incluir todos os produtos siderúrgicos brasileiros na medida de proteção - e não apenas os 15 que foram alvo de ações do governo federal neste ano.
A urgência, segundo Werneck, é que, com o esperado reforço na proteção comercial dos EUA no segundo governo Trump, o aço que era encaminhado ao país será desviado para outros destinos, incluindo o Brasil. "A China tem colocado aço (no Brasil) mesmo pagando esses 25% (de sobretaxa)", disse Werneck.
O Brasil decidiu em abril elevar para 25% o imposto de importação de 11 produtos de aço e estabelecer cotas de volume de importação para esses produtos. A ação, com duração de um ano, foi ampliada mais tarde com mais quatro produtos.
De janeiro ao final de setembro, a importação de aço pelo Brasil somou 4,6 milhões de toneladas, alta de 24% sobre um ano antes e praticamente a capacidade de produção anual de uma siderúrgica como a Ternium Brasil, no Rio de Janeiro.