Um dos principais apoiadores da campanha de Marina Silva (PSB), o cantor e compositor Gilberto Gil foi a estrela do encontro entre a presidenciável e artistas na noite de quarta-feira no Rio. No evento, realizado na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, o ex-ministro da Cultura durante parte do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva presenteou a amiga com uma composição que deverá ser utilizada na reta final da campanha.
Gil não só anunciou o presente, como cantou toda a letra da música, que, num ritmo de cantiga de roda, fala sobre o sonho de ver “a menina chegar” e de uma candidata que vai “escutar a nossa voz”. O músico baiano foi acompanhado nas palmas pela plateia, que contou, entre outros, com os atores Marco Nanini, Marcos Palmeira (um dos organizadores do encontro) e Otávio Miller, da produtora e diretora Bia Lessa, do artista plástico Ernesto Neto e do cineasta Silvio Tendler.
Gilberto Gil, que chegou ao evento acompanhado do músico e tropicalista Jorge Mautner, avaliou como naturais as críticas pesadas que a candidata vem recebendo dos adversários na disputa ao Palácio do Planalto. “São os vícios da política que sempre corre o risco do viés reducionista de usar meios não muito civilizados. A política não tem a grandeza da arte”, afirmou o cantor, que não vê qualquer constrangimento de um ex-ministro de Lula apoiar uma adversária do PT.
Ele também descartou a possibilidade de ocupar qualquer espaço em um eventual governo de Marina Silva. O papel seria, no máximo, de aconselhamento. Gil acredita que o clima de embate entre os três principais candidatos (além de Marina, Dilma Rousseff e Aécio Neves) tende a se arrefecer num segundo turno e que a angústia em função da possibilidade da derrota leva ao atual clima.
Muito mais descontraída do que de costume, Marina falou por 50 minutos e chegou a fazer brincadeiras até mesmo com a questão da religiosidade, de que tanto é alvo de críticas. “Era igreijeira”, brincou, ao falar da juventude e adolescência. Depois de ouvir a música composta por Gilberto Gil na voz do próprio amigo, contou histórias da infância, quando, ainda vivendo no Acre, só gostava de ouvir “música de seringal”. O gosto se ampliou apenas depois de ser apresentada à MPB do músico baiano e sua turma.
Mesmo após declarar que o ex-presidente Lula realizou a inclusão social no Brasil em seu governo, afirmou que os brasileiros, nesta eleição, querem uma nova oportunidade. “Esse País está dizendo agora que quer eleger uma presidente não com base na Carta aos Brasileiros, mas sim na Carta dos Brasileiros”. O comentário foi uma referência ao documento elaborado por Lula na sua primeira vitória, em 2002, que teve objetivo de acalmar os ânimos do mercado e de parte do eleitorado, que temiam uma mudança de rumo profunda na economia.
A reunião de artistas e intelectuais que apoiam sua campanha foi uma movimentação de Marina no mesmo sentido da que fazem seus principais rivais na corrida presidencial. Tudo para turbinar seus passes. Dilma recebeu apoio de cerca de cem artistas na última semana, em evento também realizado no Rio. Já Aécio, desde o início da campanha, e agora com mais ênfase, tem, do mesmo modo, usado a imagem de artistas e jogadores de futebol que o apoiam na corrida presidencial.